Anselm Grün*
Na minha opinião, existem duas formas de fugir à banalidade e à rotina do quotidiano.
A primeira consiste em conservar uma certa distância,
também em termos espaciais, da área do quotidiano. Posso recolher-me
frequentemente no silêncio. Posso retirar-me para o lugar onde costumo
meditar e fazê-lo em silêncio. Posso entrar numa igreja e simplesmente
ficar lá em silêncio, ou assistir a uma missa.
Procurar um lugar diferente é, num sentido mais amplo,
uma nova qualidade. Para mim, esses são momentos sagrados. Sagrado é
aquilo que é extraído do mundo. O tempo sagrado pertence a Deus e
pertence-me a mim.
Nessa altura, as pretensões do quotidiano não têm
qualquer poder sobre mim. Nessa altura, não sou controlado pelas
reuniões, nem pelas pessoas, nem mesmo pelas suas expectativas. Nessas
altura, posso respirar bem fundo e ser eu próprio.
Sinto necessidade destes locais e momentos sagrados,
para não sucumbir sob o peso dos meus afazeres, e recorrentemente poder
entrar em contacto com o meu verdadeiro ser, que se distancia do
quotidiano. É aí que o meu verdadeiro ser se encontra, que Deus vem ter
comigo. É sempre Ele que me liberta da rotina do quotidiano e da
pressão das pessoas que me cercam.
A segunda forma consiste, para mim, em aceitar a
banalidade e a rotina do meu quotidiano, e em descobrir qualquer coisa
especial precisamente naquilo que parece normal.
O meu quotidiano tem, frequentemente, a mesma evolução.
Levanto-me sempre à mesma hora. Faço o mesmo trabalho - que nem sempre
é interessante.
No entanto, ao aceitar o caráter mediano do meu
quotidiano, este transforma-se, para mim, num importante campo de
treino espiritual, uma vez que é lá que exercito a lealdade; a lealdade
para comigo, para com as pessoas e para com Deus. Entrego-me a este
trabalho, às pessoas com quem me encontro hoje.
Nesse caso, o quotidiano não é uma coisa vazia, mas sim
o local onde pratico e concretizo o meu amor. Se assim for, terei
também encontros no meu quotidiano que me farão feliz.
E, de repente, o vazio transforma-se em plenitude, o
banal em sagrado e a rotina desabrocha para as surpresas divinas, nas
quais o carácter disponível do amor divino penetra na vivência dos meus
dias.
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* É monge beneditino, doutor em Teologia e administra a abadia beneditina de Münsterschwarzach.
In O livro das respostas de Anselm Grün, ed. Paulinas
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