quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O uso mais intenso dos rios brasileiros

Entrevista Tiago Pereira Lima

Diretor da Anaq defende em Copenhague o uso mais intenso dos rios brasileiros,
em substituição à malha rodoviária

COP-15 AGENDA DO MEIO AMBIENTE
CÚPULA DE PAÍSES TENTA SUPERAR IMPASSES PARA CUMPRIMENTO DE METAS CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL, DE 7 A 18 DE DEZEMBRO, EM COPENHAGUE


Copenhague – O Brasil pode ter, já em 2010, um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de hidrovias. Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Anaq), o país tem uma rede hidrográfica de 100 mil quilômetros, esse modelo de transporte emite pouco carbono e pode ser uma alternativa para a questão climática, diante da rede rodoviária que está saturada e é responsável por 90% dos lançamentos na atmosfera de gases que contribuem para o aquecimento global. Um estudo do Porto de Ennshafen, da Áustria, mostra que a emissão em gramas por tonelada de quilômetro rodado é substancial: enquanto o transporte rodoviário emite 164g/tku, o hidroviário lança 33,4g/tku. O assunto foi apresentado ontem pelo diretor da Anaq, Tiago Pereira Lima num painel no espaço do Brasil em Copenhague, durante a Conferência das Partes da Convenção das Mudanças Climáticas (COP-15), que termina sexta-feira.

Como é o sistema aquaviário no Brasil?
Temos as hidrovias (rios), a navegação marítima (cabotagem), que é pela costa brasileira, o apoio marítimo (navegação de apoio, como às plataformas de petróleo), a navegação portuária e as travessias (de pequeno percurso, como as balsas do território para uma ilha).

Como o sistema modal hidroviário pode ser uma boa alternativa ao sistema de transporte de cargas?
Quando falamos de hidrovias de interior, de rios, basicamente, e que são as mais economicamente viáveis e concentradas principalmente na Região Norte do Brasil, temos 29 mil quilômetros naturalmente disponíveis e navegáveis. Totalizando rios e lagos, são 63 mil quilômetros. Temos ainda a costa brasileira e a área de navegação para as plataformas de petróleo em alto mar. O sistema modal aquaviário é uma alternativa mais limpa ao setor de transportes, principalmente quando se fala de transporte de carga. Se pegarmos pelos tipos de transporte que mais emitem carbono no Brasil, temos 90% dos lançamentos feitos pelo rodoviário, 7,6% pelo aéreo, 0,4% pelo ferroviário e apenas 2% pelo hidroviário.

E como o governo pode tornar esse sistema de transporte mais atraente para que seu potencial seja mais explorado?
São necessários investimentos de R$ 7,5 bilhões para incrementar a estrutura das hidrovias — sinalização, construção de portos, dragagem do leito — para o escoamento de grãos de todo tipo, como café, arroz, milho, soja, entre vários outros, frutas, minério, bauxita, cobre, ferro e uma centena de outros produtos Brasil afora, quiçá para Argentina, Bolívia e Uruguai, usando a Hidrovia Paraguai-Paraná.

O senhor falou que o modal hidroviário é mais limpo em termos de emissões de carbono. Ele apresenta outras vantagens?
O modal hidroviário tem a vantagem de ter menor custo de investimento na construção de vias e menor custo de manutenção. É preciso mudar a matriz de transporte brasileira se há metas ambiciosas para a redução das emissões de carbono.

Há outras metas nesse setor?
Se sim, quais?
Em 2005, foi traçado o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), que prevê um incremento no modal aquaviário dos atuais 13% para 25%, até 2025; e uma redução do modal rodoviário, dos atuais 60%, para 35%. Uma das justificativas, além de aproveitar o que naturalmente já existe, em termos de áreas navegáveis, é que o Brasil está expandindo seu agronegócio, concentrado em regiões como o Centro-Oeste (Goiás e Distrito Federal), parte do Norte (Tocantins e trecho do Piauí), Oeste (Mato Grosso e trechos do Pará e Rondônia) e Nordeste (Bahia) e um pequeno pedaço de Minas.

E essa história de PAC das Hidrovias?
A Casa Civil começou a se sensibilizar para a questão e pode incluir projeto no PAC 2010. É um mercado incipiente, mas muito promissor, com grande potencial de crescimento. O que precisamos é de orçamento, que não temos, e de uma política forte.

A Agência Nacional de Transporte Aquaviário foi criada quando?
E quais são suas funções?
A Anaq foi criada em 2001 e é ligada ao Ministério dos Transportes. Além de regular e fiscalizar o transporte aquaviário, os portos brasileiros e tudo ligado à navegação, é responsável pela emissão de outorgas de portos privados e arrendamento aeroportuário por empresas privadas.

"É preciso mudar a matriz de transporte brasileira se
há metas ambiciosas para a
redução das emissões de carbono”

Reportagem de Cristiana Andrade Enviada especial
Fonte: Correio Braziliense online, 16/12/2009

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