Robert Samuelson*
Os Estados Unidos estão envelhecendo e tornando-se resistentes a mudanças. A saída para o país pode estar no empreendedorismo
Uma questão insistente no início de uma nova década envolve os efeitos remanescentes da anterior: que cicatrizes a Grande Recessão vai deixar? Já estamos vendo algumas. Os americanos estão se mudando menos do que em qualquer período desde a Segunda Guerra Mundial, segundo o demógrafo William Frey, da Brookings Institution. As pessoas estão presas às casas existentes, não conseguem empréstimos para novas e não se mudam para outros lugares sem emprego assegurado, diz Frey.
Com um mercado de trabalho terrível, os jovens também parecem mais cautelosos. Um levantamento da Fidelity Investments mostra que um quarto dos trabalhadores com idades entre 22 e 33 anos quer ficar com seus atuais empregadores até a aposentadoria. Em 2008, eram só 14%.
John Irons, do Instituto de Política Econômica, teme que muitos jovens adiem a entrada na faculdade ou a abandonem, baixando seu poder aquisitivo no longo prazo. A cicatriz mais feia da Grande Recessão, então, poderia ser uma era de frustração econômica, caracterizada por crescimento mais lento e competição agressiva por recursos escassos.Estupefatos por enormes perdas de riqueza em ações e imóveis, americanos poupam mais e gastam menos. Empresas sofrem com demanda fraca. Pior, o desaquecimento coincide com uma população envelhecendo. Em 2020, o número de americanos com 55 anos ou mais alcançará quase 100 milhões, 29% do total, ante 59 milhões, ou 21%, em 2000. “Gente mais jovem tende a ser mais inovadora, mais disposta a correr riscos, mais inclinada a fazer as coisas de um jeito diferente”, diz o economista Paul Romer, da Universidade Stanford. A turbulência de hoje pode tornar mesmo os jovens mais avessos a risco. Ou gente mais velha pode dominar as hierarquias corporativas. Uma sociedade envelhecida pode tornar-se uma sociedade teimosa, protetora do status quo e resistente a mudanças.
Um quarto dos trabalhadores americanos de 22 a 33 anos quer ficar
com seus atuais empregadores até a aposentadoria
Contra essa perspectiva sombria, a réplica-padrão evoca a história. A economia dos Estados Unidos é espantosamente resiliente. Tem sido uma consistente criadora de postos de trabalho: 21 milhões nos anos 70, 18 milhões nos 80, 17 milhões nos 90, 12 milhões de 2000 a 2007. Uma cultura do “dá para fazer” – combinando ambição intensa com flexibilidade para adaptar-se e instinto de inovação – assegura que a economia vai se recuperar vigorosamente, no fim das contas. A dura recessão pode ter, na verdade, melhorado a perspectiva de longo prazo, purgando a economia das empresas de alto custo e forçando a eficiência. A produtividade subiu 4% no ano passado.
Que visão vai prevalecer? A resposta pode depender de duas coisas: comércio e empreendedorismo. Muitos economistas veem exportações mais fortes como um substituto para um consumo interno mais fraco. Infelizmente, isso depende pesadamente de crescimento econômico e políticas comerciais no exterior. Em compensação, empreendedorismo é algo que depende apenas dos americanos.
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* Robert J. Samuelson, jornalista americano, é colunista da Revista Newsweek Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI120273-16649,00.html
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