Marcos Coimbra*
Qualquer pessoa sabe que um debate entre cinco, seis, sete, oito, dez candidatos não vai funcionar nunca. Especialmente porque só dois, no máximo três são candidatos para valer
Aproveitando o ensejo da 1ª Conferência Nacional de Comunicação — Confecom, iniciada festivamente em Brasília nesta segunda-feira, bem que poderíamos discutir um assunto que não tem recebido a atenção que merece. São os debates, nos meios de comunicação de massa, entre candidatos a cargos eletivos, dos quais os mais importantes são os que ocorrem entre postulantes à Presidência da República, aos governos estaduais e às prefeituras.
Desde a redemocratização, eles se tornaram parte de nossa vida política. Ora mais, ora menos, desempenharam papel relevante em diversas eleições, sendo que, em algumas, chegaram a ser fundamentais na definição de vencedores e perdedores.
Os eleitores, de uma maneira geral, gostam que existam e os consideram momentos privilegiados para melhor conhecer os candidatos. Pudera, do modo como funciona hoje a propaganda eleitoral, são o que nos resta para perceber os candidatos como pessoas reais.
De tanta maquiagem, tanta direção de cena, tanta repetição à procura da exata inflexão de voz, da melhor postura, do penteado e da roupa mais adequados, eles aparecem em seus programas e inserções como entes quase artificiais. Ao som de músicas que não param nunca, ao lado de atores tarimbados, em meio a malabarismos visuais que chegam a atordoar o espectador, o que menos conta na propaganda política são os candidatos. Não deixa de ser também por isso que ela perdeu tanta audiência e relevância nos últimos tempos.
Nos debates, por mais preparado e treinado que esteja, o candidato fica só, sem contar com nenhuma tecnologia, sem seus auxiliares e marqueteiros. Se errar, não pode voltar atrás. É um contra todos, cada qual procurando se sair melhor que os adversários. Em parte, mostrando suas qualidades. Em parte, fazendo com que os defeitos dos outros fiquem visíveis.
Gostar de debates não leva, necessariamente, a vê-los sempre. Salvo para a pequena parcela que tem interesse muito alto por política, a maior parte do eleitorado dificilmente muda de canal à procura de um, mesmo na reta final.
Na verdade, seja para os aficionados, seja para o eleitor comum, o que existe hoje em matéria de debates na televisão é muito diferente das expectativas que têm. Na maioria das vezes, são programas veiculados altas horas da noite, que começam tarde e que terminam quando as pessoas que trabalham cedo já foram dormir. São, além disso, muito chatos.
A razão para isso é o excesso de regras que, a pretexto de torná-los mais civilizados e menos vulneráveis a favorecimentos, acabaram por engessá-los e privá-los da espontaneidade que mais os tornava atraentes. Quem quiser confirmar quantas e quão esdrúxulas podem ser, basta ler os verdadeiros tratados que as emissoras distribuem aos candidatos com as regras de cada um.
A profusão de regras, por sua vez, tem como uma de suas causas outro excesso, o de candidatos. Qualquer pessoa sabe que um debate entre cinco, seis, sete, oito, dez candidatos não vai funcionar nunca. Especialmente porque só um, dois, no máximo três são candidatos para valer. Ficam os eleitores obrigados a ver personagens bizarros, sem qualquer representatividade, em nome de um falso igualitarismo. Todos fazendo como autômatos o papel que lhes foi reservado, com minutos contados para réplicas, tréplicas, direitos de resposta e coisas do gênero.
Para devolver aos debates a possibilidade de que se tornem aquilo que os eleitores desejam, o modelo que temos, que os subordina às vontades das emissoras, precisa ser repensado. Eles são importantes demais para que sejam tratados como capítulos da briga entre empresas de comunicação por maiores fatias de audiência. Não faz sentido que cada uma queira fazer o “seu debate”, na hora que lhe aprouver.
Se concordarmos que é preciso rever nosso modelo, seria bom aproveitar a oportunidade da Confecom. Algumas propostas sobre o tema já foram apresentadas e há muito a aprender com a experiência internacional. Para citar um caso: nos Estados Unidos, onde são hoje uma das vedetes das eleições, eles deixaram de ser realizados durante mais de 15 anos, por problemas semelhantes aos que temos. Foi quando eles aprenderam a fazê-los fora da guerra comercial entre as emissoras e apenas com os candidatos que interessavam à população que eles voltaram.
*Sociólogo e presidente do instituto vox populi
Fonte: Correio Braziliense online, 16/12/2009
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