sexta-feira, 12 de julho de 2013

"Pode haver por cá mais casos de pedofilia"

D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, diz que a pedofilia nada tem que ver com o celibato dos padres e admite que o caso do vice-reitor do Seminário do Fundão não 
seja único na Igreja em Portugal
Por:Secundino Cunha

Correio da Manhã - Este ano a pedofilia deixou de ser, para a Igreja portuguesa, um pecado estrangeiro, uma vez que foi detido, por suspeita da prática desse crime, o vice-reitor do Seminário do Fundão. Como recebeu essa notícia?
D. Manuel Clemente - Com imensa tristeza, como é de calcular. Não fiquei feliz nem descansado, sobretudo porque se trata de alguém com responsabilidades na Igreja. O que há a fazer é, sobretudo, prevenir. É preciso reforçar o trabalho de discernimento e acompanhamento vocacional dos candidatos ao sacerdócio. Mas há aqui outras questões a ter em conta. 

- Quais?
- Acho que aqui a sociedade também tem de entrar, não apenas a Igreja, mas a sociedade no seu todo. É preciso rever questões relacionadas com a educação para a sexualidade, a relação com o corpo, porque há por aí muita contradição em termos culturais e até em termos mediáticos.

- O celibato dos padres não potencia esses comportamentos?
- Não tem nada a ver com isso, até porque a esmagadora maioria dos casos acontece, infelizmente, em relações de parentesco e praticados por pessoas casadas.

- O caso do vice-reitor do Seminário do Fundão será único em Portugal ou admite que haja outros?
- Infelizmente, a natureza humana já não nos reserva grandes surpresas. Não devemos é não desistir de a melhorar. Pode haver por cá mais casos, mas não tenho conhecimento.

- Não tem informações concretas?
- Se algum dia tiver informações concretas, isso posso assegurar, não haverá nada que não seja verificado, investigado e acompanhado, tendo sempre em conta a salvaguarda das vítimas. Seremos sempre colaborantes com a justiça, no pressuposto de que os clérigos são cidadãos como os outros, sem direitos especiais.

- Qual é a sua opinião sobre o celibato dos padres?
- Acho que, para além de ser uma questão de disciplina, é também um assunto com relevo teológico. A ordenação é um sacramento e, nessa medida, o sacerdote assume o papel de representante de Cristo na comunidade. Pessoalmente, acho que o casamento e a constituição de família é incompatível com esta nossa tarefa de evangelizar, mas a discussão está aí e eu sou a favor de que tudo seja discutido. 

- Repugna-o a ordenação das mulheres?
- Não se trata de repugnar. O que penso é que, também aqui, podem ser levantados problemas de ordem teológica. Cristo deu grande relevo às mulheres, mas não as escolheu para o sacerdócio. Mas também aqui a discussão continua em aberto. Mas o que é necessário discutir é a relação masculino-feminino. É uma questão em aberto, tanto na ordenação das mulheres como no casamento entre pessoas do mesmo sexo.

- A primeira encíclica do papa Francisco volta a condenar o casamento homossexual...
- Na minha opinião, casamento implica um homem e uma mulher e a abertura à geração de filhos. Foi sempre assim. Se é outra realidade, com todo o respeito pelos outros, também deve ter outro nome. 

- Qual é a sua opinião sobre os exorcismos?
- Acho que essas coisas têm de ser levadas muito a sério. Ultrapassam muito a nossa compreensão, mas são sérias.

- Deve haver um exorcista por diocese?
- Na diocese do Porto tinha dois cónegos preparados para isto e em Lisboa também tenciono fazê-lo, até porque é importante que haja quem atenda, com competência, os problemas dos fiéis.

- O papa diz que fica doente quando vê padres com carros de alta cilindrada. Também fica?
- Doente não, mas interrogativo fico. Não devemos esquecer que Cristo quando entrou em Jerusalém ia num burro.

- Acha que a Igreja paga os devidos impostos?
- Isso está a ser verificado no âmbito da Concordata, mas no geral, penso que sim.
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Fonte: Jornal de Portugal:  http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/entrevista/pode-haver-por-ca-mais-casos-de-pedofilia

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