Excesso de conectividade é ruim
Outro dia, navegando num desses fóruns da Internet, me deparei com uma frase mais um menos assim:
“O cão é o melhor amigo do homem, porque ele não fica mexendo no celular enquanto a gente conversa”.
A frase é irônica, mas ao mesmo tempo
carrega um profundo senso de verdade. Hoje, é praticamente impossível
você passar um dia sem que veja ou mesmo converse com uma pessoa que
fica tamborilando no seu celular ao mesmo tempo enquanto você conversa com ela. Quem nunca?
Chega até a ser uma falta de respeito com você, pois a atenção dela não está totalmente concentrada na comunicação com você, mas sim dividida em duas (ou mais) conversas simultâneas e paralelas.
Logo, a qualidade da comunicação não será mais a mesma.
Hoje em dia, a situação chegou a tal
ponto que até professores e palestrantes são incapazes de desligar o
celular enquanto dão as respectivas aulas ou palestras, o que obviamente
provoca uma sensação de desconforto nos alunos e na platéia. “Ah, mas
pode haver uma situação de urgência”, diriam os defensores do uso do
celular em tais ocasiões. Ué, mas e há 20 anos, quando os celulares não
existiam? Será que não havia situação de urgência também? Ou somos nós quem acabamos criando muitas situações de urgência em nossas vida, que na verdade nada tem de urgentes?
A tecnologia é uma coisa boa e que veio
para facilitar a vida das pessoas. Ok. Entretanto, nós estamos virando
escravos da tecnologia, estamos sendo dominados por ela, em vez de nós a dominarmos.
Antigamente, nós “aproveitávamos” os bons momentos da vida…
E isso é ruim na medida em que perdemos a
chance de aproveitar os bons momentos da vida. Esses momentos acabam
sendo roubados pela tecnologia. Quer exemplos? Então vamos lá.
A amiga Rosana
certa vez comentou aqui no blog sobre duas imagens que ela tinha visto
na Internet (ou mesmo “ao vivo”). Em uma, ela viu de pessoas
“descansando” num parque público, que, em vez de apreciarem o verde e a
natureza exuberante do local, preferiam ficar concentradas no que estava
passando na telinha de seu smartphone, com semblantes preocupados e
tristes. Elas perdiam uma ótima oportunidade de apreciarem o local. Na verdade, elas acabavam perdendo o próprio sentido de irem ao parque.
Em outra imagem, pessoas dentro de um
museu tiravam freneticamente fotos das pinturas e esculturas do local.
Tirar fotos é uma ótima medida para registrar o momento, mas você não
precisa ficar tirando fotos durante todo o passeio, senão você deixa de apreciar o momento.
No excelente blog Bizrevolution, me deparei com a seguinte imagem:
Créditos da imagem: Blog Biz Revolution
Taí uma imagem que vale por mil palavras. Antigamente as pessoas verdadeiramente curtiam os shows. Hoje, os jovens estão mais preocupados em fotografar, filmar, tuitar, clicar, postar no Facebook… do que apreciar o momento. Hoje, estamos mais preocupados em registrar a vida para os outros verem (e eventualmente sentirem uma “pontinha de inveja”), do que em efetivamente saboreá-la, apreciá-la, degustá-la, para nós mesmos.
Conectados digitalmente, desconectados pessoalmente
Jonathan Fields é um
empreendedor, escritor e palestrante norte-americano que, dentre outras
funções, escreve na Internet sobre desenvolvimento pessoal, nos negócios
e na vida, no blog de mesmo nome
(aliás, ele escreveu alguns excelentes livros que espero em breve
resenhar para vocês, além de manter um projeto muito interessante sobre
empreendedorismo, denominado Good Life Project). Em um de seus últimos artigos, The tyranny of connectivity
(a tirania da conectividade), que, aliás, serviu de inspiração para
esse texto, ele conta como foi libertadora a experiência de ter passado
algumas poucas horas sem seu iPhone ligado.
Ele conta que, voltando para sua casa
após pegar um aparelho novo (já que a tela do antigo havia se rachado),
estava esperando pelo elevador quando se deparou com outras cinco
pessoas que também estavam aguardando. O problema? As outras cinco
pessoas estavam todas com seus respectivos smartphones
em mãos, concentradas em atividades como mandar mensagens, clicar ou
navegar na Internet. Silêncio total entre elas. Todas estavam conectadas
na vida digital, mas completamente desconectadas na vida real, com o
próximo.
Assustador, mas verdadeiro, porque isso
não ocorre somente em Nova York (onde ele mora). Isso ocorre o tempo
todo, no mundo todo. Inclusive na sua vida. Quantas
incontáveis vezes você não entrou num elevador de seu próprio prédio (ou
local de trabalho), se deparou com pessoas conhecidas – vizinhos ou
colegas de trabalho – que estavam mais preocupadas em interagir com a
tela de um aparelho do que interagir com você?
A conectividade na vida online é boa e
interessante, mas não é a mesma coisa da conectividade off-line, ao
menos em minha experiência pessoal. Ao diminuirmos nossos
relacionamentos na vida real, nós perdemos incontáveis oportunidades de
criar coisas novas, de produzir novas ideias, de reforçar os
relacionamentos, de estreitar laços profissionais ou de amizade.
Volto a repetir que a tecnologia é boa,
mas somente enquanto nós a controlamos, e não quando deixamos ser
controlados por ela. Como eu disse no título desse artigo, excesso de
conectividade é ruim, e só prejudica a sua qualidade de vida.
O que fazer para diminuir o uso da conectividade? 4 dicas práticas!
Nós não estamos vivendo apenas na era da
informação e do conhecimento. Nós também estamos vivendo na era da
distração. Não é só o dinheiro, o tempo e a energia
que são ativos importantes que devemos usar, adquirir e administrar
bem. Há ainda um quarto ativo tão importante quanto aqueles três: é a
nossa atenção. A nossa capacidade de manter o foco. De nos concentrarmos em nossos afazeres.
E isso tem sido cada vez mais difícil,
num mundo onde praticamente qualquer pessoa tem SMS, email e WhatsApp.
Vou contar aqui algumas estratégias que tenho utilizado para diminuir o
excesso de conectividade em minha própria vida, e que podem ser
perfeitamente replicados em sua própria vida.
1. Vá para a academia sem o celular.
É impossível você passar um dia na academia sem que veja alguém mexendo
no seu aparelho nos intervalos entre os exercícios ou – o que é pior –
durante os próprios exercícios. Vai por mim: você está indo para a
academia para malhar, e não para se distrair com Angry Birds ou tuitar
ou mandar mensagem pra seu(ua) amigo(a)/namorado(a).
Portanto, se o objetivo de ir à academia é melhorar a saúde do corpo,
você deve livrar o cérebro da maior quantidade de distrações possíveis,
pois estudos científicos já comprovaram que você consegue obter
melhores resultados para o corpo se mantiver sua mente totalmente
concentrada nesses objetivos.
No máximo, leve um mp3player para a
academia, mas só faça isso se a audição de músicas não atrapalhar sua
atenção para o objetivo principal, que é cuidar do corpo.
2. Desative o plano de dados de seu aparelho. Afinal
de contas, quem criou essa urgência toda de que você precisa estar
conectado o tempo inteiro com todo mundo, a todo instante? Você
vivia muito bem sem Internet no celular 10 anos atrás, então não irá
perder nada se ficar sem Internet no celular nos próximos 10 anos.
Recentemente, eu desativei o plano de
dados de meu próprio celular, que estava custando a bagatela de R$ 30
mensais, e com isso vou ganhar quase R$ 400 anuais a mais em meu bolso, fora as incontáveis horas que ganharei ao me preocupar menos com o que está ocorrendo na vida digital.
3. Cheque o email só duas vezes por dia.
Você precisa ter disciplina no uso do email, pois ele é sabidamente um
dos maiores vilões que prejudicam sua concentração. Há 6 anos, ou seja,
desde 2007, eu estabeleci uma rotina no uso dos emails que têm
funcionado com bastante eficiência e controle: verifico a caixa de
emails apenas duas vezes por dia, uma no começo da tarde (geralmente
após o almoço), e outra no final da tarde (por volta das 18 horas).
Com isso, eu uso de modo mais eficiente
possível duas partes do dia que são cruciais para a manutenção da
produtividade em níveis altos: a manhã e a noite. A manhã deve ser
reservada para atividades que requeiram foco e concentração total, pois é
o período do dia onde você está mentalmente mais alerta e onde seu
corpo também está mais desperto. Logo, “invadir” o período matutino com
distrações, urgências e problemas que aparecem nos emails é uma medida
contraproducente e que prejudica sua rotina diária.
Por sua vez, ao evitar o uso dos emails à
noite, você evita ter que lidar e pensar com os mesmos problemas,
urgências e distrações que invariavelmente surgem com os emails. Dessa
forma, você prepara sua mente e seu cérebro para terem um sono mais
tranquilo e de melhor qualidade. Afinal, tudo o que você mais precisa durante o sono é se desconectar do mundo, literalmente falando, não é mesmo?
Então faça esse favor a você mesmo: estabeleça um horário limite para leitura de emails (digamos, até às 19 horas), e cumpra esse acordo consigo mesmo.
Não veja emails no celular. Hoje, praticamente todos os celulares oferecem softwares de emails, o que é uma grande comodidade e conveniência. Dispense
essa comodidade, pois isso só vai acabar te trazendo mais dispersão,
desconcentração e falta de foco. Siga a dica do item anterior, e
controle seus impulsos de querer saber se tem alguma mensagem nova a
cada instante.
Conclusão
Ao diminuir o excesso de conectividade em
sua vida, você irá obter não somente ganhos de espaço – de tempo – que
antes eram ocupados com distrações e mensagens, links, e emails
desnecessários, mas também poderá apreciar melhor os momentos que a vida
oferece, e que jamais poderiam ser apreciados se você se mantivesse
concentrado na telinha de um aparelho.
Porém, o principal ganho que você irá obter é a melhora na qualidade de sua atenção. Você ficará mais “presente” em suas próprias atividades. Melhorará seus níveis de consciência. Reforçará seu foco. Produzirá mais em menos tempo. Será mais eficiente.
Terá melhores resultados na academia. Terá relacionamentos mais profundos e autênticos. Aprenderá mais coisas em menos tempo. Cumprirá mais tarefas e entregará mais resultados numa velocidade ainda maior. Aproveitará melhor os momentos de lazer e de descanso. Você irá restaurar o equilíbrio em sua vida, e verá o quanto isso é importante para tornar sua vida melhor e mais significativa, tanto para você quanto para os outros.
Experimente!
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Fonte: http://www.valoresreais.com/2013/07/22/
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