quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Em defesa dos adolescentes

Para psicóloga, pais devem respeitar mais
os filhos nessa fase da vida,
evitando rotulá-los, e
adaptar a forma de educá-los
aos tempos atuais

[...] QUANTAS MÃES ALERTAM O FILHO
SOBRE O RISCO DAS DROGAS E
SÓ DORMEM COM REMÉDIOS?


 Em uma época em que os adolescentes costumam ser culpados pela falta de união e de respeito nas famílias, a psicóloga Elizabeth Monteiro, no recém-lançado livro "Criando Adolescentes em Tempos Difíceis" (Summus, 176 págs., R$ 39,10), vai pelo caminho contrário: defende o jovem e passa um sermão nos pais.

Para a autora, a passagem da infância para a vida adulta causa a mesma revolução no corpo e na cabeça que ocorria com adolescentes de outras gerações, mas, hoje, o mundo está mais favorável aos desvios de comportamento, o que exige nova postura dos pais -que, em geral, seguem modelos de educação ultrapassados.

"Escrevo este livro em favor dos adolescentes. É muito cômodo dizer: "Meu filho é um problema". Difícil é descobrir o que há em você que gera "o problema" do seu filho."

A seguir, trechos da entrevista com Elizabeth, mãe de quatro filhos e avó de dois netos.

FOLHA - Hoje é, de fato, mais difícil criar filhos adolescentes?
ELIZABETH MONTEIRO - Sim. O perfil da família mudou, e os modelos de pai e de mãe deveriam se adaptar a isso, o que não acontece. Perdidos, os pais imitam as atitudes dos pais da novela, do amigo do filho...

Também terceirizam a educação para avós, escola, babá e até para o terapeuta. Isso favorece a falta de convivência e dificulta a transmissão dos valores entre gerações. Antes, a figura do avô, por exemplo, era respeitada, e o adolescente evitava certas atitudes para não decepcioná-lo. Isso não é mais tão importante.

FOLHA - Qual deveria ser o novo modelo de pais?
MONTEIRO - Os pais precisam definir uma escala de valores e passar isso aos filhos, sendo bons modelos de homem e de mulher. Afinal, o que sustenta toda forma de amor é a admiração. O problema é que pai e mãe passam duplas mensagens.

Quantas mães alertam o filho sobre o risco das drogas e só dormem ou melhoram o humor com remédios?

FOLHA - A sra. escreveu que é possível impor limites de forma lúdica, afetiva e firme. Como?
MONTEIRO - Os pais acham que bater e gritar são formas de impor limites. Não se pode confundir diálogo com sermão. Algumas perguntas (Está estudando? Já arrumou o seu quarto?) não estimulam conversas, só afugentam os jovens.

FOLHA - A sra. também sugere que os pais devem atualizar seu modo de sentir e de amar os adolescentes.
MONTEIRO - Todos os pais amam os filhos, mas amar também é aceitar, e poucos aceitam o jeito do adolescente.

FOLHA - O jovem é discriminado pelos próprios pais?
MONTEIRO - Os adultos em geral insistem em certos rótulos: aborrescente, rebelde, drogado... Mas o ponto central do meu livro é livrá-los disso. Os jovens ainda não sabem qual é o seu papel na sociedade e assumem os papéis que os outros tentam lhe impor. O jovem não é essa pessoa monstruosa, ele é frágil, precisa de limites e agride por medo de ser agredido.

O problema mais comum no meu consultório é a destruição do vínculo afetivo. Pais e filhos não aproveitam o tempo em família. Eles já não suportam nem olhar uns para os outros.

FOLHA - Qual é o perfil do filho que provavelmente correrá menos riscos na adolescência?
MONTEIRO - O jovem que se sente valorizado e respeitado na família e que é útil para a sociedade (estimulado a conhecer desde cedo o valor do trabalho ou a participar de ações voluntárias, por exemplo) tem a autoestima elevada e dificilmente segue por um caminho que faça mal a outra pessoa ou a si mesmo.

FOLHA - Como proteger os filhos dos perigos do mundo virtual sem invadir sua privacidade?
MONTEIRO - Os pais devem aprender a usar ferramentas como blogs, Orkut e Twitter para não se intimidarem quando a invasão da privacidade dos filhos for necessária. Salvamos uma adolescente que caminhava até para a prostituição quando o pai rastreou seus e-mails.

REPORTAGEM de DANIELA TALAMONI

FONTE: Folha online, 17/12/2009

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