domingo, 8 de dezembro de 2013

BBB: entre o voyeurismo e o exibicionismo

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O apresentador do BBB, Pedro Bial, e o antropólogo 
Roberto DaMatta discutem a sociedade 
contemporânea e suas contradições quando
 se trata de exibicionismo e privacidade
Roberto DaMatta e Pedro Bial se reuniram na última quinta-feira, 5, na Casa do Saber-O Globo-Rio numa palestra que se transformou rapidamente em um bate-papo descontraído. O tema, “Uma sociedade voyeur e exibicionista”, usou o polêmico ‘reality show’ Big Brother Brasil como ponto de partida para que o antropólogo e o jornalista divagassem sobre temas como público e privado, pessoa pública e vigilância.

“Supostamente os participantes são as vítimas, mas eles que mandam nas câmeras. Se fosse um filme o corte seria feito pelos próprios participantes”, observou Bial, que não esconde sua admiração pelo programa que apresenta. Bial declarou que quando começa a falar em Big Brother assume, automaticamente, um tom de defesa. Mas ele defende o ‘reality show’ com tanta contundência que quase acreditamos nos méritos do programa. Quase.

Segundo Bial, o ‘reality’ faz inúmeras referências ao livro de George Orwell, ’1984′, uma distopia na qual o mundo está sempre em guerra e é comandado por um governo com câmeras onipresentes,  que usa a vigilância como principal arma para controlar as pessoas, num nível tão grande de manipulação que parece conseguir penetrar seus pensamentos. A “Vigilância” do Big Brother, como é chamado o governo no livro, também acontece  na casa do Big Brother construída no Projac, mas de uma forma exibicionista que distorce toda a referência literária.

Estimulando o que há de pior na juventude

Bial diz que o programa fez tanto sucesso porque as pessoas sabem que aquilo é real e se sentem coautoras, além de ser de uma realidade irrefutável o que se passa lá dentro.”É muito mais interessante ver um beijo na casa do que em uma novela. Aquilo é real, está acontecendo ao vivo”. O apresentador faz uma referência ao que percebe estar acontecendo com a juventude hoje, com sua apologia constante ao “eterno presente”, como se o momento agora fosse tão importante que não há espaço para as memórias do passado nem para os planos para o futuro. “A juventude, criada em um mundo sem o conceito de vida após a morte ou religiosidade tem como seu templo a academia de ginástica”, critica.

Ele diz ainda que acredita que as motivações para uma sociedade voyeurista sempre existiram,  só que hoje temos os meios  e as oportunidades para torná-la uma realidade. A tecnologia possibilitou que um programa como o BBB existisse. Gravar 24 horas com inúmeras câmeras seria uma proposta impensável há alguns anos atrás, não por uma questão ideológica, mas simplesmente porque seria impossível gravar e armazenar tantos rolos de fita. A internet e o telefone, essenciais ao programa, aumentam a interatividade, numa relação nunca antes experimentada pela TV, e com tamanho sucesso.

Para DaMatta, a questão do BBB passa diretamente pelo papel das celebridades e da fama. O antropólogo acha que precisamos de modelos, e esses modelos são, hoje, os “midiáticos”. “As celebridades são pessoas sobre as quais projetamos questões pessoais, projetamos o nosso amor. Faz parte da construção social e se não fossem por elas, que alimentam todo o sistema, daríamos um tiro na boca”.
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Biografias: onde o voyeurismo não é voyeurismo

O que é exatamente voyeurismo? O termo é usado quando alguém sente prazer observando a intimidade de estranhos. Mas numa sociedade onde tudo é observado, o sentido passou a ser muito mais amplo, e não se restringe apenas à intimidade, mas à necessidade de observar tudo a todo instante.
Se a sociedade é voyeurista e é isso que a move, celebridades deveriam ser mais compreensivas com a reprodução de sua imagem? Na opinião de Bial, sim. Sobre a polêmica das biografias, tanto ele como DaMatta se empolgam, defendendo a liberdade de expressão. Bial argumenta que, “entre o governo e a imprensa, eu fico com a segunda opção”, mesmo que isso signifique ser alvo de uma imprensa invasora.
“A minha vida não pode ser dissociada das pessoas que vivem comigo. Eu não me pertenço, é absurdo essa posição de achar que não se pode escrever sobre sua história”, responde, enfático, DaMatta.
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Reportagem por Gisele Motta
Fonte:  http://opiniaoenoticia.com.br/08/12/2013

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