LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL*
“Familiares”, no caso do novo livro de Cíntia Moscovich, Essa Coisa
Brilhante que É a Chuva, (Ed. Record), significa o núcleo dos contos que
o compõem. Quase todos discutem as relações entre pais e filhos, entre
irmãos, entre marido e mulher. Aí podemos incluir, e com vigor, os gatos
e os cães, que são tratados com generosa atenção parental. Nesse ponto,
Cíntia mantém-se fiel a uma das mais fortes vertentes de sua
literatura, que inclui, à mistura, a condição judaica.
Se há fidelidade às temáticas, o texto apresenta-se mais essencial e direto, o que corresponde a uma tendência contemporânea. Há algumas frases longas e complexas, que apenas destacam as outras, em muito maior número. Mas, desde sempre, e em todos os casos, a autora apresenta um exuberante e colorido léxico. Tudo isso faz com que Essa Coisa Brilhante que É a Chuva seja, desde já – mas não só – um livro agradável de ler, em que os olhos não precisam deter-se em armadilhas verbais.
Se há fidelidade às temáticas, o texto apresenta-se mais essencial e direto, o que corresponde a uma tendência contemporânea. Há algumas frases longas e complexas, que apenas destacam as outras, em muito maior número. Mas, desde sempre, e em todos os casos, a autora apresenta um exuberante e colorido léxico. Tudo isso faz com que Essa Coisa Brilhante que É a Chuva seja, desde já – mas não só – um livro agradável de ler, em que os olhos não precisam deter-se em armadilhas verbais.
Nós nos reconhecemos nas mil e uma situações diárias, e esse é o primeiro passo para a imediata adesão. Reconhecemo-nos naqueles filhos mimados, naqueles terrores perante a morte, naqueles reflexos no espelho, no desvelo com nossos pets. É impossível não pensar: “Eu já vivi isso, mas nunca soube dizer”. Eis a simples tarefa de um bom escritor, às vezes tão mitificada, até pelos próprios escritores.
Falava-se acima sobre a condição judaica; mas não se esperem contos apologéticos, ou pior: condescendentes. Judeus, aqui, são representados em sua naturalidade humana, e se algo fica é uma profunda ternura por essas personagens tão carentes ou, ao contrário, com tanto para dar e compartilhar, quase ao ponto do excesso, como as trapalhadas da mãe judia, esse tipo humano que se tornou lenda.
O riso – melhor, o sorriso –, neste livro, é coisa fácil de ser encontrada. Ele vai do cômico ao sutil e não se envergonha de aparecer numa literatura que é, em geral, tão sisuda, ou épica, ou trágica. Isso confere um grande frescor aos contos e embala sua leitura.
Cíntia Moscovich vem construindo uma carreira sólida, coerente e, após um interregno compreensível por quem conhece sua anterior situação pessoal e sobre a qual ela não faz mistério, volta com um esmerado refinamento à ficção. Bom para seus leitores, bom para ela mesma – e muitíssimo bom para nossa literatura.
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* Escritor. Prof. Universitário.
Fonte: Zero Hora online, 03/12/2012
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