domingo, 20 de dezembro de 2009

"... a baixa renovação de líderes políticos e empresariais."



“A sociedade consegue criar iniciativas, mas não implementá-las”

Gustavo Grisa, EconomistaAos 35 anos, o economista Gustavo Grisa acredita que o Rio Grande do Sul trava uma luta tímida contra o corporativismo. Para mudar esse cenário, defende ele, seria preciso pressão da sociedade civil e renovação dos líderes políticos e empresariais. Grisa, que já passou pela Fiergs, Brasil Telecom e Vale, é autor do livro RS – Sem Medo do Futuro. Atualmente, é sócio-diretor da Agência Futuro, consultoria especializada em desenvolvimento regional. A síntese da entrevista:

Zero Hora – Por que o senhor classifica o Rio Grande do Sul como uma mistura de França com Argentina?
Gustavo Grisa – A França tem perdido espaço na economia da Europa, não fez as grandes reformas, tem um Estado pesado e sofre de imobilismo. Já a Argentina tem condições educacionais e bom índice de desenvolvimento humano, o IDH. Mas isso não tem efeito se não houver modernização da economia. A Argentina insiste numa matriz econômica conservadora, dependente do agronegócio. Como resultado dessa mistura, no Rio Grande do Sul, as despesas do setor público cresceram e a economia não acompanhou. O maior exemplo é a queda da participação do Estado na economia do país.

ZH – Qual a origem do conservadorismo gaúcho?
Grisa – Uma das causas é a baixa renovação de líderes políticos e empresariais. A geração que continua a fazer a cabeça do gaúcho é formada pela mentalidade das décadas de 60 e 70. Nos apegamos também ao apelo do gauchismo e do triunfalismo, que faz parte da cultura gaúcha e tem um lado bom, mas, ao mesmo tempo, nos levou a uma certa autossuficiência e uma postura arrogante. Isso nos faz ter uma menor abertura para o Brasil e para o mundo. Ficamos fechados, com uma visão estreita do mundo, muito local e apegada às mesmas raízes. O problema é que altivez sem acompanhamento da economia é decadência.

ZH – Como é possível estabelecer consensos passando ao largo da disputa política?
Grisa – A concertação é um pacto mínimo. É óbvio que cada governo terá seu perfil, mais à esquerda ou mais liberal. Mas a sociedade consegue criar iniciativas como o Pacto pelo Rio Grande e a Agenda 2020, mas não consegue implementá-las. Há competência em formular, mas não em cobrar.
FONTE: ZH online, 20/12/2009

PERFIL

Gustavo Grisa, 35 anos, é economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com MBA em Negócios Internacionais pela Thunderbird School of Global Management (EUA).
Em 2007, participou do Business and Poverty Leadership Program, da Universidade de Cambridge.
Atividades profissionais
Iniciou sua carreira na área econômica do sistema CNI/Fiergs, e participou decisivamente de iniciativas como o Núcleo de Inteligência Competitiva e o Plano de Ações para o Desenvolvimento da Metade Sul do RS.
Nos Estados Unidos, desenvolveu projetos de consultoria para investimentos na América Latina e foi analista de risco político para o Brasil e Argentina.
Desenvolve carreira no setor privado e hoje reside no Rio de Janeiro (RJ).
Foi co-fundador do capítulo brasileiro da Sociedade de Profissionais em Inteligência Competitiva(SCIP) e membro da International Studies Honor Society(EUA).

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