Gregorio Duvivier*
Viajar de avião é uma sucessão de filas: fila do check-in, fila do embarque, fila da imigração, fila do táxi
A viagem foi insuportável. Viajar de avião é uma sucessão de filas: fila
do check-in, fila do embarque, fila do desembarque, fila da imigração,
fila do táxi. Hoje em dia, pra piorar, você pega um ônibus da sala de
embarque até o avião.
Eles não entendem que se você viaja de avião é exatamente porque você
não queria pegar um ônibus? A comida do avião, nem precisa dizer, era
odienta. Nova York estava um gelo. As ruas são cheias de brasileiro e
kombis de cachorro-quente. Parece Osasco. Só que nevando.
Os taxistas são todos paquistaneses ou afegãos e falam inglês pior que
você. Passam a viagem falando no celular --em paquistanês ou afegão. E,
no final, você tem que dar gorjeta.
No bar é a mesma coisa. A cerveja é quente, amarga, sem colarinho e custa uns 20 reais.
Fora a gorjeta. Voltamos de metrô, que tem um cheiro de cachorro com
notas de rato, urina e ovo podre. A única coisa boa é que a viagem foi
com a minha esposa. Ela se diverte com qualquer coisa.
A viagem foi uma delícia. Pra começar, viajamos de avião --podia ser de navio, que seria uma opção muito mais demorada.
Como a gente tá acostumado a andar de busão, o pessoal do aeroporto
levou a gente num ônibus até o avião, pra transição entre os meios de
transporte ser mais amigável.
No avião, linda surpresa: a TAM ainda serve comida! E vinho e sobremesa. Foi um festim.
Chegamos em Nova York. E estava nevando! Foi muito bom pra gente que
queria fugir do calor de São Paulo. E quando a gente sentia falta de
casa, era só ir ao Times Square. Só tinha brasileiros. E kombis de
comida!
Parece a rua lá de casa. Só que nevando! Pegar táxi é uma experiência
antropológica. Cada táxi que você entra é uma imersão em uma cultura
distante. A trilha sonora não poderia ser melhor: o taxista dirige,
invariavelmente, falando ao celular em línguas que você nunca ouviu
antes.
Fomos a um bar delicioso, que teve a ideia brilhante de servir a cerveja
um pouco mais quente pra contrabalançar o frio que estava lá fora. E
sem o colarinho, que é um desperdício de cerveja. E a cerveja tem gosto,
ao contrário das brasucas.
Valeu cada centavo. Na volta, pegamos um metrô. Isso é surreal: eles têm
metrô! E funciona até tarde. E passa na cidade toda. E o cheirinho me
lembrou do Jorge, nosso bassê.
Quase chorei de saudade. Não sei se o meu marido gostou. Acho que ele preferia ter ido sozinho.
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* Colunista da Folha
Fonte: Folha online, 09/12/2013
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