Cláudia Laitano*
Em 2013, as causas causaram. Como o vinil, que
ressuscitou no século 21 investido de novo valor simbólico, as causas
reencontraram seu espaço na arena pública devidamente adaptadas às
peculiaridades da nossa época: globalização, customização,
compartilhamento.
Não por acaso, uma das marcas das manifestações de junho foi a variedade das demandas expressas em slogans e cartazes: saúde, educação, transporte, mas também o combate à homofobia, o preço do tomate, o estado laico, a legalização da maconha. O que, para alguns, era sintoma de falta de foco mostrou ser apenas a nova roupagem de uma espécie de idealismo difuso que sempre existiu. O sonho das grandes revoluções pode ter se espatifado, mas o que surgiu no lugar não foi exatamente o vazio histórico-existencial previsto pelos analistas mais catastróficos, mas a união em torno de causas localizadas.
Em 2013, a ativista gaúcha Ana Paula Maciel nos lembrou que, sim, ainda existe gente disposta a arriscar a própria segurança para defender aquilo em que acredita, assim como os jovens integrantes do Movimento Passe Livre mostraram ao Brasil que mesmo uma causa aparentemente utópica pode ganhar a dimensão de debate público se a minoria for barulhenta e apaixonada o suficiente.
Até mesmo o universo corporativo vem percebendo que associar um produto ou uma marca a uma visão de mundo mais ampla tornou-se uma das estratégias mais eficientes para atrair e fidelizar clientes – o que não deixa de ser uma evolução adaptativa do capitalismo que o pessoal nas minas de carvão da Inglaterra do século 19 dificilmente teria conseguido prever. Cada vez é mais disseminada entre empresários de sucesso a percepção de que o lucro a qualquer custo pode garantir alguns bons anos de fartura, mas quem quiser permanecer no baile vai ter que aprender a demonstrar modos no salão, pensando no mundo em volta e não apenas no próprio bolso. (Pena que essa tendência ainda esteja longe dos cantões menos civilizados do planeta, onde trabalhadores podem valer hoje ainda menos do que um operário inglês do século 19.)
Podemos ser cínicos em relação às causas pulverizadas, achar que são sintomas do ativismo de sofá ou do narcisismo contemporâneo. Prefiro acreditar que por trás dessa revalorização das causas coletivas existe, em certa medida, a busca por uma espécie de transcendência. Porque tudo o que nos mobiliza e apaixona, para além dos nossos próprios interesses, nos torna maiores e menos transitórios.
Por um 2014 em que cada um de nós encontre (ou reeencontre) uma causa pela qual vale a pena se apaixonar.
Não por acaso, uma das marcas das manifestações de junho foi a variedade das demandas expressas em slogans e cartazes: saúde, educação, transporte, mas também o combate à homofobia, o preço do tomate, o estado laico, a legalização da maconha. O que, para alguns, era sintoma de falta de foco mostrou ser apenas a nova roupagem de uma espécie de idealismo difuso que sempre existiu. O sonho das grandes revoluções pode ter se espatifado, mas o que surgiu no lugar não foi exatamente o vazio histórico-existencial previsto pelos analistas mais catastróficos, mas a união em torno de causas localizadas.
Em 2013, a ativista gaúcha Ana Paula Maciel nos lembrou que, sim, ainda existe gente disposta a arriscar a própria segurança para defender aquilo em que acredita, assim como os jovens integrantes do Movimento Passe Livre mostraram ao Brasil que mesmo uma causa aparentemente utópica pode ganhar a dimensão de debate público se a minoria for barulhenta e apaixonada o suficiente.
Até mesmo o universo corporativo vem percebendo que associar um produto ou uma marca a uma visão de mundo mais ampla tornou-se uma das estratégias mais eficientes para atrair e fidelizar clientes – o que não deixa de ser uma evolução adaptativa do capitalismo que o pessoal nas minas de carvão da Inglaterra do século 19 dificilmente teria conseguido prever. Cada vez é mais disseminada entre empresários de sucesso a percepção de que o lucro a qualquer custo pode garantir alguns bons anos de fartura, mas quem quiser permanecer no baile vai ter que aprender a demonstrar modos no salão, pensando no mundo em volta e não apenas no próprio bolso. (Pena que essa tendência ainda esteja longe dos cantões menos civilizados do planeta, onde trabalhadores podem valer hoje ainda menos do que um operário inglês do século 19.)
Podemos ser cínicos em relação às causas pulverizadas, achar que são sintomas do ativismo de sofá ou do narcisismo contemporâneo. Prefiro acreditar que por trás dessa revalorização das causas coletivas existe, em certa medida, a busca por uma espécie de transcendência. Porque tudo o que nos mobiliza e apaixona, para além dos nossos próprios interesses, nos torna maiores e menos transitórios.
Por um 2014 em que cada um de nós encontre (ou reeencontre) uma causa pela qual vale a pena se apaixonar.
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*Jornalista. Escritora.
Fonte: ZH online, 21/12/2013
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