domingo, 13 de dezembro de 2009

Um mundo menos quente

ALBERT FISHLOW*


Combater o aquecimento e o terrorismo tem custos;
 a melhora econômica dos EUA torna os esforços mais viáveis

O FINAL do ano está se aproximando. Mas o mundo mal percebe. Diversas atividades prosseguem em ritmo frenético. Copenhague aguarda os líderes de mais de cem países, na semana que vem, para que firmem um pré-acordo sobre os princípios de combate ao aquecimento global no período pós-Protocolo de Kyoto. Um documento definitivo terá de aguardar até a reunião de dezembro do ano que vem, no México. Pela primeira vez em uma década, os Estados Unidos voltaram a se envolver nesse processo de maneira profunda.

Quase todo mundo favorece medidas ousadas para evitar as potenciais consequências de uma negligência continuada. O problema, como sempre, está nos muitos detalhes a negociar. Os países apresentam ofertas de futuras reduções tomando como base anos que lhes são vantajosos. Declínios relativos quanto ao que teria sido a norma continuam a ser a prática padrão, desconsiderando os aumentos absolutos que continuarão a ocorrer, como na China e Índia. Os países desenvolvidos ricos estão sendo responsabilizados por sua passada negligência e terão de pagar o preço.

Mas quem vai pagar, e quanto, e quem vai receber? O Greenpeace está apelando por uma transferência da ordem de US$ 140 bilhões, enquanto o projeto de lei para a redução das emissões de carbono que foi aprovado recentemente pela Câmara dos Deputados norte-americana fala em valor próximo a US$ 7 bilhões. A diferença não é trivial.

E tampouco existe uma maneira de garantir que esses acordos internacionais serão cumpridos: os compromissos iniciais assumidos em Kyoto não o foram. Fiscalizar o cumprimento de obrigações multilaterais não é nada fácil. E, além disso, os Estados Unidos jamais ratificaram o Protocolo de Kyoto. Aliás, a Lei do Mar continua a aguardar aprovação formal do Senado, a despeito de esforços anteriores, em 1994, para satisfazer a algumas das objeções.

Esse assunto atraía muita atenção em toda parte, e o mesmo pode ser dito sobre a entrega do Prêmio Nobel da Paz ao presidente Barack Obama. A cerimônia aconteceu pouco depois de ele anunciar a decisão de enviar mais 30 mil soldados norte-americanos ao Afeganistão, uma medida que contraria a opinião das maiorias, não só em seu país como no exterior.

O discurso de Obama em Oslo tratou de forma eloquente a questão central em disputa: "O terrorismo é tática usada há muito; no entanto, a tecnologia moderna permite que alguns poucos homens pequenos, dotados de raiva descomunal, assassinem inocentes em escala horripilante". A parte difícil é determinar quando intervenções militares constituem a resposta adequada. Isso é sempre mais fácil em retrospecto, como no caso do conflito entre hutus e tutsis em Ruanda, na África, em 1994, cujas raízes são ainda mais antigas.

Obama defendeu um papel especial para os Estados Unidos, ainda que enfatizasse a importância de um multilateralismo mais amplo. É dessa dualidade que nasce o problema. Um dos motivos para o envolvimento remonta ao ataque ao World Trade Center em setembro de 2001. O Taleban fornecia refúgio e apoio à Al Qaeda, no Afeganistão. A história faz diferença.

As duas soluções têm custos, e não apenas financeiros. A melhora da situação econômica dos Estados Unidos torna esses esforços muito mais viáveis agora do que teriam sido alguns meses atrás.

Tradução de PAULO MIGLIACCI
ALBERT FISHLOW , 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1312200904.htm

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