Fábio Konder Comparato *
O VOCÁBULO crise tem sido tão desgastado pelo uso e o abuso, que tende hoje a se confundir com a própria banalidade estatística. Qualquer acidente de percurso ou quebra de regularidade qualifica-se como crise. Um retorno às origens semânticas impõe-se, portanto, para dissipar equívocos. Krisis, no grego clássico, é o substantivo ligado ao verbo krinô, cujas três acepções principais são: 1) separar, escolher, comparar; 2) julgar, decidir, condenar; 3) estimar, crer. Em ligação com o segundo significado, temos kritês, juiz, e kritêrion, aquilo em razão do qual se julga.
Coube a Hipócrates atribuir ao vocábulo um sentido técnico preciso. No tratado Dos ares, das águas e dos lugares, o Pai da Medicina denominou krisis o exato momento em que é possível discernir (o verbo cerno, -ere, em latim, liga-se ao étimo grego krinô) a doença e desvendar a sorte do doente. É o momento em que o olhar experiente do médico observa uma mudança súbita no estado do paciente, para o bem ou para o mal; o instante em que se revelam nitidamente os sintomas da moléstia, permitindo o diagnóstico e o prognóstico.
Diante da multiplicação de escândalos no Congresso Nacional, somos naturalmente levados a perguntar se chegamos ao momento histórico decisivo, em que é possível discernir a etiologia da moléstia política e prever o desenlace.
Sem pretender minimamente responder à indagação, limito-me aqui a ensaiar uma explicação histórica para o mal que nos acomete cronicamente
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* Professor titular emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), doutor honoris causa da Universidade de Coimbra e doutor em Direito pela Universidade de Paris
OBS.: Posto parte do texto, que é longo, para lê-lo na íntegra acesse:
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=44754 Fonte: Adital, 03/02/2010
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