segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ensinando máquinas a pensar

JOHN MARKOFF*

Cientistas da Universidade de Stanford avançam na criação de uma inteligência artificial, projeto que teve início há quase 50 anosOs computadores pessoais e as tecnologias que levaram à invenção da internet foram majoritariamente criadas nas décadas de 1960 e 1970 em três laboratórios de pesquisa próximos ao campus da Universidade deStanford (EUA).
Um dos laboratórios, o Centro de Pesquisa Doublas Engelbart, tornou-se conhecido pela invenção do mouse. Um segundo, o Centro de Pesquisa da Xerox em Palo Alto, desenvolveu o Alto, o primeiro computador pessoal moderno. Mas o terceiro, o Laboratório de Inteligência Artificial de Stanford (Sail, na sigla em inglês) administrado pelo cientista da computação John McCarthy, obteve reconhecimento menor. A falta de destaque pode ser atribuída ao fato de que o Sail lidou com um problema mais difícil: construir um sistema de inteligência artificial.

Por volta de meados dos anos 1980, muitos cientistas viram esse esforço como um fracasso. A expectativa era mais promissora em 1963, quando McCarthy começou sua pesquisa. Sua proposta inicial para o Pentágono previa que construir uma máquina pensante levaria aproximadamente uma década. Não deu certo, mas, depois de 47 anos, muito do otimismo original está de volta, motivado por progressos rápidos nas tecnologias de inteligência artificial. A expectativa era tangível no último mês, quando mais de 200 dos cientistas originais do Sail reuniram-se.

Durante os primeiros 10 anos, os pesquisadores do laboratório embarcaram em um extraordinariamente rico conjunto de desafios técnicos e científicos que ainda estão nas fronteiras da ciência da computação, incluindo visão mecânica e manipulação robótica. McCarthy cunhou o termo “inteligência artificial” nos anos 1950, mas o restante da equipe também era um autêntico quem é quem no mundo da computação (veja quadro à direita).

O laboratório fundiu-se com o Departamento de Ciências da Computação de Stanford em 1980, reabriu em 2004 e está agora passando por um renascimento. Sua trajetória pode ser vista no progresso feito desde 1970, quando um pesquisador programou um robô para seguir automaticamente uma linha branca em condições de luminosidade controlada a 1,3 km/h. Trinta e cinco anos depois, um time de pesquisadores em inteligência artificial de Stanford equiparia um Volkswagen Touareg com lasers, câmeras e um conjunto de computadores para dirigir por conta própria por mais de 210 quilômetros de estradas montanhosas na Califórnia a uma velocidade média de 30 km/h.

– Agora, somos um parâmetro, com os mais fortes avanços recentes no campo – afirma Sebastian Thrun, roboticista que dirige o Sail e foi um dos líderes da equipe que projetou o veículo que viajou sozinho.

A reunião dos antigos pesquisadores também revelou o que está por vir. Durante o encontro, os pesquisadores atuais do Sail exibiram um vídeo do chamado Projeto do Helicóptero Autônomo de Stanford, que mostra uma aeronave fazendo uma série de manobras impossíveis para um piloto humano. A demonstração foi instigante porque o sistema de pilotagem primeiro captou as manobras de um piloto de carne e osso para depois aprimorá-las. Um exemplo de como máquinas podem aprender. Mas e a criação de uma verdadeira inteligência artificial? A questão ainda permanece em aberto.

Eles criaram o futuro

Alguns pesquisadores que passaram pelo Laboratório de Inteligência Artificial de Stanford (Sail) encontraram-se recentemente. Veja suas contribuições à ciência:

- John McCarthy – Antes de ingressar no Sail, desenvolveu a linguagem de programação LISP e inventou a abordagem de tempo compartilhado (o tempo ocioso entre os processos é compartilhado com outros processos para dinamizar o sistema) para os computadores.

- Les Earnest – Projetou o primeiro corretor ortográfico e é apontado como o pai das redes sociais e dos blogs. Isso porque ele criou um comando que possibilitava informar onde os usuários de computadores do laboratório estavam e o que eles faziam naquele momento.

- Raj Reddy e Hans Moravec – Foram pioneiros no reconhecimento de voz e em robótica na Universidade Carnegie Mellon (EUA).

- Alan Key – Trouxe o conceito de seu computador portátil Dynabook, primeiro para a Xerox e depois para a Apple.

- Larry Tesler – Desenvolveu a filosofia da simplicidade nas interfaces de computação que viria a definir o visual e o funcionamento das telas dos computadores modernos da Apple, a chamada interface gráfica.

- Don Knuth – Escreveu textos definitivos sobre programação de computadores.

- Joel Pitts – Graduado por Stanford, transformou uma versão do jogo de computador Space War no primeiro videogame operado por moedas – instalado na cafeteria da universidade – meses antes de Nolam Bushnell fazer o mesmo com o Atari.

- Joshua Lederberg – Geneticista ganhador do prêmio Nobel, trabalhou com Edward Feigenbaum, cientista da computação, em um esforço para aplicar técnicas de inteligência artificial na criação de um software que agisse como um especialista em medicina.

Tradução: Fernanda Grabauska

*The New York Times

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