A contra-almirante Dalva Mendes entende que é preciso mais
estudos antes de colocar mulheres na linha bélica
Na Marinha desde 1981, ela afirma que o cheiro de óleo de navios pode ser 'insuportável' para
quem estiver grávida
A mulher que há poucos dias se tornou a primeira oficial general das
Forças Armadas brasileiras pede cautela no avanço feminino na carreira
militar. A contra-almirante médica Dalva Maria Carvalho Mendes, carioca
de 56 anos, na Marinha desde 1981, defende "um estudo muito aprofundado"
antes de inserir mulheres na linha bélica.
Atualmente elas ocupam funções nas áreas administrativas, de saúde e no
magistrado. Só a Aeronáutica tem pilotos do sexo feminino. O Exército
tem prazo de cinco anos para inserir mulheres na frente de combate. A
Marinha ainda não tem norma.
Folha - Por que a senhora entrou para a Marinha?
Dalva Mendes - O mercado estava difícil e uma colega chegou com a
novidade de que mulheres poderiam entrar na Marinha. Nós mulheres
gostamos de desafio.
E qual foi o maior deles?
Justamente a entrada, porque era uma adaptação.
Alguma história marcante?
Na entrada, os uniformes tinham sido feitos para manequins e não para
mulheres normais como nós. Evidentemente que na hora que os modelitos
chegaram, não entrávamos neles. Tiveram de chamar as costureiras para
aprontarem os uniformes da noite para o dia. E eu engravidei durante o
curso [de adaptação]. Eles me deixaram presa lá [no internato, por
quatro meses], quando me soltaram eu engravidei [risos]. Eu era uma das
quatro mulheres que se formaram grávidas. Meu uniforme era uma batinha.
A senhora era casada?
Com um engenheiro que não era militar. Fui a um clube com os meus pais e
ele me tirou pra dançar. No mesmo dia me pediu para namorar. Falei que
tinha 14 anos e meu pai não ia deixar. Meu pai é cearense, aquela
mentalidade de "filha minha é no cabresto". Mas ele não se intimidou.
Meu pai ficou tão desconcertado que mandou ele ir lá em casa no dia
seguinte.
Em agosto, a presidente Dilma assinou a lei estabelecendo que o Exército
coloque mulheres na linha bélica em até cinco anos. E a Marinha?
A Marinha estuda isso há algum tempo, mas tem especificidades diferentes.
O que falta?
Um estudo muito aprofundado. A gravidez é um problema. Já entrou num
navio de guerra? Aquele cheiro de óleo é um problema. Já pensou para
quem está grávida? É incompatível. Mulher não vai suportar aquilo. E
quando estiver amamentando? Não é simplesmente colocar a mulher no
navio.
A senhora é contra a mulher ocupar algum tipo de função?
Não, desde que a pessoa tenha o pendor. Nem todas as mulheres terão o
pendor de ir pro mar. É uma coisa que tem de ser vista com calma.
Conhece a presidente?
Só pela televisão.
O que vai dizer a ela na apresentação de novos oficiais?
A solenidade não prevê que se diga nada, mas é claro [que pode ser
diferente]... Ela que é a chefe maior. Vou responder aquilo que me
perguntar.
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Reportagem por DAMARIS GIULIANACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Fonte: Folha on line, 02/12/201
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