domingo, 11 de julho de 2010

A fé pode mudar...

Cada um na sua fé

Segundo o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris),
24% da população já trocou de crença no Brasil

Escolha. Fernanda Zawit foi católica, mas hoje se diz "muçulmana e feliz". Foto: Felipe Rau/AE

A curiosidade foi o que motivou Fernanda Zawit, de 24 anos, a trocar o catolicismo pelo islamismo. "Queria entender a relação que Jesus teria com o Islã. E descobri que, para o islamismo, Jesus era um profeta, um homem que realizou milagres com a anuência de Deus, mas não era divino." Não foi a primeira vez que teve a curiosidade de conhecer outra crença. Na adolescência, fez uma breve incursão pela igreja evangélica, mas não se converteu.

No ano passado, foi convidada para assistir a uma palestra na mesquita onde estuda o idioma árabe. Coincidentemente, o tema daquele dia era Jesus. Passou a estudar a religião, a fazer pesquisas e, em pouco tempo, estava pronta para o Shahada, nome dado ao testemunho de fé (uma espécie de batismo). "Saí de lá muçulmana e feliz."

Sua família, que é católica, não se surpreendeu com a escolha, pois estavam todos preparados. A mãe, que é psicóloga, mostrou-se feliz pelo fato de a filha ter "encontrado" sua religião e ficou ansiosa para vê-la usando véu. Uma das irmãs lhe presenteou com algumas batas, enquanto a outra e o irmão lhe deram total apoio moral. O véu foi um presente do pai, pouco antes de falecer.

O detalhe é que ela não começou a usá-lo logo depois do Shahada. Estudou mais sobre o tema, teve paciência e ajuda do sheikh para entender o conceito e o que o acessório representa. Quando se sentiu preparada, passou a vesti-lo. "Não fiz nada por obrigação, mas sim na medida do meu coração." Uma das obrigações que tem na nova rotina religiosa é rezar cinco vezes ao dia. E a primeira reza é às 5h30 da manhã.

Evangelização. Nascida em uma família católica e criada rezando o terço, pedindo a bênção para pai e mãe antes de dormir, e frequentando a igreja aos domingos, em certa fase da vida, a atriz Myrian Rios procurou os cultos dos Cristãos Protestantes. Frequentou assembleias por cerca de seis meses. Mas sentiu falta da Eucaristia diária. "É claro que somos irmãos e que Deus, o Espírito Santo e Jesus são os mesmos, na igreja católica e na igreja protestante. Tudo isso apenas fortaleceu meu batismo na religião católica", conta.
Myrian Rios. De protestante a católica de novo. Foto: Thiago José Camargo/Divulgação

Há cerca de 15 anos, Myrian conheceu o fundador da Canção Nova (vertente da igreja católica), Monsenhor Jonas Abib, e logo foi visitar a sede da comunidade, em Cachoeira Paulista, interior de São Paulo. Depois passou a frequentar o grupo de oração da Casa de Missão da Canção Nova do Rio de Janeiro, onde vive. Um ano depois, já fazia parte do quadro de prestadores de serviço do Sistema Canção Nova de Comunicação. "É a chance de praticar a religião através das atitudes de solidariedade, caridade, humildade e amor ao próximo."

Entre as motivações para a mobilidade religiosa, em geral, estão a discordância a certa doutrina, a influência da família ou amigos, a falta de apoio ou de acolhimento em momentos de dificuldade. A professora de Sociologia da Religião do programa de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Maria José Rosado, observa que, entre católicos, há muitos casos de duplicidade de religião. Ou seja, eles frequentam outras crenças, mas mantêm a identidade católica. "Hoje as famílias são multirreligiosas", constata a professora.

Casca grossa. A cantora Baby do Brasil conta que, desde pequena, tem encontros com Deus. Nascida em uma família católica - que, segundo ela, também tinha "um pezinho na macumba" -, Baby lembra do dia em que um anjo apareceu diante dela, no momento em que estava muito depressiva por ter tido a visão do demônio em sua cama.

Admite ter passado por várias influências espirituais e ter provado de quase todas. "Fui parar debaixo do principado de Rá, crente que estava abafando, e quase morri. Mas Deus é misericordioso. E se não fosse pelo amor dele comigo, hoje, estaria morta." Tudo o que viveu será contado em um livro que deve ser lançado no fim deste ano e, embora ainda não tenha começado a escrever, já tem título: Não Vai ter Bunda Mole no Céu. Só Casca Grossa.

Baby diz que foi "arrebatada" em maio de 1999, quando se tornou evangélica. "Deus me levou lá em cima. Tive uma experiência espetacular. Não tinha LSD, não tinha droga, nada. Do jeitinho que eu queria. E isso aconteceu após eu ter sido quase atacada por um louco que tentou me matar."


Baby. "A coisa mais louca que descobri nesse mundo foi a santidade". Foto: Jane Pini/ Divulgação

Para a cantora, os 11 anos que vieram depois foram os mais fantásticos de sua vida. "Fica esse papo de que quem está ligado com Deus é frouxo, bobo, mas não é nada disso. A coisa mais louca que descobri nesse mundo foi a santidade. E não é negócio para otário. É uma escolha tremenda. Isso é para quem está vivendo a plenitude da glória de Deus dentro de si."

Baby sabe dos estereótipos ligados a ela e diz que nunca se preocupou com isso, pois seu compromisso é só com o que Deus está pensando. "Sou uma caçadora de Deus. Todos esperavam que eu caísse, achavam que não aguentaria a igreja evangélica. Mas estou cada vez mais feliz da vida, mostrando e percebendo que é possível ter santidade com o cabelo roxo." E completa: "tem igreja para careta, louco, tatuado, de terno, de coque. Tem igreja de tudo. Papai (como ela também se refere a Deus) está na área, arrebentando a boca do balão."
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Reportagem: Cristiana Vieira
Fonte: Estadão online, 10/07/2010

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