Roberto Malvezzi (Gogó)*
O que ninguém pode negar, entretanto, é que Francisco
é um sinal dos tempos.
Francisco é bem-vindo. O Papa que deu um rosto humano ao papado
surpreende e deve surpreender novamente. É difícil imaginá-lo cumprindo o
ritual dos anteriores sem tentar algum gesto, alguma palavra que
confirme a grife de seu papado.
Essas Semanas Mundiais da Juventude tem origem nos papados anteriores
e vinham na lógica de reforçar a autoridade central do Papa. Era a
época da volta da grande disciplina, hierarquizada ao extremo, com o
Papa mandando nos bispos, os bispos nos padres, os padres nos leigos e
os leigos – como dizia o Orbe Católico de Brecht – rodeados pelos
cachorros, galinhas e porcos. Claro que a metáfora era referenciada num
mundo ainda rural, não esse agora da internet, das redes sociais, das
multidões nas ruas. Mas, João Paulo II era tipo popstar e assim desejava
encontrar-se com a juventude mundial.
O resultado dessa “igreja referenciada em si mesma” – na verdade a
hierarquia referenciada em si mesma – como já dizia o próprio Francisco,
deu no que deu, isto é, “uma igreja doentia”. Por isso, não há dúvida
que ele quer uma igreja mais dos pobres para os pobres e vai envidar
todos os esforços para que seus gestos pessoais e as estruturas
eclesiais sejam mais adequadas ao seu projeto de Igreja.
Francisco não gosta de cultos à personalidade e já mandou remover uma
estátua que lhe fizeram em Buenos Aires. Está mais interessado em
chamar a atenção para uma espiritualidade seguidora de Jesus, por seus
caminhos, pelos pobres, que chamar a atenção sobre si mesmo. Ele não é
adepto da papalatria. Esperamos que assim continue, porque a mosca azul
do poder não poupa ninguém, nem mesmo os papas.
O que ninguém pode negar, entretanto, é que Francisco é um sinal dos tempos.
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*Roberto Malvezzi (Gogó),
Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia
e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
Foto: Tomaz Silva/ABr
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/07/22/
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