Nelson Mattos, 54
Para brasileiro do Google, educação é o maior benefício da internet, e
acesso é um direito; executivo conta ter sofrido com a defasagem
tecnológica na universidade
Governos devem gastar dinheiro para levar internet a todos e para
ensinar a população a usar o computadores como medidas para diminuir a
desigualdade social. É o que afirma Nelson Mattos, 54, vice-presidente
de engenharia do Google na Europa e em países emergentes.
A empresa anunciou recentemente iniciativas para levar internet a
lugares isolados do mundo --no Brasil, testes com uma tecnologia para
fornecer conexão via balões será testada na Amazônia no ano que vem.
"O Google pode contribuir para a inclusão, mas não é seu papel", disse Mattos, em entrevista à Folha, durante sua passagem pelo Brasil na semana passada. Leia os principais trechos abaixo:
O que o Google ganha ao conectar mais pessoas?
A curto prazo, não há benefício direto para o Google. A longo prazo, com
mais pessoas e mais empresas na internet, há mais buscas, exibimos
propagandas, e o Google tem condições de faturar. Sabemos que, se o
ecossistema da internet crescer, nos beneficiamos indiretamente. Não só
nós, mas também todos os que se beneficiam do crescimento da internet.
E a sociedade?
O uso da internet tem benefícios em quatro grandes dimensões: na área
econômica, com empregos e contribuindo para o crescimento do PIB; na
cultural, com as maneiras mais rápidas de se comunicar; na saúde, com
resposta rápida a catástrofes e para enviar ajuda remota a áreas pobres;
e a de educação, com acesso quase ilimitado a qualquer informação e
conteúdo educacional.
Essa última é a mais importante para mim, por causa da minha experiência de vida.
Qual a experiência de vida?
Venho de uma família de poucos recursos. Estudei no colégio militar, uma
escola excelente, e tive a oportunidade de ir para os EUA fazer
intercâmbio. Lá, morei numa cidade de 5.000 habitantes, que tinha uma
biblioteca com todos os livros que eu poderia imaginar que gostaria de
ler.
Imagina a biblioteca de uma cidade no Brasil com 5.000 habitantes. A
diferença era monstruosa. No mestrado, senti a mesma coisa: só conseguia
um estudo novo se conhecesse alguém que fora à França, aos EUA e que
pudesse te dar uma cópia xerox.
Àquela época, nem e-mail existia. Estava sempre um ano ou dois atrasado
em relação a meus colegas. Hoje em dia, esse problema não existe --com
internet, todos acessam as mesmas informações. Você só depende de você.
O acesso, então, é o desafio.
Sim. Há pessoas no Brasil que não têm acesso, estudantes também --uma
situação que é como se estivéssemos trinta anos atrás. Como é que eles
vão competir com seus colegas no exterior? É por isso que digo que a
internet é mais importante para os países em desenvolvimento do que para
os países desenvolvidos.
Na América Latina, muitas vezes há acesso, mas é caro, a rede é ruim,
congestionada. No Brasil, o setor de telefonia é um horror. Se você
tenta fazer uma ligação no horário de pico, o número de vezes que ela
cai é um problema. E é a mesma rede pela qual passam os dados.
Como solucionar isso?
Estamos tentando mostrar na Uganda [com o Projeto Link, para instalar
fibra ótica na capital do país africano] que a melhor maneira é o
governo investir em infraestrutura compartilhada, que permita que as
operadoras baixem seus custos usando o mesmo cabo de fibra ótica, por
exemplo.
[A infraestrutura] é o primeiro grande desafio.
Raio-X Nelson Mattos, 54
Cargo
Vice-presidente de engenharia do Google para a Europa e mercados emergentes
Vice-presidente de engenharia do Google para a Europa e mercados emergentes
Carreira
Formado em ciência da computação na UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul), possui mestrado e doutorado na área feitos em Kaiserslautern (Alemanha). Foi executivo da IBM nos EUA, empresa em que chegou ao cargo de vice-presidente de tecnologias de usuários e informação no IBM Research. No Google, exerce a atual função desde 2007
Formado em ciência da computação na UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul), possui mestrado e doutorado na área feitos em Kaiserslautern (Alemanha). Foi executivo da IBM nos EUA, empresa em que chegou ao cargo de vice-presidente de tecnologias de usuários e informação no IBM Research. No Google, exerce a atual função desde 2007
------------------------
Reportagem por YURI GONZAGA DE SÃO PAULOFonte: Folha on line, 02/12/2013
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário