segunda-feira, 5 de julho de 2010

O vacilo do Dunga

Fábio Toledo*

Na última sexta-feira, o Brasil experimentou a desolação da derrota na Copa do Mundo de futebol. Apesar de, no primeiro tempo, a Seleção brasileira apresentar uma boa atuação, com o primeiro gol da Holanda vemos os nossos jogadores perdidos e incapazes de esboçar uma reação. É interessante observar a atuação do técnico brasileiro. Diante dos erros da arbitragem, que em minha opinião muito atrapalhou o espetáculo, vemo-lo extremamente nervoso e irritado, a ponto de desferir um soco contra a estrutura que cobria o banco de reservas. De certo modo, é compreensível a reação do nosso treinador. Mas essa sua atuação terá contribuído, ou, pior ainda, teria sido determinante para que os jogadores também ficassem abalados emocionalmente a ponto de não conseguirem reagir?

Não tenho a resposta a essa indagação. Mas é certo que todo aquele que tem a missão de ser líder pode meditar nessa questão e tirar bons propósitos. Qual é a função do pai, do professor, do ministro religioso, da autoridade pública, enfim, de quem se lança a ser guia alguém? Em especial, como devem reagir diante das contrariedades ou mesmo injustiças, grandes ou pequenas, por que se passa, inexoravelmente, no dia a dia?

Mais que às palavras, os filhos e os alunos estão atentos aos gestos, às reações e às manifestações dos sentimentos de seus líderes em cada situação. O próprio caráter deles vai se forjando a partir desses exemplos. Por consequência, deve-se estar atentos, pois as atitudes sempre influem, positiva ou negativamente, na sua formação.

O líder há de ser sempre alguém que inspira confiança. Há de se encontrar neles a segurança, mesmo diante de condições adversas. O filho, numa situação de perigo, ao sentir a presença do pai ou da mãe, experimenta, no fundo da alma, uma sensação de proteção, ainda não se possa assegurar, humanamente falando, que sairão ilesos de uma adversidade.

Tomemos o exemplo de um filho ou de uma filha que, na sua adolescência, enfrenta as dificuldades de um primeiro namoro. Ainda que não o digam nem admitam, esperam - e têm direito a isso - encontrar no pai ou na mãe uma estabilidade emocional e afetiva capaz de ser para eles um modelo de como encarar esse relacionamento. No entanto, se o próprio pai ou a mãe estão partindo eles próprios para o quarto ou quinto namoro, todos eles recheados de brigas e rupturas, no mais das vezes decorrentes de uma tardia imaturidade, não conseguirão desempenhar o papel de guia que lhes cabe nessa situação.

Devo admitir que mal terminou o jogo tive imensa vontade de desligar a TV e sair a sós para uma caminhada, deixando as crianças entre choros e arrancando as bandeiras penduradas. Que péssimo exemplo de liderança! Seria mais ou menos como que o marinheiro ser o primeiro a abandonar o navio diante de um possível naufrágio...

O líder precisa ter bem claro que, apesar de o árbitro de futebol cometer erros gritantes, mesmo que os outros motoristas que circulam no trânsito façam barbaridades, ou ainda que estejamos passando por situações difíceis, deve haver um renovado esforço por ser um porto seguro no qual aqueles a quem lideram encontrem paz e serenidade.

Os filhos e os alunos têm direito de ver nos pais e professores alguém capaz de serenar as tempestades da vida, caminhando sobre as águas se preciso for. E por não ter condições de fazê-lo por suas próprias forças, o líder necessita se aproximar de um Pai e de um Mestre para que, assim fortalecido, encontre nEle a segurança que não tem. E, dessa forma adquirida, pode distribuí-la abundantemente.
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*Fábio Henrique Prado de Toledo é juiz de Direito em Campinas
Fonte: Correio Popular online, 05/07/2010

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