domingo, 13 de dezembro de 2009

Decisões de voto

Marcos Coimbra*




A regra universal é que indivíduos com interesse mais alto se
decidem mais cedo que os
de interesse mediano e esses que os sem interesse.
Em todas as faixas, o par interesse/informação é que divide as águas


Como e quando os eleitores se decidem a votar em determinado candidato? Cedo ou apenas quando a eleição se avizinha? Tipos diferentes de eleitores se decidem em horas diferentes? São perguntas simples, mas que não foram ainda respondidas de maneira satisfatória. E já são mais de 80 anos de pesquisas em sociologia eleitoral e ciência política, com milhares de estudos conduzidos mundo afora.

De uma coisa podemos estar certos. Nada do que conhecemos sobre o processo eleitoral, aqui ou em qualquer lugar, autoriza supor que a decisão de uma parcela relevante de nosso eleitorado sobre a sucessão de Lula esteja tomada. Ao contrário, tudo o que sabemos sugere que ela não só não aconteceu como ainda deve demorar.

Com a opção que fizemos há mais de 70 anos pela obrigatoriedade do voto, temos um dos maiores eleitorados ativos do mundo. Nem todos votam sempre, pois, com o passar do tempo, a parcela que não quer participar aprendeu o que tem que fazer: não comparecer, anular ou deixar o voto em branco. Ainda assim, algo perto de 108 milhões de votos nominais deverão ser computados na próxima eleição. Para comparar: na de Obama, nos Estados Unidos, esse total foi de 129 milhões.

Mesmo em países pequenos e relativamente homogêneos, tendemos a ter, dentro do eleitorado, alguns subgrupos bem distintos. Sua diferenciação tem a ver com as características socioeconômicas (como idade, gênero, escolaridade, ocupação e nível de renda) e com variações em atributos relacionados à própria vida política, dos quais um dos mais importantes é o interesse. Dele, decorre a informação.

Na discussão sobre o momento de decisão eleitoral, são mais relevantes essas diferenciações que as primeiras. Não é que pobres se decidam antes que ricos ou vice-versa, nem que jovens e velhos, mulheres e homens, empresários e trabalhadores ou quaisquer outras segmentações demográficas ou socioeconômicas. Mas as diferenças são grandes se considerarmos as pessoas segundo seu nível de interesse e de informação sobre política.

A regra universal é que indivíduos com interesse mais alto se decidem mais cedo que os de interesse mediano e esses que os sem interesse. Isso vale dentro de qualquer segmento: ricos interessados são mais rápidos que ricos sem interesse, assim como pobres com informação se posicionam antes que os que não a têm. Em todas as faixas, o par interesse/informação é que divide as águas.

O que vale para as diferenças sociais e econômicas se aplica a uma dimensão que deve desempenhar papel crucial na próxima eleição: a avaliação de Lula. Existem eleitores que admiram o presidente, que consideram seu governo “ótimo” e que, no entanto, não se interessam por questões políticas. Eles não se decidiram ainda e só o farão lá na frente.

Para Lula e sua candidata, o efeito disso deve ser positivo, mas não muito grande. Como ele tem uma aprovação quase unânime, quem não se decidiu é igual a quem já escolheu. O mesmo não acontece, porém, com outra variável, a “transferência”, implícita na declaração dos eleitores que afirmam que votarão em quem quer que seja o candidato de Lula.

No conjunto do eleitorado, essas pessoas representam algo que vai de 20% a perto de 30%. Mas, entre os desinteressados/desinformados, a proporção alcança os 40%. Ou seja: quando se informarem, é razoável imaginar que passarão a votar, mais que proporcionalmente, em Dilma. Eles são como que um reservatório de votos potenciais para a ministra, que só vão se materializar mais tarde.

Ao analisar os resultados das pesquisas de agora, devemos lembrar que misturam respostas de pessoas em momentos muito diferentes de decisão. Há os que sabem com certeza o que vão fazer. Há os que têm uma noção provisória. Há os que se sentem obrigados pela situação de entrevista a dizer alguma coisa e reagem como podem, escolhendo o nome que conhecem. Há os que nem assim respondem, mas que terminarão por escolher alguém.

Pesquisas sempre ajudam, se soubermos entendê-las. Lula, por exemplo, não lhes deu a menor importância quando escolheu sua candidata. Dilma não foi indicada por estar “bem” nas pesquisas atuais. Só quem se mostra obediente a elas é a trinca PSDB/DEM/PPS. Vai ver, apenas eles estão certos. Ninguém pode garantir nada nessa matéria.

*Sociólogo e Presidente do Instituto Vox Populi

marcoscoimbra.df@dabr.com.br
FONTE: Correio Braziliense online, 13/12/2009

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