Carlos Heitor Cony*
Muito boa, antológica, a entrevista que o papa
Francisco concedeu ao Gerson Camarotti, merecedora de um prêmio especial
por vários motivos, pelo entrevistado e pelo entrevistador.
Há 2.000 anos, são raríssimas as entrevistas pessoais com os chefes da
Igreja Católica. Não havia veículos de transmissão e, quando surgiram
jornais, revistas, rádio e TV, continuaram raríssimas. Para falar a
verdade, só me lembro de três.
Viajei com João Paulo 2º duas vezes. Bati papo com ele, mas não foi uma
entrevista. Ele contou que havia aprendido a dizer em português "aquele
abraço". Perguntou se colava mal repetir a saudação em seus
pronunciamentos oficiais. Não me deu conselho al-gum, mas o pediu a um
pecador, agnóstico profissional.
Papa Francisco respondeu com sinceridade e coragem a todas as perguntas
do Gerson. Na edição da entrevista, houve inserções dos seus
pronunciamentos públicos, inclusive o que me pareceu mais veemente,
quando exigiu que os jovens continuassem a protestar em todo o mundo
contra uma sociedade injusta e violenta. Chegou a dizer, em público e na
entrevista pessoal, que o jovem calado não é do seu agrado.
Reconheceu os pecados da igreja, ele próprio se admitiu pecador. Não
será fácil reformar a Cúria Romana, poderá até se tornar trágico --já
houve precedentes ao longo da história.
A sua primeira visita internacional foi mais do que um sucesso. Ele
chegou a pedir desculpa ao prefeito do Rio pela "bagunça" que provocou
na cidade. A culpa não foi dele, mas das autoridades locais, que se
mostraram incompetentes para enfrentar um even- to de nível mundial.
A palavra que Francisco mais falou na entrevista foi "proximidade". A
mãe que segura o filho no colo e fala com ele no peito, e não por meio
de cartas e homilias. Valeu.
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* Jornalista. Escritor. Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 30/07/2013
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