sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A necessidade de reconhecimento

Maria Regina Canhos Vicentin*


Existem pessoas que desde a infância buscam chamar a atenção para si. Às vezes, são mais barulhentas e irrequietas, falam sem parar, aprontam travessuras, choram constantemente, ficam “emburradas” por qualquer motivo. Não há como esquecê-las, pois a todo o momento se fazem lembrar pelos comportamentos que apresentam. Exceções à parte, grande número dessas pessoas sente a necessidade de ser estimada e reconhecida.

Quando uma criança se sente ignorada, quer propositalmente quer em função dos inúmeros afazeres com os quais os pais intercalam seus cuidados, tende a se sentir sem importância. Muitas seguem pela vida afora com um sentimento de menos valia, ainda que esse não seja realmente o caso. Enquanto algumas optam pelo isolamento ou pela busca de afeição e reconhecimento fora do âmbito familiar, a maioria procura chamar a atenção inicialmente dentro da própria família, tendo atitudes muitas vezes reprováveis. Alguns pais não se dão conta de como uma atitude pode influenciar toda uma vida.

Hoje é bastante comum as pessoas buscarem o sucesso e o poder econômico. Muitos o fazem apenas para provarem aos pais, principalmente, que são competentes e capazes. Isso, não raras vezes, reflete a forma como esse indivíduo sentiu a sua presença no lar. Crianças ignoradas, desprezadas e humilhadas têm uma maior tendência à insistentemente desejarem chamar a atenção e galgar postos de poder, a fim de provar que embora não lhes dessem o devido valor elas o possuem agora publicamente reconhecido.

O trauma é tão grande, no entanto, que embora alcançando o reconhecimento público, o poder, o status financeiro, ainda se sentem intimamente carentes de aceitação e atenção, aquelas mesmas que não tiveram quando pequeninas. É por isso que muitas dessas pessoas que enriquecem rapidamente aceitam de bom grado o assédio de bajuladores que, apesar de fingidos, passam a sensação de estarem reconhecendo méritos.

A solução para esse problema reside dentro de cada um. É preciso que primeiro a pessoa se aceite e se ame verdadeiramente para que depois possa se sentir aceita e amada pelo outro. Ao delegarmos a nossos pais essa autoridade, esquecemos que eles também são pessoas falíveis e limitadas. Ainda que reconheçamos que não souberam nos amar como realmente éramos, precisamos entender que fizeram o seu melhor possível dentro das condições que tinham à época dos fatos. Precisamos perdoá-los e tentar fazer diferente com nossos próprios filhos. Não há garantia de sucesso, mas com essa consciência a chance de acertar é com certeza maior. Todos somos importantes. Quando assimilarmos isso não precisaremos mais provar nada a quem quer que seja.
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Postado no Jornal O Lutador, 11 a 20 março de 2009, pg. 11.
Site da autora: www.mariaregina.com.br.

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