Torquato*
Ao lembrar que a juventude é a “janela pela qual o futuro entra no
mundo”, no discurso que abriu sua agenda no país, o papa Francisco quis
ressaltar o motivo de sua peregrinação — presença na Jornada Mundial da
Juventude — e também alertar os políticos que aos jovens devem ser dadas
condições para exercer de maneira condigna seu papel na sociedade. Foi
bastante claro: “a nossa geração se demonstrará à altura da promessa
contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço”. Um recado
adequado no momento oportuno para a plateia certa. A população jovem
brasileira soma 51 milhões de pessoas — 10 milhões entre 15 a 17 anos,
23,1 milhões entre 18 a 24 anos e 17,5 milhões entre 25 a 29 anos —
sendo, nos últimos tempos, o motor da mobilização social nas grandes e
médias cidades do país. Como agrupamento mais descontente com a classe
política, desfralda o simbolismo citado pelo carismático pontífice para
fustigar as fortalezas do poder e, à sua maneira, aplainar os caminhos
de um amanhã que se lhe apresenta sombrio, uma existência que ameaça ser
mais sofrida que a de seus pais.
O fato é que aos jovens não tem sido oferecido espaço para participação mais efetiva no processo político-institucional. Não que lhes seja tolhido o direito de ingressar na vida pública. O que os afasta da esfera política são as formas tradicionais de representação, o modus operandi dos atores, as ações e atitudes escandalosas que sujam a imagem dos representantes nas instâncias federativas. Pesquisa feita por Época/Retrato mostra que apenas 1% dos jovens é filiado a partido político, o que não quer dizer desinteresse pela política, eis que dois em cada cinco adolescentes entre 16 e 18 anos gostariam de seguir carreira política em uma moldura partidária mais limpa. Outro mapeamento, feito pelo Centro de Pesquisas do Instituto Paulista de Adolescência, revela que menos de 20% dos jovens de 16 a 18 anos possuem título de eleitor. (...) Não é de surpreender que as temáticas de interesse dos jovens, a partir da educação, ficam longe das pautas congressuais. Quando o assunto é pertinente — como a questão dos cursos de medicina e importação de médicos — a voz da estudantada avoluma-se em protestos.
Na verdade, as políticas públicas voltadas para as causas dos jovens são pontuais e segmentadas. (...) Porém, os jovens da classe média tradicional não foram contemplados com programas orientados para o aperfeiçoamento de suas condições educacionais e profissionais, o que acaba contribuindo para adensar a contrariedade no meio da pirâmide social. Seus horizontes ficaram mais turvos, contribuindo para fortalecer a cadeia de mobilização e unindo elos da corrente de indignação que agrega muitos parceiros. (...)
Entender o jovem exige, primeiro, inseri-lo no quadro de transformações ocorridas nas últimas décadas. Karl Popper e Konrad Lorenz constatam, em sua obra “O Futuro Está Aberto”, a existência de um abrangente processo de massificação na sociedade, caracterizado, sobretudo, pela perda de valores. O fim da Guerra Fria desfez as clássicas divisões ideológicas. Os países romperam fronteiras, integrando-se aos mercados globais e acompanhando a evolução tecnológica. O capital físico, variável-mor do crescimento econômico, cedeu lugar ao capital humano, caracterizado pelo conjunto de capacitações que as pessoas ganham por meio da educação, do treinamento e da experiência para desempenhar suas atividades com competência. Essa é a nova ordem que instiga os jovens. Quando falta a matéria prima deste novo ciclo — que caracteriza a Sociedade da Informação e do Conhecimento — a frustração se estabelece. Da frustração para a revolta, o passo é curto, a rebeldia se impõe. Não estão os jovens preocupados com ideologia, direita ou esquerda. Pode ser que, em um ou outro país, o fundamentalismo de cunho religioso seja o leit motiv das mobilizações. Por aqui, o pragmatismo abre alas. Nossos jovens não vivenciaram os anos de chumbo. Apenas uns poucos ouviram de seus pais os ecos dolorosos do passado. A preocupação que os move agrega coisas como educação, emprego, melhoria dos serviços públicos. Reivindicam condições para competir em um mercado cada vez mais exigente.
Se nossa geração não souber abrir espaço para a juventude, a janela do futuro ficará fechada. Abram os ouvidos, políticos e dirigentes, à profecia desse jesuíta, o papa Francisco.
O fato é que aos jovens não tem sido oferecido espaço para participação mais efetiva no processo político-institucional. Não que lhes seja tolhido o direito de ingressar na vida pública. O que os afasta da esfera política são as formas tradicionais de representação, o modus operandi dos atores, as ações e atitudes escandalosas que sujam a imagem dos representantes nas instâncias federativas. Pesquisa feita por Época/Retrato mostra que apenas 1% dos jovens é filiado a partido político, o que não quer dizer desinteresse pela política, eis que dois em cada cinco adolescentes entre 16 e 18 anos gostariam de seguir carreira política em uma moldura partidária mais limpa. Outro mapeamento, feito pelo Centro de Pesquisas do Instituto Paulista de Adolescência, revela que menos de 20% dos jovens de 16 a 18 anos possuem título de eleitor. (...) Não é de surpreender que as temáticas de interesse dos jovens, a partir da educação, ficam longe das pautas congressuais. Quando o assunto é pertinente — como a questão dos cursos de medicina e importação de médicos — a voz da estudantada avoluma-se em protestos.
Na verdade, as políticas públicas voltadas para as causas dos jovens são pontuais e segmentadas. (...) Porém, os jovens da classe média tradicional não foram contemplados com programas orientados para o aperfeiçoamento de suas condições educacionais e profissionais, o que acaba contribuindo para adensar a contrariedade no meio da pirâmide social. Seus horizontes ficaram mais turvos, contribuindo para fortalecer a cadeia de mobilização e unindo elos da corrente de indignação que agrega muitos parceiros. (...)
Entender o jovem exige, primeiro, inseri-lo no quadro de transformações ocorridas nas últimas décadas. Karl Popper e Konrad Lorenz constatam, em sua obra “O Futuro Está Aberto”, a existência de um abrangente processo de massificação na sociedade, caracterizado, sobretudo, pela perda de valores. O fim da Guerra Fria desfez as clássicas divisões ideológicas. Os países romperam fronteiras, integrando-se aos mercados globais e acompanhando a evolução tecnológica. O capital físico, variável-mor do crescimento econômico, cedeu lugar ao capital humano, caracterizado pelo conjunto de capacitações que as pessoas ganham por meio da educação, do treinamento e da experiência para desempenhar suas atividades com competência. Essa é a nova ordem que instiga os jovens. Quando falta a matéria prima deste novo ciclo — que caracteriza a Sociedade da Informação e do Conhecimento — a frustração se estabelece. Da frustração para a revolta, o passo é curto, a rebeldia se impõe. Não estão os jovens preocupados com ideologia, direita ou esquerda. Pode ser que, em um ou outro país, o fundamentalismo de cunho religioso seja o leit motiv das mobilizações. Por aqui, o pragmatismo abre alas. Nossos jovens não vivenciaram os anos de chumbo. Apenas uns poucos ouviram de seus pais os ecos dolorosos do passado. A preocupação que os move agrega coisas como educação, emprego, melhoria dos serviços públicos. Reivindicam condições para competir em um mercado cada vez mais exigente.
Se nossa geração não souber abrir espaço para a juventude, a janela do futuro ficará fechada. Abram os ouvidos, políticos e dirigentes, à profecia desse jesuíta, o papa Francisco.
------------
* Gaudêncio Torquato, jornalista, analista político e consultor comunicação http://facebook.com/GTComunicacao. Brasil.
Fonte: Correio Popular, 31/07/2013
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário