Gregorio Duvivier*
Não existe nada mais deprimente que uma repartição pública. Ou que o piscinão do Sesc
A gente não é a nova direita, até porque a gente não acredita nessa
coisa de esquerda e direita. As pessoas dizem isso só porque a gente
defende o Estado mínimo. É claro que a gente defende: tudo o que é
privado funciona. Tudo o que é público é uma droga.
Pensa bem: o mundo não seria muito melhor se fosse uma grande empresa,
com wi-fi, coffee break e um bom termostato? Não existe nada mais
deprimente que uma repartição pública. Ou que o piscinão do Sesc.
Todo mundo sabe que os melhores hospitais são os privados: o médico
ganha melhor e o paciente é mais bem tratado. Quem sai perdendo com a
privatização da saúde? O PT, que ganha uma baba com essa festa da uva
que é a saúde pública. Iam perder essa bocada. Pior para eles. E para os
médicos da saúde pública, que hoje em dia estão de papo para o ar e do
dia para noite teriam que trabalhar que nem todo mundo.
A educação é a mesma coisa. Só mesmo privatizando para acabar com a
farra dos professores. Precisava de um bom Roberto Justus para dizer:
você está demitido. Duvido que ia ser essa festa --você já viu a
Coca-Cola entrar em greve? Não entra. O que falta na educação é alguém
para fazer a limpa e deixar só quem presta.
Aí vocês me perguntam: e aqueles que não podem pagar por educação ou por
saúde? De repente, isso é bom para dar uma sacudida neles. O mundo é
meritocrático. O que isso significa? Significa que eu não ralei a bunda
por cinco anos numa faculdade privada das 9 às 5 da tarde pegando
trânsito todo dia e tendo que fazer matérias que eu não queria, algumas
inclusive de religião, para botar os meus filhos na mesma escola que o
filho do motoboy que levou o meu retrovisor.
Agora, se o motoboy tiver que pagar caro pelos serviços, tudo muda. Ele
pensa: "Eu tenho que trabalhar, senão não vou enriquecer, senão meu
filho com leucemia não vai ter tratamento". Resultado: desemprego zero.
Crescimento a toque de caixa. Não adianta: sem a obrigação de trabalhar,
o povo não trabalha.
Bom mesmo era entregar o país nas mãos de um puta empresário. Tipo o
Eike. Ou o presidente da Gol. Esse daí é um gênio. "Acabou essa festa de
todo mundo ganhar barrinha de cereal. Agora você tem que pagar por ela.
E caro." É disso que o Brasil precisa: de um bom CEO, com MBA no
exterior, que manje de marketing, "people management" e Excel. Vou ligar
para o Eike. Vai que ele topa. Acho que hoje em dia ele topa.
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* Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 02/12/2013
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