Genética:
Objetivo é oferecer teste para que as pessoas saibam se chegarão
à velhice avançada
Nir Barzilai, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, dos EUA: antecipar quem vai ou não viver mais de cem anos
Ao analisar o DNA das pessoas mais velhas do mundo, cientistas da Universidade de Boston descobriram um traço genético de longevidade, disseram ontem. Eles esperam começar a oferecer em breve um teste gratuito que permitirá às pessoas saber se carregam esse traço para viver até a velhice avançada.
Os pesquisadores, que estudaram mais de mil pessoas com idade acima de cem anos, identificaram um conjunto de 150 marcadores genéticos que, juntos, são associados à longevidade extrema. Eles reconheceram que não sabem ainda quais são todos os genes envolvidos, nem sua função em prolongar a velhice.
"É uma característica extremamente complexa que envolve vários processos", disse a pesquisadora-chefe Paola Sebastiani, bioestatística da Escola de Saúde Pública da universidade. Ainda assim, "nós podemos computar a sua predisposição específica para uma longevidade excepcional".
Os pesquisadores dizem que não têm planos de patentear a descoberta ou de lucrar com ela. Ao invés disso, eles esperam liberar este mês na internet um kit de testes para estimular a pesquisa sobre longevidade.
"É um grande avanço", disse Nir Barzilai, diretor do Instituto para Pesquisa do Envelhecimento da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York, que estuda a genética da longevidade mas não participou do projeto. "Isso mostra que 150 marcadores [entre milhões] são tudo de que você precisa para fazer a distinção entre as pessoas que vivem mais de cem anos e as que não."
Há muito tempo os cientistas tentam decifrar o código genético do envelhecimento saudável. Em média, pessoas que moram em países desenvolvidos podem hoje esperar viver entre 80 e 85 anos, graças em grande parte a melhoria na dieta e saúde pública. Mas os idosos mais longevos vivem décadas mais, normalmente livres das doenças mentais e físicas da idade.
A pessoa mais velha do mundo atualmente tem 116 anos, segundo o Grupo de Gerontologia de Los Angeles. De acordo com registros, a pessoa que mais viveu chegou aos 122 anos.
Ninguém conhece a receita completa para uma vida longa e saudável. Mas os genes que ajudam a controlar as respostas celulares à fome, à seca e à capacidade de sobrevivência a outros estresses podem ter um papel fundamental em barrar as doenças e problemas crônicos do envelhecimento, sugerem os cientistas.
Embora uma vida saudável seja importante, esses fatores genéticos parecem ser ainda mais determinantes quanto mais vivemos. De fato, uma variação em um único gene importante chamado FOX03A pode triplicar as chances de uma pessoa passar dos cem anos, informaram recentemente os pesquisadores do Instituto de Pesquisas Pacific Health, do Havaí.
Em uma pesquisa publicada na internet ontem pela revista "Science", Sebastiani, junto com o geriatra da Universidade de Boston, Thomas Perls, e outros colegas estudaram variações no código bioquímico do DNA retirado de pessoas que viveram um século ou mais. Todo o grupo analisado é membros do Estudo de Centenários da Nova Inglaterra, considerado o maior e mais abrangente estudo mundial sobre pessoas que vivem muito e suas famílias.
Os cientistas compararam padrões de variação genética desses idosos com os de pessoas que viveram dentro da média. Os marcadores genéticos que encontraram estão espalhados entre os 3 bilhões de caracteres do DNA do genoma humano e relacionados a pelo menos 70 genes conhecidos. Dependendo de hábitos pessoais, dietas, lesões, acidentes e outros fatores, esses genes aumentam as chances individuais de sobrevivência na loteria da vida, informam os cientistas.
A informação permitiu que os pesquisadores da Universidade de Boston identificassem aqueles que estão predispostos a uma longevidade excepcional com 77% de precisão em testes de controle, informaram eles.
"Agora, vamos ter que descobrir quais são todos esses genes, o que eles fazem e se existe uma forma de atuar sobre eles", diz o especialista em geriatria, Bradley Willcox, que não participou da pesquisa. Ele é um dos principais pesquisadores do estudo de longevidade do Havaí e do Estudo de Centenários de Okinawa, que envolve a análise de milhares de homens que estão envelhecendo.
Ao mesmo tempo, o teste estará disponível por meio de um site público mantido pelo Estudo de Centenários da Nova Inglaterra. Para fazer o teste, contudo, as pessoas terão de fornecer o próprio genoma completo, e isso pode custar milhares de dólares com as empresas de sequenciamento genético.
Os cientistas alertaram que o procedimento pode revelar mais do que algumas pessoas gostariam de saber. Testes genéticos normalmente revelam informações provocadoras, mas incompletas sobre nossos riscos de doenças, e é difícil saber o que fazer com essa informação. Pistas sobre a longevidade, por exemplo, podem afetar decisões sobre cobertura de seguro ou tratamentos médicos de longo prazo.
"Não acho que as pessoas estejam prontas para isso", disse Perls, da Universidade de Boston. "Mas eu não acho que isso vai impedir que as empresas tentem comercializar o teste", acrescentou.
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Reportagem: Robert Lee Hotz, The Wall Street Journal Fonte: Valor Econômico online, 02/07/2010
http://www.valoronline.com.br/?impresso/tecnologia_&_telecomunicacoes/277/6356997/estudo-busca-segredo-da-longevidade
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