domingo, 27 de dezembro de 2009

Minaretes suíços

Ives Gandra*


A Suíça sempre se caracterizou por ser um país com cidadãos serenos, respeitadores dos demais, preocupados em não se envolver com seus vizinhos, tendo, inclusive, conseguido permanecer neutra em duas guerras mundiais, apesar de estar no centro dos conflitos.
Estranhamente, a onda de um falso laicismo, que começa a dominar o mundo, pela qual, devido ao extremismo, só quem não acredita em Deus pode falar em um estado laico, tem levado a geração de ódios e preconceitos que terminaram por atingir o âmago de povos civilizados, como o suíço, o francês e até mesmo a comunidade europeia.


Na França, proibiu-se o uso das “burcas” e “xadors” nas escolas, mas não a pouca roupa das meninas francesas, que se exibem em revistas de todas as espécies, algumas delas não recomendáveis, pois em um estado laico, quem é islamita não pode seguir os seus costumes publicamente. Na Itália, uma única mulher obtém da “Corte de Direitos Humanos” da União Europeia — tenho dúvidas se os juízes deste tribunal não italiano conheçam as tradições e costumes do povo italiano — o direito de eliminar de todas as escolas públicas o crucifixo. Felizmente, a ministra da Educação italiana já disse que não respeitará a desarrazoada decisão. Agora, na Suíça, proíbe-se que os templos islâmicos ostentem seus minaretes!
É bem verdade que, no estado laico europeu, que está conformando os “sem Deus” ou aqueles agnósticos que se julgam deuses”, se comemora o aniversário de Cristo, com feriados e presentes, sem que haja um movimento para abolir o Natal, data maior da cristandade.
Pergunto eu: por que não respeitar os minaretes islâmicos como se respeitam os sinos católicos e as igrejas cristãs na Suíça? Por que o preconceito? Por que admitir que as casas de prostituição, os motéis para encontros suspeitos, as boates noturnas e os espetáculos pouco dignificantes, que também existem na Suíça, como em todos os países, não sejam fechados, por uma questão de igualdade? Por que o culto ao Criador, conforme cada religião, não é respeitado como se respeita o culto aos denominados centros turísticos de diversões laicas, em que a droga e o meretrício de luxo têm curso fácil e quase sem controle oficial?
Àqueles que não conseguem viver como deveriam pensar e passam a pensar como vivem, à evidência, incomodam os valores que as religiões transmitem e que não conseguem viver, em sua maioria, razão pela qual os bons costumes devem ser afastados — embora vividos pela maioria das pessoas — em detrimento de um estado laico, sem valores, quase sempre libertino, no qual a frustração, os divãs dos psiquiatras, a droga, o adultério, os casamentos desfigurados e os filhos desorientados povoam como símbolo da modernidade.
Indiscutivelmente, o preconceito suíço não faz bem à sua história, definitivamente manchada pelo plebiscito, que pode estar beirando às raias de um racismo contra o povo árabe, revivendo o que de pior o nazismo exibiu, na busca de uma raça pura. Estou convencido que este tipo de “preconceito aristocrático” suíço e de outros países europeus está na essência da reação dos povos menos desenvolvidos, que, muitas vezes, até no terrorismo buscam a sua vingança. Como entendo que devemos buscar a paz e a convivência entre os povos, não posso aprovar a discriminação odiosa dos suíços.

*Ives Gandra da Silva Martins é doutor em Direito e professor emérito da Universidade Mackenzie
FONTE: Correio Popular online, Campinas, 27/12/2009

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