quarta-feira, 7 de julho de 2010

Belo Monte - Usina polêmica

"Quero que me digam que índios são contra usina"
Muniz, presidente de Eletrobras:
"Quem é contra (a usina) não conhece o projeto e
nem as condições
de vida da população ribeirinha de Altamira"
O presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz Lopes, não tem medo da polêmica criada em torno dos reflexos ambientais da obra de Belo Monte na região. Criticada até no exterior, a usina é o centro do maior debater ambiental no país no momento. Mas Muniz rebate todas as críticas. Ele afirma, por exemplo, que a maioria das etnias indígenas da região é a favor da obra.

Valor: Porque todos os índios do Xingu acusam a Eletrobras de não ter ido lá conversar sobre a obra de Belo Monte?
José Antonio Muniz Lopes: Quero que me digam que índios são contra. Acabei de voltar de Altamira, e das onze etnias, quatro são contra e sete são a favor. As sete etnias da região são a favor, as outras, que são contra, são do Alto Xingu, onde a obra não tem nenhuma interferência. A cota da usina é de 97 metros (equivalente à maior cheia do rio). É o que acontece em Altamira todo ano. Os índios que estão contra estão lá em cima. Na semana retrasada sobrevoei a aldeia Paquiçamba e não tinha nenhum índio lá, eles moram em Altamira. Onde se altera (a configuração original do rio) é em Altamira. Os peixinhos afetados são da Volta Grande (do Xingu), que são decorativos e vendidas irregularmente para o Japão. Mas nos estudos ambientais existe um projeto de manter a produção de peixinhos aqui. Quanto aos peixes maiores, e veja que nessa parte a barragem do rio tem 15 metros de altura, uma barragem de PCH (Pequena Central Hidrelétrica), vamos transpor com um canal igual ao de Itaipu. As canoas que passam vão ter um sistema para transportar os barcos de um lado para o outro. Também não haverá problema de navegação.

Valor: Uma parte da população ribeirinha será desalojada...
Muniz: Querer manter aquelas pessoas que vivem ali em Altamira naquelas casas é um absurdo. Agora no inverno a cota do rio é 97 metros e ele bate no piso das casas. Quando o rio seca, e seca muito, as latrinas, que são lá em cima das casinhas de madeira são jogadas lá embaixo. E as crianças jogam bola lá com lama e fezes. Na década de 80 já me diziam que, independentemente de se fazer o projeto ou não, tinha-se que tirar aquelas pessoas. Só que existem outros interesses que não deixam tirar as pessoas de lá e também não há como tirar. E se no ano que vem tivermos outra cheia no Xingu como a do ano passado? Lembra que ano passado choveu lá e as geladeiras e móveis saiam pelas lojas? Todo ano as pessoas saem de lá e vão para abrigo. E se chover lá como aconteceu no Nordeste, aquelas pessoas vão para onde? Vão ser mortas. E só não aconteceu uma tragédia em Altamira porque a cheia começou 5 horas da manhã e a grande foi 11 horas da manhã. Senão teria morrido muita gente. Então, te digo que só fala essas coisas quem não vive lá. E eu digo isso porque vivo lá há 25 anos. Sou até comendador da Ordem do Mérito do Xingu. O que vamos fazer ali é canalizar os três igarapés, aterrar e fazer uma área para lazer. Vamos aterrar nas margens e canalizar. Vamos fazer praças e quadras de esportes.

Valor: A Eletrobras tem 34% da Celpa, que acabou de receber uma injeção de capital do FI FGTS. Qual a importância dela para companhia?
Muniz: Queremos que 10% da energia de Belo Monte, destinada aos autoprodutores, fique no Pará. A Eletrobras entende que é importante diminuir os desníveis entre as regiões. O Pará é o Estado que vai garantir o futuro da energia hidrelétrica no Brasil. Todas as grandes usinas hidrelétricas futuras no Brasil estão no Pará. Estamos trabalhando hoje em Marabá (2.200 MW), Belo Monte, e no complexo de Tapajós, que terá no primeiro momento 10.680 MW e no segundo momento mais 3.000 MW de acordo com o PAC 2. Com isso, em três grandes aproveitamentos vamos produzir 30 mil MW, que é mais de um terço do que o Brasil tem instalados hoje de usinas hidrelétricas.

Valor: São áreas de muita sensibilidade ambiental, para dizer o mínimo. Como preservar a região?
Muniz: O grande símbolo dessas usinas é Belo Monte, o primeiro projeto nacional que tem uma verba específica para garantir o desenvolvimento nacional. São R$ 500 milhões previstos no anexo 4 do edital. Fora os recursos para mitigar e compensar os efeitos ambientais negativos estimados em R$ 3,5 bilhões, foram previstos, à parte, mais R$ 500 milhões sob responsabilidade do investidor, no caso a SPE de Belo Monte, para aplicar na região, independente do projeto. É para assegurar que pré e pós construção não seja criado um vazio, um vácuo. Nesse período de dez anos temos de trabalhar juntos. Por isso foi desenvolvido um plano de desenvolvimento sustentável para a região. Isso não foi visto no Brasil, esse é o primeiro projeto que tem isso. Essa usina é feita dentro do conceito de inserção regional onde houve um desenvolvimento e ela foi desestruturada. Então cabe ao empreendedor estruturar. Nos próximos projetos vamos usar o conceito de usina plataforma. (CS)
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Fonte: Valor Econômico online, 07/07/2010

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