BENJAMIN STEINBRUCH*
O país não iniciava um ano com expectativas socioeconômicas tão boas havia muito tempo;
mas há gargalos e temores
MAIS ALGUMAS horas e entraremos em 2010. Fica para trás um ano aflitivo, que afinal não foi tão desastroso quanto se esperava. E vem aí um novo momento.
Havia muito tempo o país não iniciava um ano com expectativas socioeconômicas tão positivas. Está "contratado", como dizem os economistas, um crescimento entre 5% e 6% na produção, puxado pelo mercado interno, o que deve garantir aumento do emprego. A inflação segue comportada, apesar da alta do consumo decorrente da ascensão das classes C e D, uma das marcas mais gratas do atual momento brasileiro.
Não deve haver nenhum problema no cumprimento das obrigações externas do país em 2010. Com reservas bilionárias em moeda estrangeira, o Brasil tem prestígio e crédito internacional e atrai investimentos. Esse prestígio abre também espaço para voos externos das grandes empresas num momento em que a economia mundial deverá voltar a crescer -de acordo com o FMI, 3,1% em 2010.
O que há de especial no cenário interno para o ano novo é a perspectiva de vigorosos investimentos em infraestrutura, uma necessidade urgente. Será um ano de eleições gerais, o que normalmente leva os governos a acelerar obras. Além disso, começarão as obras para a Copa de 2014 e para a Olimpíada de 2016. E terão sequência os programas do PAC. O setor imobiliário também estará aquecido e animado com a volta do crédito para a casa própria, que em 2009 deve atingir a marca recorde de R$ 32 bilhões.
Por tudo isso, pode-se esperar um bom nível de oferta de emprego, porque os vários setores da construção, para onde serão carreados os maiores investimentos, são grandes absorvedores de mão de obra. A própria indústria de transformação, embora deva continuar algemada pelo real sobrevalorizado, que dificulta exportações, poderá ampliar a demanda de pessoal para manter seu crescimento previsto de quase 9%.
Em meio a tantos prognósticos positivos, há gargalos e temores. A algema cambial é uma preocupação. O superavit comercial deve cair para algo próximo a US$ 10 bilhões, em comparação com US$ 28 bilhões neste ano. O deficit em conta corrente deve pular para US$ 40 bilhões, mas será compensado pela entrada de investimentos diretos e financeiros.
Há também a algema monetária, explicitada na taxa de juros básica ainda absurdamente alta de 8,75% ao ano. Muito papel, tinta e saliva já foram gastos para combatê-la, até agora com poucos resultados.
Outro temor é que as pressões eleitoreiras possam incentivar gastos correntes (não investimentos) exagerados do governo, com despesas de pessoal, Previdência e custeio da máquina pública. O aumento dos gastos, que em 2009 será de 16%, deve ser destinado cada vez mais a investimentos. Essa é a despesa virtuosa, que gera produção e cria empregos.
Algumas reformas modernizadoras também deveriam entrar no radar de 2010. Elas já se tornaram lugar-comum, mas são essenciais: trabalhista, política e tributária. Será necessário ainda pensar seriamente na educação e na formação de mão de obra qualificada, ações essenciais para que o país possa sustentar no longo prazo taxas de crescimento como a que teremos em 2010.
Quando se coloca tudo isso na balança, felizmente, ela pende para o lado positivo. Que todas as boas previsões para 2010 se realizem e que você, leitor, viva um ano de muita alegria, saúde e paz.
*BENJAMIN STEINBRUCH, 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
FONTE: Folha online, 29/12/2009
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