segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lições do Presépio

Fábio Toledo*

Um dia desses pude notar como as crianças contemplam maravilhadas o presépio. Esse símbolo está há muito arraigado nos costumes natalinos. Porém, quando deixamos de ser crianças e perdermos a simplicidade de coração, deixamos de entender o sentido que aqueles personagens poderiam nos dar a nossas vidas, especialmente nesse tempo.

A proximidade do fim do ano parece que coloca em nossas vidas uma espécie de turbina. Sentimos como que pressionados a resolver todos os problemas: metas profissionais a serem atingidas, trabalhos que não podem ficar para o próximo ano e, somados a isso, um sem número de confraternizações que parecem roubar nosso precioso tempo.

No entanto, se meditarmos com os olhos da alma em cada um dos personagens do presépio, veremos neles uma enorme serenidade, bem diferente das nossas correrias afoitas e atabalhoadas. E talvez possamos tirar disso valiosas lições.

Comecemos por José. Tinha ele o seu ofício, trabalhando duro como artesão para tirar disso o sustento da sua esposa e do Filho que estava por vir. Mas eis que de repente chega uma ordem do Imperador para que vá a Belém a fim de se recensear. O IBGE daquele tempo não vinha nas casas! Mas não o vemos reclamando. Deixa o trabalho, com todo o prejuízo que isso representaria para uma família pobre e segue, valentemente, trazendo no dorso de um animal a esposa grávida. Não bastasse o incômodo da viagem, vem ainda a humilhação que receberia, de porta em porta, todas fechadas para dar à mulher, prestes a dar à luz um bebê. E então ele resolve ir até o local em que agora vemos no presépio. Apesar de todo esse sofrimento por que passou, vemo-lo agora sereno, feliz perto do menino. Por certo que tinha muitas preocupações, inclusive profissionais, como a maioria dos homens e mulheres do nosso tempo. Era um homem trabalhador, mas apesar disso soube colocar a sua esposa e o Filho acima de todas essas preocupações. E exatamente por isso lhe veio uma força do alto a explicar essa profunda paz que agora vislumbramos em seu semblante.

Vemos ali uns pastores. Gente simples que soube ver os sinais de que algo extraordinário acontecia naquela gruta. Com isso nos mostra que devemos ser, como eles, como as crianças, puros de coração. Do contrário, não veremos o Menino nascer. Muitos dos moradores de Belém não viram o menino. Poderia ter nascido em suas casas. Porém, por estarem muito ocupados de si próprios, de suas preocupações, perderam essa grande oportunidade.

Há também uns Magos. Que loucura! Esses homens eram sábios e viviam num país distante. Viajaram vários dias seguindo uma estrela. O que nos podem ensinar esses personagens? Penso que a estar atento aos sinais do alto, que no mais das vezes se fazem perceptíveis no nosso coração. Corremos dum lado a outro, queremos construir, subir, ganhar e fechamos os olhos a esses sinais do céu a nortear nossas vidas. Mostram-nos, esses personagens, que há uma estrela, vale dizer, uma missão que vem do alto a dar sentido a nossas vidas. Encontrá-la e segui-la é topar com a própria felicidade.

E vemos, em meio aos animais, uma Mulher encantadora, esmerando-se em cuidados ao Menino. As lições dEla não se podem registrar nessas breves palavras. E então podemos pensar com muita simplicidade: é a Mãe do Menino. E isso é tudo. É de seu ventre que veio toda essa Luz e encanto que enche nossos olhos.

E por fim, na manjedoura: o Menino. E dEle, que lição tirar? Que quer nascer em nossos corações. Portanto, que não O fechemos as portas, tal como fizeram aqueles moradores de Jerusalém. É isso o que tanto nos encanta no presépio: é um retrato autêntico do que aspiramos a que fosse o nosso coração. As crianças percebem isso muito facilmente, ainda que não saibam explicar. Em sua simplicidade, alimentam naquele cenário sua própria felicidade. E nós, que andamos cansados e atribulados com enormes pesos que nos colocamos inutilmente, não sejamos tolos, imitemo-las com valentia. E então teremos os olhos da alma inebriados por aquela imensa alegria.
*Fábio Henrique Prado de Toledo é juiz de Direito em Campinas
E-mail: fabiotoledo@apamagis.com.br
FONTE: Correio Popular online, 14/12/2009

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