O pontífice encontra os peregrinos que vieram ao Brasil reafirmar sua fé católica
Colégio Notre Dame, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro, terça-feira
(23). Dezenas de jovens estão sentados no pátio interno e nas
escadarias, após o café da manhã. Negros, louros ou orientais, conversam
em grupos separados, em línguas diferentes. Aos poucos, o som de um
atabaque domina o ambiente e chama a atenção. É o ritmo do Gwo-Ka,
tradicional liturgia que encerra as missas católicas em Guadalupe,
conjunto de pequenas ilhas no Caribe. A música de batida africana,
cantada em francês, fala de Jesus Cristo. Outros grupos se aproximam,
atraídos pelo ritmo. Empunham bandeiras de Congo, República Dominicana,
Suriname, Noruega e França. Todos se envolvem numa coreografia tribal,
com braços para o alto e gritos de “aleluia”. A música se transforma num
grande coro que toma a escola. Em seguida, pouco depois da festa
católica de Guadalupe, o pátio do colégio é tomado por uma cerimônia
mais contida. Jovens suíços celebraram uma missa em francês, com músicas
em latim.
As cenas, em sua tocante diversidade, ilustram os diferentes sotaques
que o catolicismo ganhou pelo mundo nos últimos séculos. Todos eles se
reuniram, simbolicamente, ao redor do papa Francisco,
anfitrião no Rio de Janeiro da 28ª Jornada Mundial da Juventude, que
reuniu um número estimado em 350 mil peregrinos de 175 nacionalidades.
Foi a estreia do novo papa no cenário internacional e constituiu, para
multidões de fiéis, uma experiência pessoal e religiosa de grande
intensidade.
A alegria dos rapazes e moças andando pelas ruas do Rio, com roupas e mochilas coloridas, esconde a realidade de uma viagem difícil para a maioria deles. Os 162 peregrinos de Guadalupe vieram ao Brasil num voo fretado, bancado com dinheiro pedido nas ruas. Dormiram no chão do Notre Dame, 17 em cada sala de aula. Para tomar o café da manhã – pequenas caixas de papelão servidas com suco de frutas, achocolatado, bolo de baunilha, biscoitos e um pedaço de queijo –, os jovens sentavam-se no chão. Numa das semanas mais frias das últimas décadas, tomaram banho com água gelada, ao ar livre, em cabines de madeira protegidas por cortinas. “A água é fria, mas a pressão é boa”, diz Emmanuel Mwine, de 28 anos, de Gana, ao sair do chuveiro sob uma garoa fina.
A alegria dos rapazes e moças andando pelas ruas do Rio, com roupas e mochilas coloridas, esconde a realidade de uma viagem difícil para a maioria deles. Os 162 peregrinos de Guadalupe vieram ao Brasil num voo fretado, bancado com dinheiro pedido nas ruas. Dormiram no chão do Notre Dame, 17 em cada sala de aula. Para tomar o café da manhã – pequenas caixas de papelão servidas com suco de frutas, achocolatado, bolo de baunilha, biscoitos e um pedaço de queijo –, os jovens sentavam-se no chão. Numa das semanas mais frias das últimas décadas, tomaram banho com água gelada, ao ar livre, em cabines de madeira protegidas por cortinas. “A água é fria, mas a pressão é boa”, diz Emmanuel Mwine, de 28 anos, de Gana, ao sair do chuveiro sob uma garoa fina.
O que essa gente veio fazer aqui em tamanho desconforto? Há diferentes
respostas para isso. Uma delas: o catolicismo é uma religião em crise. A
Igreja perdeu participação em seu berço europeu e mesmo na jovem
América Latina. A Jornada é uma oportunidade de criar laços, reforçar
identidades e compartilhar diferenças. Os jovens vieram ao Brasil
reforçar, na presença um do outro, uma fé que boa parte do mundo já não
percebe como óbvia. “Os cardeais foram me buscar quase no fim do mundo”,
disse, em março, o argentino Jorge Bergoglio, em seu primeiro discurso
como papa Francisco. Para grande parte dos peregrinos, a viagem ao
Brasil cumpre papel semelhante: buscar no fim do mundo, no maior país
católico da atualidade, a renovação de seus próprios sentimentos
católicos. Na diferença, encontram a unidade.
O suíço Sebastien Baertschi, de 32 anos, natural de Genebra, diz que descobriu no Brasil um catolicismo mais alegre. “Em meu país, não temos problema de dinheiro, segurança, essas coisas”, diz. “Mas a sociedade é muito individualista, por isso há uma grande tristeza. Aqui, vejo dificuldade, mas há alegria no ar.” De acordo com ele, a peregrinação em si é mais importante que o encontro com o papa. “Vim trocar experiências com outros jovens e sair fortalecido em nossa fé católica”, diz. O ganês Mwine afirma que a religião passa por uma transição na África, com o uso dos dialetos locais nas missas e na tradução da Bíblia. “Sou o primeiro da minha família a ver um papa”, afirma. É de Gana o cardeal Peter Turkson, um dos mais fortes concorrentes do argentino Jorge Mario Bergoglio na sucessão de Bento XVI. Sem bairrismo, Mwine se mostrava entusiasmado com o novo pontífice. “É importante ouvir a mensagem de Francisco. Ele é uma pessoa simples, diferente do alemão”, diz.
O suíço Sebastien Baertschi, de 32 anos, natural de Genebra, diz que descobriu no Brasil um catolicismo mais alegre. “Em meu país, não temos problema de dinheiro, segurança, essas coisas”, diz. “Mas a sociedade é muito individualista, por isso há uma grande tristeza. Aqui, vejo dificuldade, mas há alegria no ar.” De acordo com ele, a peregrinação em si é mais importante que o encontro com o papa. “Vim trocar experiências com outros jovens e sair fortalecido em nossa fé católica”, diz. O ganês Mwine afirma que a religião passa por uma transição na África, com o uso dos dialetos locais nas missas e na tradução da Bíblia. “Sou o primeiro da minha família a ver um papa”, afirma. É de Gana o cardeal Peter Turkson, um dos mais fortes concorrentes do argentino Jorge Mario Bergoglio na sucessão de Bento XVI. Sem bairrismo, Mwine se mostrava entusiasmado com o novo pontífice. “É importante ouvir a mensagem de Francisco. Ele é uma pessoa simples, diferente do alemão”, diz.
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Reportagem por MARCELO BORTOLOTI (TEXTO) E HAROLDO CASTRO (FOTOS)
27/07/2013 01h00
- Atualizado em
27/07/2013 01h27
>>Trecho de reportagem de ÉPOCA desta semana.
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