ANTONIO DELFIM NETTO*
A QUALIDADE do futuro da sociedade brasileira está presa à sua demografia. As últimas projeções mostram que em 2030 (que para a nação é amanhã!) seremos qualquer coisa como 216 milhões de habitantes, 151 milhões entre 15 e 65 anos. A tabela abaixo deixa isso mais claro:
Esses números mostram que, se o Brasil não for capaz de pensar os próximos 20 anos, corre o risco de ficar velho antes de ficar rico. Há dois graves problemas colocados por essa evolução demográfica.
1º) Temos de acertar nossas contas com o setor da previdência social (principalmente a do setor público). Nas condições atuais de pressão e temperatura (que ameaçam piorar pela miopia do Congresso), isso coloca um problema insolúvel de equilíbrio fiscal. Sua simples expectativa ameaça o equilíbrio monetário, o que torna mais difícil a redução da taxa real de juros. Esse é um problema ainda mais sério quando sofisticados economistas, usando sofisticadas técnicas econométricas, afirmam que a taxa de juro real de equilíbrio no Brasil é de "7% a 8%"! Só mesmo essa dupla sofisticação poderia produzir um resultado teratológico como esse!
2º) É preciso manter no nosso radar que teremos de dar emprego de boa qualidade a 151 milhões de brasileiros em 2030. Isso não será feito apenas com a atividade agrícola e mineradora ou com a economia de baixo carbono, as duas primeiras certamente poupadoras de mão de obra devido ao desenvolvimento tecnológico. Precisamos expandir a produção industrial e a de serviços, complementando o mercado interno com as exportações.
Isso seguramente não será feito com o "câmbio mais valorizado do mundo"! Qual é a razão econômica para uma aplicação, no Brasil, ter rendido em 2009, na Bovespa, de 7% a 8% ao mês em dólares? Não me venham com a explicação de que isso se deve "à oferta e à procura", porque, no Brasil, é a formação do câmbio futuro que determina o presente... Como disse o sábio Thomas Carlyle, basta ensinar um papagaio a soletrar "oferta" e "procura" e teremos um economista...
A excessiva valorização do real está destruindo as cadeias produtivas e levando as empresas a se transferirem para o exterior, transformando-se de exportadoras (que criavam emprego) em importadoras (que dispensam empregos).
Se tudo continuar como está, em 2030 seremos um grande exportador de alimentos e minérios e um grande e miserável repositório de desempregados!
*ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
FONTE: Folha online, 16/12/2009
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