Efraim Rodrigues*
nem tampouco o mais importante.
No meio do século 19, um Wallace impedido de mover-se pelas chuvas e
tomado pela malária, redigia uma carta para Darwin, descrevendo em
detalhes a teoria em que ele, Darwin, trabalhava há décadas. A carta de
Wallace precipitou a impressão do Origem das Espécies. Se você tem
dificuldades para entendê-lo, culpe os microorganismos de Wallace, assim
como se você precisa de mim para qualquer coisa neste fim de ano, culpe
o H1N1 que fez do meu corpo uma sopa vibrante de vírus.
Longe de qualquer ideia útil, em meus transes noturnos visualizei
aquele batido enredo de ficção científica no qual um terrorista
biológico espalha vírus letais por todo mundo usando uns poucos
aeroportos.
Vivemos em uma sopa de microrganismos nocivos e ainda por cima
garantimos que qualquer “novidade” tenha acesso rápido a todo planeta.
Não tenho como saber se me contaminei através dos coleguinhas do
Pedro na escola, através dos meus alunos, em um aeroporto, palestra ou
festa de aniversário. Tenho certeza que não foi em um Luau, o
violãozinho na praia me torra a paciência.
Além da contaminação toda, também submetemos nossos rebanhos de
animais a doses preventivas de antibióticos, que criam condições ideais
para o aparecimento de linhagens resistentes de microorganismos. Estes
você não precisa pensar de onde vem. Estão em seu prato de comida.
Os recebemos também pela água mal tratada de nossas torneiras e se
você acha que aquilo que se vende dentro de uma garrafinha de plástico
transparente é um liquido seguro, esqueça. Muitas vezes é água de
torneira mesmo, leia as letrinhas no rótulo com atenção. Nem perca seu
tempo consultando um advogado. Não há lei que impeça uma grande empresa
de vender água de torneira, ainda mais se ela o “informa” do que está
fazendo.
Com tantos contaminantes e tanto fluxo entre populações, é
surpreendente que ainda não tenha aparecido o microorganismo letal que
fará com que todos problemas da humanidade, incluindo os ambientais, se
tornem irrelevantes.
Já tive minha amostra de como será esta visão do fim do mundo,
delirando às três da manhã na Serra do Cipó. Acreditem, não será bonito.
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*Efraim Rodrigues,
Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor
pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais
da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da
FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias
Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda
escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a
transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva.
É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke –
EUA. http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/
Imagem: Freepik
FONTE: http://www.ecodebate.com.br/2013/12/19/
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