domingo, 18 de janeiro de 2015

PARADOXOS DO LIBERALISMO



Sistema falha em proteger seus valores 

SLAVOJ ZIZEK TRADUÇÃO CLARA ALLAIN
 
RESUMO Após os acontecimentos recentes na França, o filósofo esloveno Slavoj Zizek diz que é hora de pensar. Ele argumenta que o fundamentalismo é uma reação falsa e mistificadora contra o que seria uma falha real do liberalismo, cujos valores fundamentais precisariam ser " salvos" por uma "esquerda renovada". 

Agora, quando estamos todos em estado de choque após a orgia de mortes na redação do "Charlie Hebdo", é o momento certo para criarmos coragem para pensar. Agora, e não mais tarde, quando as coisas se acalmarem, como procuram nos convencer os proponentes da sabedoria barata: o difícil é justamente combinar o calor do momento com o ato de pensar. Pensar na calma e frieza do dia seguinte não gera uma verdade mais equilibrada; em vez disso, normaliza a situação, permitindo que evitemos enxergar o fio cortante da verdade. 

Pensar quer dizer avançar além do "páthos" de solidariedade universal que explodiu nos dias seguintes ao acontecimento e culminou no domingo, 11 de janeiro, com a visão de grandes nomes políticos de todo o mundo se dando as mãos, desde Cameron a Lavrov, de Netanyahu a Abbas. Se alguma vez houve uma imagem de falsidade hipócrita, foi essa. O verdadeiro gesto digno do "Charlie Hebdo" teria sido publicar em sua capa uma grande caricatura satirizando esse evento de modo brutal e de mau gosto, com desenhos de Netanyahu e Abbas, Lavrov e Cameron e outras duplas abraçando e beijando-se com paixão, ao mesmo tempo em que afiam facas pelas costas. 

Devemos, é claro, condenar os assassinatos inequivocamente, enxergando-os como um ataque contra a própria tessitura de nossas liberdades, e condená-los sem quaisquer condicionais ocultas (do tipo "mas o 'Charlie Hebdo' estava provocando e humilhando demais os muçulmanos"). Devemos rejeitar toda e qualquer referência semelhante a um contexto mitigador mais amplo: os irmãos atiradores foram profundamente afetados pelos horrores da ocupação americana do Iraque (ok, mas então por que não atacaram alguma instalação militar dos EUA, em vez de um semanário satírico francês?), os muçulmanos no Ocidente são uma minoria explorada e mal tolerada (os africanos negros são tudo isso, ainda mais, mas não detonam bombas nem matam) etc. 

O problema com tal evocação do pano de fundo complexo é que ele pode muito ser usado também com relação a Hitler: também ele conseguiu mobilizar a injustiça do tratado de Versalhes, mas, mesmo assim, foi plenamente justificado combater o regime nazista com todos os meios que tínhamos à disposição. O importante não é se as queixas que condicionam os atos terroristas são fundamentadas ou não. O importante é o projeto político-ideológico que emerge como reação contra injustiças. 

SUPEREGO Tudo isso não basta: precisamos pensar mais à frente, e esse pensar a mais não guarda nenhuma relação com a relativização simplista do crime (o mantra de "quem somos nós, no Ocidente, responsáveis por massacres terríveis no Terceiro Mundo, para condenar tais atos"). Tem menos relação ainda com o medo patológico que muitos esquerdistas liberais ocidentais têm de serem islamófobos. Para esses falsos esquerdistas, qualquer crítica ao islã é denunciada como expressão de islamofobia ocidental, Salman Rushdie foi denunciado por ter provocado os muçulmanos desnecessariamente, logo foi responsável (pelo menos parcialmente) pela "fatwa" que o condenou à morte etc. O resultado dessa posição é o que se pode esperar em tais casos: quanto mais os esquerdistas liberais ocidentais se afundam no sentimento de culpa, mais são acusados por fundamentalistas muçulmanos de serem hipócritas que tentam ocultar seu ódio pelo islã. Essa constelação reproduz perfeitamente o paradoxo do superego: quanto mais você obedece ao que o Outro exige de você, mais você é culpado. É como se, quanto mais você tolerasse o islã, mais forte fosse a pressão do islã sobre você. 

É por isso que também considero insuficientes os chamados por moderação na linha da afirmação feita por Simon Jenkins, no "Guardian" de 7 de janeiro, de que o que precisamos fazer é "não reagir exageradamente, não divulgar demais o dia seguinte ao acontecido. É tratar cada acontecimento como um acidente passageiro de horror". O ataque ao "Charlie Hebdo" não foi um mero "acidente passageiro de horror", ele seguiu uma agenda religiosa e política precisa e, como tal, evidentemente fez parte de um quadro muito maior. É claro que não devemos reagir exageradamente, se com isso se quer dizer sucumbir à islamofobia irrestrita. Mas precisamos analisar a fundo o quadro maior. 

Muito mais necessário, mais forte e mais eficiente que a demonização dos terroristas e sua retratação como fanáticos suicidas heroicos é desmistificar esse mito demoníaco. Muito tempo atrás Nietzsche percebeu como a civilização ocidental se deslocava na direção do Último Homem, um ser apático, destituído de grande paixão ou engajamento. Incapaz de sonhar, cansado da vida, ele não assume riscos, buscando apenas o conforto e a segurança, uma expressão de tolerância uns com os outros: "Um pouquinho de veneno de quando em quando: isso garante sonhos agradáveis. E muito veneno no final, para uma morte agradável. Eles têm seus pequenos prazeres para o dia e seus pequenos prazeres para a noite, mas se preocupam com a saúde. 'Descobrimos a felicidade', dizem os Últimos Homens, e piscam". 

Pode realmente parecer que a cisão entre o permissivo Primeiro Mundo e a reação fundamentalista contra ele segue cada vez mais as linhas da oposição entre viver uma vida longa e satisfatória, cheia de riqueza material e cultural, e dedicar a vida a alguma causa transcendental. Não seria esse antagonismo o mesmo que Nietzsche descreveu como a oposição entre o niilismo "passivo" e o "ativo"? Nós, no Ocidente, somos os Últimos Homens nietzschianos, imersos em estúpidos prazeres diários, enquanto os radicais muçulmanos se dispõem a arriscar tudo, engajados na luta até sua autodestruição. O poema "The Second Coming" (A segunda vinda), de William Butler Yeats, parece expressar nosso dilema atual à perfeição: "Falta aos melhores convicção, enquanto os piores /Estão cheios de ardor apaixonado" [em tradução de Péricles Eugênio]. É uma excelente descrição da divisão atual entre liberais anêmicos e fundamentalistas intensos. "Os melhores" não conseguem mais engajar-se plenamente, e "os piores" se engajam com o fanatismo racista, religioso e sexista. 

Mas será que os fundamentalistas terroristas realmente se enquadram nessa descrição? O que faz falta evidente a eles é um elemento que é fácil discernir em todos os fundamentalistas autênticos, desde budistas tibetanos até os amish, nos Estados Unidos: a ausência de ressentimento ou inveja, a indiferença profunda em relação ao modo de vida dos não crentes. Se os chamados fundamentalistas de hoje realmente acreditam ter encontrado o caminho que conduz à Verdade, por que se sentem ameaçados por não crentes, por que deveriam invejá-los? Quando um budista encontra um hedonista ocidental, ele não o condena. Apenas observa, com espírito gentil, que a busca de felicidade do hedonista encerra em si mesma as sementes de seu próprio fracasso. 

Em contraste com os verdadeiros fundamentalistas, os pseudofundamentalistas terroristas se sentem profundamente incomodados, intrigados e fascinados pela vida pecaminosa dos não fiéis. Percebe-se que, quando combatem o outro pecaminoso, estão combatendo sua própria tentação. 

É aqui que o diagnóstico de Yeats não cobre por completo a situação atual: a intensidade e paixão dos terroristas aponta para uma ausência de convicção real. Quão frágil deve ser a crença de um muçulmano se ele se sente ameaçado por uma caricatura estúpida publicada num semanário satírico? O terror fundamentalista islâmico não é baseado na convicção dos terroristas de sua própria superioridade e seu desejo de proteger sua identidade cultural-religiosa do ataque da civilização consumista global. O problema dos fundamentalistas não é que nós os consideremos inferiores a nós, mas que eles próprios, secretamente, se enxergam como sendo inferiores. Por isso nossas afirmações politicamente corretas de que não sentimos superioridade em relação a eles só os enfurecem mais, alimentando seu ressentimento. 

IDENTIDADE O problema não é a diferença cultural (o esforço deles para preservar sua identidade), mas o fato oposto de que os fundamentalistas já são como nós --que, em segredo, eles já internalizaram nossos padrões e já se medem por eles. Paradoxalmente, o que falta realmente aos fundamentalistas é precisamente uma dose daquela verdadeira convicção "racista" de sua própria superioridade. 

As vicissitudes recentes do fundamentalismo muçulmano confirmam a velha ideia de Walter Benjamin de que "cada ascensão do fascismo é testemunha de uma revolução falida": a ascensão do fascismo é a falência da esquerda, mas, ao mesmo tempo, uma prova de que existiu um potencial revolucionário, uma insatisfação, que a esquerda não conseguiu mobilizar. E a mesma coisa não se aplica ao chamado "islamofascismo" de hoje? A ascensão do islamismo radical não se correlaciona exatamente com o desaparecimento da esquerda secular nos países muçulmanos? Quando, na primavera de 2009, o Taleban assumiu controle do vale do Swat, no Paquistão, o "New York Times" informou que o grupo arquitetou "uma revolta de classes que explora divisões profundas entre um grupo pequeno de latifundiários ricos e os sem-terra que arrendam suas terras". Mas se o Taleban, ao "tirar vantagem" da situação dos camponeses, "gera preocupação com os riscos disso para o Paquistão, país ainda em grande medida feudal", o que impede democratas liberais no Paquistão e nos EUA de igualmente "tirar vantagem" da situação e tentar ajudar os camponeses sem-terra? A triste implicação é que as forças feudais no Paquistão são as "aliadas naturais" da democracia liberal. 

Então como ficam os valores fundamentais do liberalismo --liberdade, igualdade etc.? O paradoxo é que o próprio liberalismo não é forte o suficiente para proteger seus valores contra o ataque fundamentalista. O fundamentalismo é uma reação --uma reação falsa, mistificadora, é claro-- contra uma falha real do liberalismo, e é por isso que ele é gerado repetidas vezes pelo liberalismo. Deixado por conta própria, o liberalismo vai lentamente solapar a si mesmo; a única coisa capaz de salvar seus valores fundamentais é uma esquerda renovada. Para que esse legado crucial possa sobreviver, o liberalismo precisa da ajuda fraterna da esquerda radical. Essa é a única maneira de derrotar o fundamentalismo, de lhe tirar o chão. 

Pensar em resposta à matança de Paris quer dizer abandonar a autoconfiança arrogante de um liberal permissivo e reconhecer que o conflito entre a permissividade liberal e o fundamentalismo é, em última análise, um conflito falso --um ciclo vicioso de dois polos que geram e pressupõem um ao outro. O que Horkheimer disse a respeito do fascismo e do capitalismo já na década de 1930 --que quem não quer falar criticamente sobre o capitalismo também deveria se calar em relação ao fascismo-- também se aplica ao fundamentalismo de hoje: posso defender seu direito de publicar alguma coisa e ainda assim condenar o que você publica. Posso defender o que você diz e ainda dizer que está errado. 

 
Rezando pela cartilha

Não é o Ocidente que deve mudar, mas o islã 

JOÃO PEREIRA COUTINHO 

RESUMO Contra o texto do filósofo, o cientista político português defende a necessidade de mudança do islamismo por uma reforma que desvincule a vida cotidiana da religião. Para ele, a utopia de uma esquerda radical capaz de salvar o Ocidente da letargia do liberalismo aproxima-se dos ideais que moveram Hitler e Lênin. 

Slavoj Zizek tem razão: depois dos massacres de Paris, é preciso coragem para pensar. Mas alguém deveria ter explicado a Zizek que coragem, por vezes, não chega. É preciso ter algum material na massa cinzenta para realizar tal tarefa. 

O texto de Zizek alimenta as minhas dúvidas: ele é contraditório, historicamente relapso --e, no essencial, apenas debita a velha cartilha totalitária de que o "liberalismo", pela sua intrínseca "fragilidade", é uma presa fácil para o terrorismo islamita. Se eu tivesse lido o texto de Zizek sem conhecer a verdadeira autoria, diria que alguém tinha ressuscitado Carl Schmitt, o ilustre jurista do Terceiro Reich, e as suas considerações nefandas sobre a democracia liberal. 

Comecemos pelas contradições: Zizek recusa a litania de Nietzsche e de todos os seus imitadores menores (como Oswald Spengler ou Werner Sombart) de que o "declínio do Ocidente" se explica pelo seu rasteiro materialismo: nós, ocidentais, anestesiados pela afluência do capitalismo (sempre essa temível besta!), deixamos de ser "heróis" e de servir uma causa transcendente. Preferimos o conforto dos nossos "hobbies" infantis ao desafio homérico de nos superarmos em nome de um ideal. 

UTOPIA O problema é que Zizek afirma tudo isso --por outras palavras-- ao considerar as "virtudes burguesas" das democracias liberais, que na verdade são indissociáveis das sociedades capitalistas, como incapazes de proteger o Ocidente de predações islamitas. Só a esquerda radical pode insuflar no liberalismo decadente a dose certa de vigor político e moral, diz ele (sem rir). Como é evidente, Zizek limita-se a repetir o que qualquer revolucionário utópico --de Lênin a Hitler-- defendeu nos inícios do século 20 para justificar as suas utopias. Relembrar os resultados dessas utopias sangrentas seria apenas uma perda de tempo e de espaço. 

Mas Zizek não é apenas contraditório e pouco original. Historicamente falando, o seu texto é um pequeno desastre. Começa logo na escolha de certas palavras. Um exemplo: "fundamentalismo", que Zizek usa livremente, não é o mesmo que "radicalismo", muito menos que "jihadismo". Por mais bizarro que possa parecer a Zizek, é possível ser um fundamentalista islâmico (procurando a interpretação mais rigorosa do Corão) sem advogar a matança dos "infiéis". E é possível advogar a matança dos "infiéis" sem nunca ter lido o Corão na vida. Não é por acaso que os infelizes que partiram para o Iraque e para a Síria para lutarem em nome do Estado Islâmico fizeram do "Koran for Dummies" (corão para leigos) um best-seller da Amazon. 

Por outro lado, e ao contrário do que argumenta Zizek sem conhecimento de causa, o terrorismo islâmico não se limita a atacar as "democracias liberais" do Ocidente, muito menos as alegadas "fraquezas" que as definem. Para começar, a lista de países não ocidentais (e não "liberais") que o jihadismo atacou nas últimas décadas --Quênia, Arábia Saudita, Rússia, Argélia etc.-- desautoriza a tese simplória de Zizek. E ela é reduzida a pó quando sabemos, historicamente falando, que é a força da democracia liberal, e não a sua "fraqueza", que explica a loucura homicida e suicida dos terroristas. 

O historiador Bernard Lewis relembra esses fatos básicos: em finais do século 19, o desenvolvimento material das sociedades industrializadas do Ocidente contrastava com a estagnação das sociedades muçulmanas. Esse sentimento de atraso agravou-se com a desagregação do Império Otomano depois da Primeira Guerra Mundial, na medida em que Constantinopla, desde o século 16, pelo menos mantinha a unidade do Califado. 

Depois de 1918, é a força do Ocidente, e não a sua "fraqueza", que passa também a dominar politicamente o Oriente Médio --uma força que, aos olhos dos extremistas, adquire contornos assustadores. 

O parlamentar inglês Michael Gove, no seu breve tratado sobre a ameaça jihadista na Europa ("Celsius 7/7"), revisita esses contornos. Na década de 1920, quando Hassan al-Banna defende "a jihad como método e o martírio como desejo", o fundador da Irmandade Muçulmana revelava esse temor ante a "ocidentalização" do Egito. Um temor que seria continuado por Sayyid Qutb (seguramente o mais importante teórico sunita do islamismo radical) que, depois das suas viagens pelos Estados Unidos, deixou páginas pungentes de ódio à democracia liberal (e, em particular, às mulheres gostosas que ele viu por lá sem burca). 

É esse ódio que Osama bin Laden ou o sucessor Ayman al-Zawahiri destilam nas suas diatribes contra o Ocidente e os países árabes contaminados pela sua influência. O que inquieta esse par maravilha não é a "fraqueza" da democracia liberal. É, obviamente, a sua força e a sua capacidade de sedução. 

Por último, não deixa de ser sofrível que Zizek disserte com tanta autoridade sobre o fundamentalismo islâmico sem estabelecer uma diferença importante entre o jihadismo sunita e o milenarismo xiita. 

Uma vez mais, não é questão de pormenor. É não compreender que na tradição xiita, que teve no Irã o seu momento áureo com Khomeini na revolução de 1979, não há nenhum sentimento de inferioridade, como afirma Zizek sobre os terroristas em nova contradição: se a democracia liberal é um poço de fraquezas, como explicar os problemas de "autoestima" que afligem os terroristas? 

Obviamente, não há falta de autoestima alguma. Pelo contrário: como explica o mesmo Michael Gove no seu breve ensaio, Khomeini agiu com o mesmo sentido de superioridade vanguardista e de urgência revolucionária que Lênin exibira em 1917. Na Rússia analfabeta e rural dos czares, era preciso apressar a revolução, ou seja, recusar as imprecisões "profetistas" de Marx sobre a queda inexorável do capitalismo. 

Na Teerã de 1979, o regresso do "mahdi" --o imã escondido que um dia chegará para redimir a humanidade-- implicava igualmente alguma celeridade nos procedimentos. No caso, um Estado teocrático e a exportação do modelo para as terras do Profeta. Se isso é "inferioridade", eu gostaria de saber em que consiste a "megalomania". 

RADICAIS Não, não é o Ocidente que tem de mudar, muito menos pela adoção do radicalismo de esquerda que, tal como o radicalismo de direita, já deixou um longo cortejo de cadáveres no século 20. É o islã que tem de mudar --de passar pelo seu "Iluminismo", se quisermos, um esforço dantesco que, é justo reconhecer, é possível encontrar nos trabalhos "reformistas" de autores como Mahmud al-Qimani ou Abdolkarim Soroush. E que nos dizem eles? 

Contra Zizek, que é preciso repensar as virtudes do liberalismo, moderando a ambição do poder político em "interferir na alma dos homens", para citar o patrono John Locke. Não é tarefa fácil. Basta consultar o gigantesco estudo que o Pew Research Center realizou em 39 países muçulmanos, com entrevistas presenciais a 38 mil pessoas. Já escrevi nesta Folha sobre as conclusões gerais do estudo (intitulado "The World's Muslims: Religion, Politics and Society" e disponível na internet). Mas nunca é demais relembrar uma das suas conclusões mais relevantes: a maioria dos muçulmanos não admite uma vida moral sem caução religiosa. Isso leva a maioria a defender a sharia (a lei islâmica que tutela a vida cotidiana) como um documento legal insubstituível. Conceder a Deus o que é de Deus e a César o que é de César --a separação crucial do Ocidente cristão-- é ainda uma escalada íngreme para quem atribui a Deus o que é de César. 

Quando Zizek grita bem alto que liberalismo é decadência, ele não atraiçoa apenas os esforços, ainda tímidos, dos reformistas que remam contra a maré. Ele repete, palavra por palavra, a mensagem odiosa dos próprios terroristas. 
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Fonte: Folha online, 18/01/2015
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