sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A hora de aperfeiçoar a arte de dar presentes

 Sumathi Reddy*

Para ser um presenteador realmente bem-sucedido, normalmente a pessoa precisa entrar na mente de quem vai receber o presente. Infelizmente, estudos psicológicos mostram que presenteadores e receptores têm dificuldade de entender a forma de pensar um do outro, o que pode tornar a experiência natalina complicada.

Considere o dilema de passar para frente ou não um presente recebido. Que tal aquela panela elétrica que sua tia bem intencionada lhe deu no ano passado e que você está vergonhosamente contemplando repassar à sua amiga querida este ano? Estudos mostram que você pode ir em frente sem nenhum remorso. Sua tia provavelmente não vai se importar.

Muitas pessoas evitam passar para frente presentes indesejados, ou escondem o fato de que estão fazendo isso, por medo de que o presenteador original possa se ofender. Não se preocupe, diz um estudo recente publicado pela revista "Psychological Science". É provável que a pessoa que deu o presente fique menos ofendida do que você espera.

Alguns presenteadores gastam tempo e energia tentando encontrar o presente ideal. Mas presentes bem pensados não conduzem necessariamente a uma maior apreciação, de acordo com um estudo publicado em novembro no "Journal of Experimental Psychology: General". O benefício de um presente pensado realmente é maior para quem o dá, que tira da experiência uma sensação de maior proximidade com a outra pessoa, segundo o estudo.

As pessoas ficam mais felizes quando recebem um presente que tenham explicitamente solicitado, de acordo com um estudo similar, publicado no ano passado pelo "Journal of Experimental Social Psychology".

"No fim das contas, é o presente que conta, não a reflexão" por trás dele, diz Nicholas Epley, professor de ciência comportamental da Universidade de Chicago e coautor do estudo de novembro.

Outro estudo descobriu que gastar mais dinheiro em um presente também não se traduz necessariamente em mais gratidão. Isso pode ser uma surpresa para muitos presenteadores, que geralmente presumem que um presente mais caro transmite um maior nível de atenção, de acordo com o estudo, publicado em 2009 pelo "Journal of Experimental Social Psychology".

"Todo mundo já foi presenteador e receptor muitas vezes no passado", diz Francis Flynn, professor de comportamento organizacional da Escola de Pós-graduação em Administração da Universidade de Stanford e que fez pesquisas na área de presentear. Apesar de saberem como se sentem nesses papéis, as pessoas muitas vezes não conseguem, por exemplo, aplicar sua experiência de receber presentes na hora de comprar um para alguém, diz ele.

Repassar presentes recebidos, outrora um tabu social, está gradualmente ganhando aceitação. De acordo com uma pesquisa feita pela American Express com consumidores dos Estados Unidos, 58% das pessoas acreditam que não há problema em representear algo de vez em quando. Esse número sobe para a temporada de fim de ano, quando 79% dos entrevistados disseram acreditar que repassar presentes é socialmente aceitável. Na pesquisa, que entrevistou cerca de 2.000 pessoas no ano passado, quase 25% disseram ter representeado pelo menos um item que ganharam na temporada natalina anterior.

Passar a outras pessoas presentes recebidos pode levar a situações difíceis. Humera Sayeed, uma estudante de pós-graduação da Universidade Loyola de Chicago, recebeu uma bolsa de couro marrom Marc Jacobs da tia no ano passado. A universitária de 26 anos diz que prezou a bolsa de alta qualidade, mas que não era exatamente seu estilo.

"Eu pensei: 'Sabe de uma coisa, eu conheço alguém que iria gostar mais dela do que eu'. Então eu a dei a uma amiga de aniversário", diz Sayeed. Cerca de seis meses depois, a amiga foi à casa da tia de Sayeed com a bolsa, e logo ouviu: "Sabia que a Humera tem uma bolsa igualzinha a essa?"

"Eu disse: Tia, amei tanto a bolsa que dei uma igual para ela'", mentiu Sayeed. "Provavelmente poderia ter sido sincera, mas decidi que seria melhor não dizer nada, e acho que é por isso que as pessoas sentem que estão sendo sorrateiras" quando passam um presente para frente.

No estudo sobre representear, os pesquisadores realizaram cinco experimentos separados, envolvendo cerca de 500 pessoas em cenários reais e imaginários. As pessoas não se incomodavam quando seus presentes eram repassados mais tarde porque elas geralmente acreditavam que o presenteado tinha a liberdade de fazer o que quiser com o que ganhou.

 Por outro lado, quem repassava o presente para outras pessoas tinha medo de ofender o presenteador original por achar que este tinha o direito de influir em como os presentes seriam usados.

Esses dois pontos de vista se mantiveram independentemente de presenteadores e receptores serem ou não amigos. O fato de o presente ser relativamente atrativo também não afetou os resultados. Quando os pesquisadores introduziram no experimento o cenário de um feriado nacional para repassar os presentes, os participantes se mostraram mais propensos a representear o que ganharam.

Há iniciativas para promover o ato de representear. A Money Management International, uma organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas que enfrentam dificuldades financeiras, opera o site Regiftable.com, que encoraja a prática há mais de cinco anos e criou nos EUA o Dia Nacional de Repre-sentear, na terceira quinta-feira de dezembro, que coincide com muitas festas de fim de ano de empresas.

"Representear não é algo ruim, não é tão ofensivo como muitos pensam que é", diz Gabrielle Adams, professora assistente de comportamento organizacional da London Business School e coautora de um estudo recente do "Psycho-logical Science".

Sharon Love, que dirige uma agência de marketing de varejo, diz que frequentemente repassa presentes que recebeu se julga que eles serão mais apropriados para outra pessoa. Mas ela diz que tenta ser franca.

Love, que mora em Nova York, diz que uma vez recebeu um livro de etiqueta que claramente não foi comprado para ela. O livro continha uma dedicatória feita para o presenteado. "Fiquei um pouco brava, então decidi dar de volta o presente ao amigo no ano seguinte", diz ela. Love diz que recebeu um cartão de agradecimento em troca.

O ditado "O que vale é a lembrança" foi amplamente refutado pelo estudo recente publicado no "Journal of Experimental Psychology: General", que concluiu que é melhor dar de presente algo que a pessoa presenteada realmente quer, em vez de gastar um monte de tempo e energia comprando o que o presenteador acredita ser um presente bem pensado. O estudo concluiu que pensar demais sobre a escolha não aumenta a satisfação de quem recebe o presente se é um artigo desejável. Na verdade, planejar muito o presente só pareceu contar quando ele não foi muito apreciado.

"O segredo de ser um bom presenteador [...] é dar o que as pessoas realmente querem", diz Epley, da Universidade de Chicago.

Epley diz que depois que sua esposa deu à luz o segundo filho, ele passou muito tempo sonhando com o que ele pen-sava ser o presente de Natal perfeito para ela: um dia nos bastidores como treinadora no aquário de Chicago. "Ela ama os animais marinhos, e pensei que isso seria ideal", diz ele.

Em vez disso, diz ele: "Ela odiou o presente. A ideia de se espremer em uma roupa de mergulhador um mês depois do parto e segurando um peixe fedido para alimentar um pinguim ou um golfinho era a última coisa que ela queria fazer." Ela recusou o presente.
Agora, Epley diz que pergunta à mulher o que ela quer antes do Natal. Na semana passada, ela lhe deu uma lista.
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