Nassim
Nicholas Taleb já disse: não cruzes um rio se tem, em média, um metro de
profundidade. Embora a afirmação se referisse a depositar capital e esforços em
um único dado que pode cobrir variações locais enormes, a referência vale
também para as predições genéricas sobre o futuro: o que mais nos preocupa
sobre o amanhã não é a “média”, o habitual (bom ou mau) que já conhecemos, mas
sim o desastroso ou afortunado que desconhecemos. O que emerge. Às vezes, o
lugar do protagonista menos esperado. Ou, o esperado, mas fora de escala.
Sob o
critério anterior, as dez tendências que
enfrentará o mundo no ano que virá, reveladas por especialistas do World
Economic Forum, falam muito mais no nosso presente estabelecido que do novo que
pode trazer o futuro. Obtidas na média das opiniões de 1500 sábios reunidos
pela Rede de Conselhos da Agenda Global dessa mesma instituição, tem a virtude
de provir de 80 grupos que reúnem esses formadores de opinião pertencentes às
áreas empresariais, governos, universidades, organizações internacionais e a sociedade.
E como sempre acontece o mesmo. Os especialistas não costumam ser experientes
antecipando o futuro: sabem demais sobre que se consideram importante cada um
em sua respectiva área. Seu prestígio e renda se baseiam nisso. Que este último
seja assim não é de menos. Como já definiu com tanto brilho o escritor
norte-americano Upton Sinclair: It is difficult to get a man to understand
something, when his salary depends on his not understanding it”. E, se o
salário de alguém depende de não antecipar futuros que coloquem em risco seu
salário e o de seus funcionários, não o antecipará.
As dez tendências que enfrentará o mundo no ano que virá, reveladas por especialistas do World Economic Forum, falam muito mais no nosso presente estabelecido que do novo que pode trazer o futuro.
Portanto os
especialistas reconhecidos têm mais a perder ou errar (ou ao reconhecer que não
sabem o que acontecerá), consequentemente, suas previsões costumam ser
conservadoras. Essa sobrecarga de informação “relevante” também os leva a não ter
em vista elementos marginais que funcionam como gatilhos de mudanças “inesperadas”.
Ou seja, aqueles que respondem a padrões habituais, por que, se o passado desse receita de futuro, a
história seria uma trilha constante em meio de um vale, e não o caminho da alta
montanha que realmente é.
De todas as
formas, como trabalham para “abordar os problemas mais urgentes de nosso tempo
e seu objetivo é oferecer novas ideias e soluções”, não é demais saber quais
são essas tendências, porque tal lista representa a visão de uma elite global
sobre os assuntos que consideram relevantes no curto e médio prazos. São os
seguintes:
1. Tensões sociais crescentes no Oriente
Médio e o Norte da África.
2. Desigualdades crescentes de riqueza.
3. Desemprego persistente.
4. Intensificação das cyberameaças.
5. Inércia com relação às mudanças
climáticas.
6. Perda de confiança nas políticas
econômicas.
7. A ausência de valores na liderança.
8. A expansão da classe média na Ásia
9. A importância crescente das
megalópoles.
10. A difusão cada vez mais acelerada da
desinformação online.
Alguma
surpresa? A afirmação, do já falecido historiador Eric Hobsbawm, de que o
século XXI poderia de uma centúria em que a combinação da alta mobilidade
global, estados falidos e cada vez mais uma maior concentração do poder de fogo
em armas compactas até o ridículo, levaria à reaparição de
mercenários-condottieris, operando como task forces de ações rápidas, é ainda
mais recente. O que fazer então? Há uma receita. Se se trata de balanças de
conta-corrente, o sucesso ou o fracasso de um novo carro ou smartfone, para
antecipar algo útil é necessário obter a máxima quantidade de informação
numérica possível, revisá-la sob todos os ângulos e com todas as projeções. Mas
se se trata com coisas realmente importantes, grandes assuntos, como o caso das
guerras, mega investimentos em mineração,
alianças internacionais, candidatos à presidência e casamentos, a intuição e o
pressentimento, esse output do melhor computador de qualia existente no
universo, segue sendo a ferramenta mais útil para desentranhar um 2014 que já
nos bate na porta.
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*Rodrigo Lara é editor adjunto da edição internacional de AméricaEconomia.
Fonte: http://americaeconomiabrasil.com.br/
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