A atribulada vida de mulher de diplomata trouxe Gisele Binon ao Brasil em 1959. Além dos salões acarpetados, a francesa doutora em letras pela Sorbonne foi visitar um terreiro de candomblé na Baixada Fluminense. Após oito anos viajando pela África, queria ver os rituais brasileiros de inspiração afro. A visita redefiniu a vida de Gisele. Ao som dos atabaques e diante da dança ancestral, ela entrou em transe. “Senti um frio na espinha e fui ao chão”, recorda. Intrigada, por muito tempo viveu um misto de temor e atração. Ao fim, rendeu-se e iniciou-se no candomblé.
Nos anos seguintes, voltou para a França, separou-se do marido, deixou seus pais cuidando dos dois filhos e decidiu retornar ao Brasil. Em 1972, abriu um terreiro em Duque de Caxias (RJ), onde vive até hoje, aos 86 anos. “Decidi ser dona da minha vida”, diz. “Não queria mais a rotina triste e sem graça da França.” Não foi uma decisão fácil. Trocar Paris pelo Rio, a carreira de doutora em letras pela de mãe de santo, a rotina sofisticada de embaixadas pelo subúrbio carioca, nada disso foi feito sem medo. “Não há um caminho único. É preciso levar em conta as circunstâncias de cada um”, afirma ela. Com a separação, resolveu fazer o que seu coração mandava. “Não é fácil uma virada assim, principalmente para as mulheres, que ainda se dedicam ao lar, aos filhos e ao marido.”
Reportagem de Carina Rabelo e Francisco Alves Filho.
FONTE: Revista Isto É - 16 dez 2009 - Nº 2092. Da seção COMPORTAMENTO : Eles deram a VIRADA.
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