O francês Philippe Starck, o designer mais celebrado do mundo,
comemora o 30º aniversário de seu estúdio e
revela à Platinum os seus sentidos.
AUDIÇÃO
Vivo ouvindo música. Sonho com música, escuto 24 horas por dia. Para você ter ideia, costumo viajar com seis iPods, de medo que um ou dois não funcionem. Ainda não aconteceu de algum estragar, mas prefiro me prevenir (risos). Minha escolhas são muito ecléticas: eu busco qualidade e estou à procura do meu “som pessoal”. Não tenho uma música preferida, mas, se tivesse, poderia transformá-la em lágrimas facilmente. A música é parte integrante do meu processo criativo. Escolho um tipo adequado para cada projeto e cada momento do dia. Na verdade, se eu fosse honesto, dividiria os roylties das minhas criações com os autores das músicas que ouço para me inspirar (risos).
PALADAR
Meu prato preferido é a botarga, como são chamadas as ovas de peixe secas. Mas posso dizer que aprecio todas as formas de cozinha que sejam inteligentes, honestas, dietéticas e biológicas, com preferência para as gastronomias japonesa e italiana. Na hora de procurar um restaurante, fujo dos que estão na moda, pois prefiro os clássicos, embora aprecie muito o modelo de cozinha que Ferran Adriá no elBulli, na Espanha. Não sou grande cozinheiro, mas adoro cozinhar e posso fazer um jantar para 30 pessoas em 30 minutos. O resultado vai ser algo “comível”.
OLFATO
Entre todos os aromas possíveis, meu preferido é o odor que exala do corpo humano. Quanto a fragrância, eu adoro tanto as clássicas – e até mesmo arcaicas –, como o Habanita, da marca Molinard, quanto as mais recentes, como o Vetiver, da Labo. No meu quarto tenho cerca de 20 diferentes, de grifes como Comme dês Garçons e Labo, mas quase não toco nelas. Na verdade, uso cada vez menos no dia a dia, e muitas vezes nem me perfumo. Antes, quando tinha mais tempo, eu criava meus próprios perfumes e tinha até um laboratório profissional, mas agora é impossível. Se recebesse hoje uma encomenda para desenvolver o conceito de uma fragrância, pensaria em uma que não escondesse os odores corporais.
VISÃO
Perguntar minha cor preferida é como perguntar a um músico sua nota preferida ou a um escritor qual é a sua letra preferida. Qualquer cor, letra ou nota só nos interessa no conjunto. Separadamente, elas significam a mesma coisa, têm a mesma importância. Adoro arte, mas jamais vou a exposição e também não saberia escolher meus artistas favoritos porque seria injusto. Certamente, eu deixaria vários nomes importantes fora. Admiro o belo, porém ele nada mais é do que a representação de uma etiqueta social saída da burguesia, que se manifesta na moda, por exemplo. Não sigo moda, vivo fora desse mundo, e nem se quisesse conseguiria. Eu me interesso por valores mais atemporais do que o belo. O bom, por exemplo.
INTUIÇÃO
Eu me considero um bloco de cristal de intuição. Em resumo, sou pura intuição, não consigo nem controlar meu inconsciente. Sou perigoso para mim e para os outros (risos). No momento de criar, o que mais me inspira é a mutação da espécie humana. E, pensando nela, sigo minha intuição também ao me preocupar com o futuro do planeta e pensar em tantos projetos “verdes”. Sinto que todos nós humanos temos um dever com o amanhã, está escrito em nosso DNA. E temos de cumprir esse dever com inteligência ao longo de nossa veloz evolução.
TATO
A pele é minha superfície preferida de tocar. Quando defino um objeto, fecho os olhos e o leio com meus dedos. É graças ao toque que reconheço a qualidade das linhas.
Por PRISCILLA PORTUGAL.
REPORTAGEM COMPLETA na Revista ISTO É PLATINUM de dez/jan.2010, pp.54-61.
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