domingo, 28 de julho de 2013

O papa e o povo

Carlos Heitor Cony*
 

Por motivo de edição, escrevo esta crônica dois dias antes de terminar a Jornada Mundial da Juventude. Não dá para fazer um comentário completo, mas já tenho alguns elementos para um juízo pessoal e, tanto quanto possível, isento do grande evento que o Rio está vivendo. 

Comecemos pelas falhas: aquela chegada do papa no trajeto entre o Galeão e a catedral. Falhou tudo. Os batedores estavam em outra pista, o carro ficou totalmente bloqueado, dando sopa para um incidente, atropelamento de fiéis, brigas com os seguranças, sem falar na possibilidade de um atentado. Nota zero para os organizadores do roteiro. 

Uma despesa fenomenal foi feita em Guaratiba, que seria o local da acolhida oficial do papa. A chuva fez da esplanada um lamaçal e a cerimônia teve de ser transferida para Copacabana. Os promotores do evento não levaram em conta a possibilidade de uma chuva constante --a despesa foi feita, inclusive com a construção de um altar bem bolado. Tudo inútil. 

É bem verdade que as falhas poderão alertar as autoridades nos próximos eventos mundiais. Os latinos diziam que é errando que se aprende. Fifa, Comitê Olímpico e o governo anfitrião da Copa e da Olimpíada devem prever alternativas para que tudo corra bem e sem despesas inúteis. 

Agora, dois sucessos que devemos registrar com alegria: o papa e o povo. O povo já tem tradição de festa, desde os tamoios que ficaram assanhadíssimos quando aqui chegaram as caravelas. 

O papa foi uma surpresa. Aguentou firme as cerimônias, caiu no gosto de todos, foi simples, não fez proselitismo explícito e abriu espaço para o bom humor, falando na água do feijão e no ódio que o carioca tem do frio e da chuva. Obrigou o craque Oscar Schmidt, campeão de basquete, a declarar, a partir de agora, o seu amor definitivo por um argentino. 
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* Escritor. Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 28/07/2013
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