segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A METADE DO COPO

Gregorio Duvivier*


Viajar de avião é uma sucessão de filas: fila do check-in, fila do embarque, fila da imigração, fila do táxi
 
A viagem foi insuportável. Viajar de avião é uma sucessão de filas: fila do check-in, fila do embarque, fila do desembarque, fila da imigração, fila do táxi. Hoje em dia, pra piorar, você pega um ônibus da sala de embarque até o avião. 

Eles não entendem que se você viaja de avião é exatamente porque você não queria pegar um ônibus? A comida do avião, nem precisa dizer, era odienta. Nova York estava um gelo. As ruas são cheias de brasileiro e kombis de cachorro-quente. Parece Osasco. Só que nevando. 

Os taxistas são todos paquistaneses ou afegãos e falam inglês pior que você. Passam a viagem falando no celular --em paquistanês ou afegão. E, no final, você tem que dar gorjeta. 

No bar é a mesma coisa. A cerveja é quente, amarga, sem colarinho e custa uns 20 reais.
Fora a gorjeta. Voltamos de metrô, que tem um cheiro de cachorro com notas de rato, urina e ovo podre. A única coisa boa é que a viagem foi com a minha esposa. Ela se diverte com qualquer coisa. 

A viagem foi uma delícia. Pra começar, viajamos de avião --podia ser de navio, que seria uma opção muito mais demorada. 

Como a gente tá acostumado a andar de busão, o pessoal do aeroporto levou a gente num ônibus até o avião, pra transição entre os meios de transporte ser mais amigável. 

No avião, linda surpresa: a TAM ainda serve comida! E vinho e sobremesa. Foi um festim. 

Chegamos em Nova York. E estava nevando! Foi muito bom pra gente que queria fugir do calor de São Paulo. E quando a gente sentia falta de casa, era só ir ao Times Square. Só tinha brasileiros. E kombis de comida! 

Parece a rua lá de casa. Só que nevando! Pegar táxi é uma experiência antropológica. Cada táxi que você entra é uma imersão em uma cultura distante. A trilha sonora não poderia ser melhor: o taxista dirige, invariavelmente, falando ao celular em línguas que você nunca ouviu antes. 

Fomos a um bar delicioso, que teve a ideia brilhante de servir a cerveja um pouco mais quente pra contrabalançar o frio que estava lá fora. E sem o colarinho, que é um desperdício de cerveja. E a cerveja tem gosto, ao contrário das brasucas. 

Valeu cada centavo. Na volta, pegamos um metrô. Isso é surreal: eles têm metrô! E funciona até tarde. E passa na cidade toda. E o cheirinho me lembrou do Jorge, nosso bassê. 

Quase chorei de saudade. Não sei se o meu marido gostou. Acho que ele preferia ter ido sozinho. 
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*  Colunista da Folha
Fonte: Folha online, 09/12/2013
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