domingo, 27 de dezembro de 2009

A experiência de Sigourney Weaver



Por Fábio M. Barreto, de Los Angeles Em entrevista ao Cinema.com.br, Sigourney Weaver se revela mãe apaixonada, atriz engajada e mulher consciente de sua relevância por conta de papéis como Ten. Ripley, na cinessérie Alien, e, agora, a Dra. Grace, em Avatar. É a voz da experiência e a objetividade de uma carreira que passou pelos holofotes dos grandes sucessos, trilhou o caminho sólido do teatro, educou milhares com sua voz marcante e cativante.


Qual a principal arma para mergulhar numa locução de conto de fadas, de documentário ou mesmo no mundo de Pandora?
Sigourney Weaver: Fazer de conta que somos crianças novamente e se deixar encantar, aprender e maravilhar. Sem imaginação não é possível fazer nada disso.

Você costumava ler contos de fada para sua filha?
Sim. Sempre gostei de contar histórias a ela.

Ela tem alguma história favorita?
Gostamos dos livros de Dr. Seuss. São maravilhosos! Foram escritos nos anos 50 e é incrível como são atemporais.

Como você caracteriza esse período longe dos blockbusters?
Fiz uma série de bons filmes que não tiveram uma distribuição muito boa - começando com O mapa do Mundo - e, de vez em quando, tirava algum tempo para ficar com minha filha (especialmente porque eu tive uma só, e ela está crescendo). Esse sumiço aconteceu porque estava fazendo mais filmes independentes, que eram pouco vistos fora dos EUA. E, confesso, mesmo aqui dentro.

Você achou que cairia no estereótipo hollywoodiano da estrela de filmes de ação? Que em algum momento os estúdios diriam "OK, Sigourney não é mais uma estrela de ação, o que faremos com ela"?
Não acho que tenha sido vista como uma estrela de filmes de ação. Tinha feito apenas os filmes de Alien, e fiz muitas outras coisas divertidas além deles. Acho que enganei todos aqueles que me observavam para tentar descobrir que tipo de atriz eu seria, porque sempre pulava da comédia para o drama e tudo o mais. Acho que o maior desejo de todo ator é que as pessoas vejam o trabalho pelo qual você se esforçou tanto, mas, às vezes, você não consegue porque a distribuição de um filme independente é muito cara - mas mesmo assim você segue tentando, na esperança de que as pessoas possam encontrar esses filmes.

Você acha que seus papéis serviam de modelo positivo para as mulheres?
Eu nunca fui "a garota" nos filmes. Acho que isso tornou as coisas mais fáceis para mim, já que meus papéis eram sempre diferentes entre si. Sabe, histórias sobre uma mulher, não sobre um casal. Isso tornava meu trabalho mais fácil.

Você nunca foi o tipo mulherão, chamada de sex symbol...
Tudo culpa da minha mãe. Quando era pequena, perguntava a ela se era bonita e ela respondia "não, querida, você é uma garota comum". É isso que as mães inglesas fazem, e todas as garotas britânicas que conheço têm histórias parecidas. Mas também há muitas vantagens em ter uma mãe inglesa. Eu descobri que posso ser uma sex symbol. Sou uma sex symbol para o meu marido.

Você mencionou que gosta de fazer filmes sobre garotas, e não sobre casais. Você se vê como sendo uma feminista?
Gosto de pensar que sou uma feminista tardia porque acho que feministas são aqueles que acreditam que mulheres devem fazer o que quiserem (inclusive trabalhos tradicionalmente masculinos), recebendo o mesmo salário que os homens, dizer o que pensam sem medo de serem censuradas pela sociedade. Claro, não é grande coisa ser feminista hoje, quando esses fatos já caíram no senso comum, mas eu fui suficientemente afortunada para começar minha carreira numa época em que ser feminista era realmente importante.

Falando sobre teatro, como foi trabalhar em Os heróis? É uma história muito poderosa...
Estávamos trabalhando numa peça num pequeno teatro a oito quadras do Ground Zero. Bill Murray e eu começamos a encenar a peça cerca de seis semanas depois dos atentados (de 11 de setembro de 2001). Lembro que as pessoas vinham porque realmente precisavam estar juntas, e o presidente (George W. Bush) dizia "gastem dinheiro, sigam com suas vidas". Mas a cidade estava em choque. A peça deu às pessoas a chance de deixar aflorar um pouco do que estavam sentindo. Foi uma experiência muito emocionante compartilhar essa peça com a audiência, dar a elas a chance de expressar sentimentos que elas não podiam demonstrar em nenhum outro lugar. Fizemos o filme de forma bem rápida depois do encerramento da temporada, e eu acho que funcionou porque é um documento relevante para aquele momento.

O que você acha do presidente Barack Obama? O que espera dele?
Bem, mesmo sem fazer nada ele vai ser melhor do que o anterior. Apoio Obama desde 2004, e acho que ele é muito esperto, inteligente, metódico; e nos deu uma chance de reunir uma equipe como um país, independentemente de partidos, para resolver vários problemas e mal-entendidos. Há um tempo visitei o Marrocos, o que é bem significativo depois de oito anos com um governo que desencorajava os próprios cidadãos a sequer visitarem a Europa por causa do medo de atentados e tudo o mais. E a hospitalidade no festival de cinema, as pessoas que encontramos me animaram. Estar lá foi uma experiência emocionante. Fazer parte do mundo, e conhecer outra cultura, mesmo que por tão pouco tempo, é algo fantástico. Sinto que uma das coisas que realmente quero fazer é viajar mais. Acho que nossa perspectiva deve ser um pouco diferente. Não podemos esperar que o presidente faça tudo. Acho que as pessoas acreditam que começamos uma nova jornada, com um governo honesto.


Você foi indicada ao Oscar três vezes (por Uma secretária de futuro, Aliens - O resgate e Nas montanhas dos gorilas), mas nunca venceu. Qual é a sua opinião sobre o Oscar?
Acho que para vencer um Oscar você precisa estar num filme muito bem promovido. Mas eu gosto de projetos que não se destacam tanto, que não ganham tantos prêmios, mas resultam em trabalhos maravilhosos mesmo assim. Minhas expectativas são muito baixas. Quero apenas continuar recebendo roteiros. Claro, houve uma época em que eu adoraria ganhar um Oscar, mas acho que fiz trabalhos melhores desde então. E eu tenho um "Oscar britânico". (O BAFTA Awards , recebido por seu trabalho em Tempestade de gelo). Está guardado na biblioteca. É um prêmio bonito. Não estava muito bem quando o ganhei, e tomei tantos remédios que não lembro muito bem da cerimônia. Mas me lembro de ter ficado muito feliz e surpresa, até porque nem fui indicada nos EUA.

Você sabe quando fez um bom trabalho?
Acho que sim. Tento trabalhar tão instintivamente quanto puder, e ao final do filme sei se consegui ou não. Por exemplo, por não ser religiosa, se interpreto uma mãe cristã cujo filho se matou, é como se você não soubesse para onde o trabalho está indo. Mas sou mãe. Foi uma experiência extraordinária interpretar uma pessoa de uma família real, que passa por isso. Estou muito animada com o filme, porque acho que tem muito a ver com a nossa época. As coisas não mudaram tanto assim. Prêmios podem vir, quem sabe? Mas tudo o que você pode fazer é dar seu melhor e esperar que o distribuidor leve seu trabalho até as pessoas. É com isso que eu me importo, com os resultados.

Você corre atrás de roteiros ou prefere esperar pelo que os diretores lhe oferecem?
Nunca fiz nenhum papel para o qual tivesse me oferecido. Se digo que quero um papel é garantia de que não vou consegui-lo.

Então o convite para Avatar foi uma surpresa?
Sim, uma surpresa adorável. Foi ótimo trabalhar com Jim (o diretor James Cameron) de novo. Gostei mesmo, nós nos divertimos muito. Ele é um cientista brilhante. Quando ele me disse "você vai interpretar uma cientista" e explicou o que ela faria, o tipo de testes que tentava fazer, eu fiquei chocada, pensando: "Caramba, olhem só pra isso". Gostei muito do projeto, há muita ciência envolvida neste filme - parte ciência real e parte fantasia. As crianças vão adorar, e os adultos também.

Com que freqüência sua altura (1,80m) foi uma vantagem na carreira, e com que freqüência foi uma desvantagem?
Bem, há muitos diretores que gostam de mulheres altas, mas outros me veem e saem correndo.
Acho que minha altura evitou que trabalhasse em alguns filmes mais delicados, mas também impediu que eu trabalhasse com pessoas convencionais. Um diretor convencional nunca me contrataria. Tive sorte de Peter Weir (que a dirigiu em O ano em que vivemos em perigo) não ligar para a minha altura. Acho que no fim a altura funcionou a meu favor. Tive muita sorte.

E com colegas de elenco?
Na verdade, a pessoa que ficou mais irritada com minha altura foi um ator muito alto. Acho que ele tinha "aquilo" bem pequeno.

Você é uma pessoa emotiva?
Acredito que sim, mas prefiro manter meu lado emotivo para minha vida pessoal e para o trabalho. Não vou ser emotiva na fila do supermercado ou coisa assim.

Como é trabalhar com seu marido (o diretor Jim Simpson)?

Trabalhamos juntos algumas vezes e gosto de fazer isso. Ele me deixa por minha conta, e isso é bom. Ele não me gerencia, e não estou acostumada a isso. Estou acostumada a fazer as coisas bem rápido, e partir para a próxima etapa. Há poucos diretores que tentam fazer as coisas de um jeito totalmente diferente. Meu marido sempre me escala para papéis que ele sabe que vou gostar de fazer. Tentamos ter muito cuidado com os trabalhos que escolhemos fazer. Ele é um diretor muito competente. Na verdade, quanto mais trabalhos ele faz menos ele efetivamente dirige no set - porque escolhe bem o elenco.

Você fez muitas boas comédias - como Heróis fora de órbita, por exemplo. Tim Allen também estava nesse filme e agora voltam a se encontrar em Crazy on the outside...
Isso mesmo. Tim atua e dirige. É sobre um sujeito que sai da prisão, e descobre que sua irmã disse a todos que ele estava fazendo um curso de arte no Louvre. Ela mentiu para todo mundo sobre isso, e aos poucos vemos que ela mentiu sobre muitas outras coisas também. É um filme muito divertido, e Tim está ótimo. Ele também é um grande diretor.

Fonte: http://www.cinema.com.br/tempo-real/a-experiencia-de-sigourney-weaver.html -27/12/2009

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