LUIZ FELIPE PONDÉ*
A Igreja Católica contempla a eternidade. Algo estranho pra modernos
porque para nós não existe outra eternidade a não a do nosso desejo de
realização infinita: sonhos, projetos, direitos, sucessos. Demandamos
respostas na velocidade de aviões a jato e iphones, e com o stress de
quem anda na marginal Pinheiros.
Quando você contempla a eternidade, o tempo é outro, as urgências se
dissolvem, as mudanças cedem lugar as rotinas e tradições. Do nosso
ponto de vista, a lentidão toma o lugar do tempo pautado pela pressa.
Nós vivemos em segundos, a igreja em milênios.
Mas nem por isso a igreja deixa de estar inserida no mundo do tempo, e,
portanto, ela tem que responder as demandas no tempo histórico, isto é,
um tempo de jatos, iphones e estressados. A eleição do papa Francisco
responde a uma das principais demandas atuais feitas a Igreja: deixar de
ter apenas papas europeus.
Mesmo uma instituição que crê no seu "corpo místico" --aquele eterno--
deve responder ao tempo dos homens e mulheres, no mínimo porque estes
homens e mulheres é que sustentam esta "eternidade no mundo". Escolher
um papa latino americano foi uma boa resposta ao mercado religioso
atual, muito competitivo.
Não fosse pelos EUA, o cristianismo seria hoje quase que exclusivamente uma religião de pobres. A Europa cristã é quase peça de museu.
Francisco é um papa que vem dali onde vive a maioria dos católicos. Isso
os ajuda a sentir que a hierarquia do Vaticano olhou pra fora de suas
janelas romanas chiques. O olhar para os pobres, que vai ao encontro de
uma teologia católica cozida em países com miseráveis até o pescoço, não
implica recaída numa igreja pré-João Paulo 2º e Bento 16, e a recusa do
marxismo como parceiro de Jesus. Nada de Che Guevara, mas de São
Francisco.
Opção pelo sofrimento dos mais fracos é tão clássico no cristianismo
quanto os evangelhos. Francisco é um conservador que não tem medo de
dizer o que precisa ser dito: cristianismo sem empatia com a dor de
muitos é um cristianismo inócuo.
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* Filósofo. Escritor. Prof. Universitário. Colunista da Folha.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/07/25
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