Clóvis Rossi*
Novo escândalo envolvendo importante prelado e o abuso contra crianças estarão na pauta do papa?
O papa Francisco chega ao Brasil à sombra de mais um escândalo no
Vaticano, ligado à sexualidade. Ou, no caso, à homossexualidade.
A edição da revista "L'Espresso" nas bancas desde quinta-feira trata do
caso que, ao que tudo indica, provocou uma menção de passagem do próprio
papa ao "lobby gay" faz pouco. Trata-se do dossiê sobre monsenhor
Battista Ricca, prelado para o IOR (Instituto para Obras Religiosas), o
banco do Vaticano, foco permanente de escândalos.
Mas o dossiê da revista não trata do IOR e, sim, da "conduta
escandalosa" de Ricca e de seu íntimo amigo Patrick Haari, um capitão do
Exército suíço. O termo "conduta escandalosa", sempre de acordo com
"L'Espresso", aparece em dossiê enviado ao Vaticano pelo núncio
apostólico em Montevidéu, Janusz Bolonek, relatando fatos ocorridos
durante estada na capital uruguaia de Ricca e de Haari.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, negou validade à
reportagem de "L'Espresso", mas a direção da revista disse que não
adianta fingir que não há dossiê.
Não é o único problema ligado a sexo que o papa em tese será obrigado a
abordar durante a visita ao Brasil, se ele pretende mesmo --como disse
outro dia Frei Betto-- fazer de sua estada "a semana inaugural do
papado".
O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas está se preparando para
questionar a Igreja Católica sobre seu comportamento ao tratar de abusos
sexuais de crianças por parte de clérigos --uma mancha que vem de
longe, foi subestimada no papado de João Paulo 2º, enfrentada com mais
energia por Bento 16 e acabou sobrando para seu sucessor.
Agora, o Comitê pelos Direitos das Crianças, com base em Genebra,
prepara uma lista de temas para apresentar ao Vaticano, desafiando-o a
fornecer os registros das compensações financeiras dadas às vítimas de
abuso e os acordos secretos que foram feitos para preservar a reputação
da igreja.
É justo dizer que o papa Francisco parece ainda mais determinado que
seus antecessores a lidar vigorosamente com o tema, tanto que já propôs
endurecer a legislação a respeito, movimento muito mais significativo do
que trocar papamóvel por jipe, dormir em um quarto simples e outros
detalhes do gênero. São gestos simpáticos, mas que não tocam nas feridas
ainda abertas na pele da igreja.
Se a Jornada Mundial da Juventude seguir o "script" imaginado por dom
Cláudio Hummes, o papa muito provavelmente será sabatinado em torno
desses temas. O cardeal Hummes disse à rádio Vaticana que não basta
falar aos jovens ou celebrar a missa com eles. É preciso que "os jovens
façam as perguntas sobre os temas que quiserem; devem mostrar-nos o que
lhes interessa saber, quais são as grandes questões que levam no coração
e na mente".
Parece impossível que os jovens católicos (e os não católicos também, é
claro) gostariam de saber do novo papa como vai limpar a mancha dos
abusos sexuais e, também, se tratará do homossexualismo de uma maneira
menos preconceituosa. A ver.
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* Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 21/07/2013
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