domingo, 4 de julho de 2010

Cinco bilhões de celulares

Ethevaldo Siqueira


O mundo quebrou na semana passada a barreira dos 5 bilhões de celulares em serviço, segundo previsão da União Internacional de Telecomunicações (UIT). A expansão da telefonia móvel no mundo tem sido impressionante: em 30 anos, saltou de poucos milhares para os atuais 5 bilhões de celulares. Desde janeiro de 2009, alcança a média de 1,5 milhão de novos aparelhos por dia. Ou de 548 milhões por ano.

Nenhum outro meio de comunicação tem crescido com a rapidez do celular em escala mundial, pois, em 30 anos, ele alcançou a marca de 5 bilhões de acessos.

O computador, em 32 anos, não atingiu 1,9 bilhão de usuários. A televisão, em 63 anos, chega a apenas 1,8 bilhão. A internet, 1,8 bilhão em 20 anos.

Trinta países já têm mais celulares do que habitantes. A Itália tem 178 acessos móveis por 100 habitantes. Portugal, 155. Os países escandinavos, mais de 130. A Argentina, 118. O Brasil deverá superar a densidade de 100% antes de novembro deste ano. E até dezembro, poderá quebrar a barreira dos 200 milhões de celulares em serviço.

Com 185 milhões de celulares em serviço, em junho de 2010, o Brasil é o quinto mercado do mundo em telefonia celular. Aliás, entre os cinco maiores mercado de celular, quatro deles são países do grupo Bric.

Confira, leitor: 1) China, com 777 milhões de celulares; 2) Índia, 584; 3) Estados Unidos, 293; 4) Rússia, 212; 5) Brasil, 179 milhões (dados estatísticos de março de 2010).

O nascimento. Ao longo de meu trabalho profissional, tive a oportunidade de ver o nascimento da primeira geração (1G) do celular em três momentos históricos.

O primeiro deles foi uma demonstração pública da nova telefonia sem fio que testemunhei na Suécia, em junho de 1981, quando acompanhava a visita do então ministro das Comunicações do Brasil, Euclides Quandt de Oliveira. Tive, então, a oportunidade de testar um telefone celular veicular, transportável, que pesava mais de 8 quilos e cuja bateria não garantia mais do que 30 minutos de conversação. Fiz ligações locais e internacionais de dentro de um micro-ônibus e, depois, de um barco, navegando entre as muitas ilhas do arquipélago de Estocolmo.

Num segundo momento, em outubro de 1981, testemunhei a inauguração do sistema de telefonia celular da Arábia Saudita ? que, praticamente, só servia à família real.

Não me esqueço do impacto que me causou a experiência de usar um telefone celular naquela época, ao fazer ligações em pleno deserto da Arábia, a mais de 30 quilômetros de Riad.

Liguei para minha casa, em São Paulo, para redação do Estadão e contei a novidade. Naqueles tempos, falar ao telefone no meio de um deserto era quase ficção. Mas a ligação estava límpida, perfeita.

O terceiro momento aconteceu dois anos depois, no dia 13 de outubro de 1983, quando pude testemunhar, em Chicago, a inauguração do primeiro sistema comercial de telefonia celular de primeira geração (1G) das Américas, pela antiga AT&T, com a novíssima tecnologia AMPS (sigla pretensiosa de Advanced Mobile Phone System).

Brasil, 1990. O celular só chegou ao Brasil em 1990, com a inauguração dos sistemas de Brasília e da cidade do Rio de Janeiro. Na fase inicial desses sistemas, os aparelhos ainda eram do tipo veicular, e não os pequenos celulares portáteis que só chegaram em 1992. Na cidade de São Paulo, diversas ações judiciais atrasaram as licitações e a implantação da telefonia móvel, que só foi inaugurada em 6 de agosto de 1993, pela Telesp Celular.

O crescimento da base instalada foi explosivo a partir da privatização da Banda B, em 1996. Em São Paulo, a antiga operadora BCP (antecessora da Claro) instalou e pôs em operação 1 milhão de acessos móveis, em apenas 9 meses. Um recorde mundial para a época. E com a tecnologia digital TDMA (de Time Division Multiple Access). Nascia, então, no Brasil o celular de segunda geração (2G).

Em julho de 1998, eram privatizadas as 10 operadoras celulares do Sistema Telebrás, juntamente com as concessionárias fixas: Telemar (hoje, Oi), Brasil Telecom (hoje integrada à Oi), Telefônica e Embratel. A partir daí, superando as expectativas mais otimistas e ambiciosas, a telefonia celular tem crescido a taxas impressionantes: 5,8 milhões de celulares no dia da privatização (29-07-1998); 47 milhões, em 2003. Em janeiro de 2007, o País quebrava a barreira dos 100 milhões. Em junho de 2010, já eram 185 milhões. Brasília tem hoje mais de 160 celulares por 100 habitantes; Salvador, 143.

Terceira geração. O Brasil vive hoje a fase de expansão do celular de terceira geração (3G), que oferece banda larga, com protocolo IP, acesso à internet em velocidades de até 3,6 Megabits por segundo (Mbps) e centenas de aplicativos. No final de maio de 2010, já eram 13,3 milhões de celulares 3G, com acesso em banda larga. Até o final de 2011, todos os municípios do País deverão estar cobertos pela telefonia celular 3G.

O sucesso representado por esses números não significa, absolutamente, que tudo vá às mil maravilhas. Três problemas básicos precisam ser resolvidos com urgência. Às operadoras cabe melhorar o padrão de atendimento dos usuários. Ao governo, desonerar as tarifas da brutal carga tributária (43%) e fortalecer o poder fiscalizador da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
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Fonte: Estadão online, 04/07/2010

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