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O silêncio não causa sede e
é um traço de nobreza.
Como se expressar, seja escrevendo, seja falando? Essa é uma das questões presentes desde sempre para a humanidade.
Na vida profissional ou amorosa, numa apresentação de trabalho a seus
chefes na empresa ou numa mera conversa de bar, comunicar-se faz bem
faz toda a diferença.
Muitos sábios se detiveram nesse tema. Quase todos condenaram a verborragia, a eloqüência desmedida, a suntuosidade verbal.
A opção é pela simplicidade e pela brevidade. Uma pessoa afetada na maneira de falar ou escrever é afetada em outras esferas.
“A verdade precisa falar uma linguagem simples, sem artifícios”, escreveu um filósofo da Antigüidade.
Montaigne dedicou linhas brilhantes ao assunto em seus Ensaios.
Montaigne conta duas histórias instrutivas e divertidas. Numa delas,
os embaixadores de uma cidade grega tentavam convencer o rei de Esparta a
aderir a um esforço de guerra.
O Espartano deixou-os falar longamente. Depois disse: “Não lembro do
começo nem do meio da argumentação de vocês. Quanto à conclusão,
simplesmente não me interessa”.
Na outra história, dois arquitetos atenienses disputavam a honra de
construir um grande edifício. A platéia à qual cabia a escolha ouviu um
extenso discurso do primeiro arquiteto.
As pessoas já se inclinavam por ele quando o segundo disse apenas:
“Senhores atenienses, o que este acaba de dizer eu vou fazer”.
Montaigne cita seu pensador predileto, o romano Sêneca, segundo o
qual nos grandes arroubos da eloqüência há “mais ruído que sentido”.
Escreveu Montaigne: “Gosto de uma linguagem simples e pura, a escrita
como a falada, e suculenta, e nervosa, breve e concisa, não delicada e
louçã, mas veemente e brusca. Uma linguagem sem afetação, expressiva em
todos os seus aspectos, não uma linguagem pedante, fradesca, ou de
advogado, mas de preferência soldadesca como Suetônio qualifica a de
Júlio César, embora eu não perceba muito bem por quê”.
Os espartanos eram admirados por Montaigne pela simplicidade com que viviam e se expressavam.
Ele conta que uma vez perguntaram a uma autoridade de Esparta por
que não colocavam por escrito as regras da valentia para que os jovens
pudessem lê-las.
A resposta foi que os espartanos queriam acostumar seus jovens antes
aos feitos que às palavras. “O mundo é apenas tagarelice e nunca vi
homem que não dissesse antes mais do que menos do que devia”, disse
Montaigne.
Outro mestre de Montaigne, Plutarco, autor de Vidas Paralelas,
mostrou que falar demais pode ser perigoso. “A palavra expõe-nos, como
nos ensina o divino Platão, aos mais pesados castigos que deuses e
homens podem infligir”, disse Plutarco. “Mas o silêncio jamais tem
contas a dar. Não só não causa sede como confere um traço de nobreza.”
Não falar nada é, não raro, a melhor coisa que temos a dizer, mas uma
força irresistível parece sempre nos empurrar para o “mundo da
tagarelice” tão bem definido por Montaigne.
E então, estamos condenados a produzir “mais ruído que sentido”, para lembrar a grande tirada de Sêneca.
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* O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor
editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-os-filosofos-recomendam-que-nos-calemos/26/07/2013
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