Juremir Machado da Silva*
O Papa Francisco tem dado um show em sua visita ao Brasil:
brinca, faz piada sobre brasileiros e argentina, tomou chimarrão, usou
gírias brasileiras e parece estar divertindo-se muito.
Nota dez em simplicidade, proximidade com a população e crítica social.
Na favela de Varginha, ele fez a sua principal declaração: a mão
invisível do capitalismo não resolve sozinha os problemas de injustiça
social, desigualdade econômica e falta de oportunidades.
Ele não falou com essas palavras. Mas foi isso que ele disse.
Francisco acredita na mão visível de Deus e nas mãos de carne e osso dos homens.
Foi direto: “Nenhum esforço de pacificação’ será duradouro, não
haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à
margem, que abandona na periferia parte de si mesma.”
Evidentemente que não fez um discurso anticapitalista.
Fez um discurso pela humanização do sistema. Defendeu, sem usar tal
expressão, um capitalismo mais justo, mais humano, com uma distribuição
de riquezas mais justa e digna.
Tudo o que o Brasil ainda precisa continuar buscando.
Francisco intimou a turma dos camarotes a “dar a sua contribuição
para acabar com tantas injustiças sociais”. É um pessoal que acredita
na mão invisível do capitalismo e, por isso, esconde a sua.
Se os pobres sabem “colocar mais água no feijão”, expressão que usou,
o Papa espera que os ricos tratem de meter a mão no bolso e de repartir
um pouco mais de tudo o que ganham.
O Papa representa a opção de modernização conservadora da Igreja.
É um avanço.
O principal está nas entrelinhas: o mercado não resolve tudo sozinho.
Acreditar nisso é defender privilégios, vender ilusões, enganar os
incautos e perpetuar a desigualdade condenada.
Botei fé nesse Papa.
E ele pode fazer muito mais.
Tomara que faça.
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* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Tradutor. Colunista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 26/07/2013
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