Juliano Sanches*
2012 é um ano apagador da vida no planeta ou uma era de ouro, com tom de recomeço. É uma resposta a ser meditada pelos brasileiros e por todos os povos. A Terra já deixou um alarme. Quem escutou o alarme no coração, e não apenas na superficialidade do ego já começou a ter uma conduta de inteireza, com novas e cuidadosas atitudes para com as formas compartilhantes de expressão da vida. Um alarme com consciência e esperança, em que a árvore, o rio e o homem formem um tríade arquétipo de caminho, continuidade e vida.
O caminho a ser vivido precisa usar sandálias e não grandes botas, aquelas que pisam e fazem calos nas mãos dos mais fracos. Tal caminho se constrói na geração de igualdade de oportunidades, reconhecimentos e valorizações aos índios, bóias-frias, seres humanos com Aids, pessoas com deficiência, pessoas com epilepsia, mulheres, negros, pessoas da Terceira Idade e àqueles que moram nas ruas. Enfim, é preciso alterar a história excludente, escrita oficialmente pelos poderosos. É o momento de dar voz à margem e fazer dela, por uma e decisiva vez, um espaço de escrita da história.
Muitos defensores da natureza, ao estudarem os diversos escritos dos povos antigos, apontaram 2012 como o ano limite para as atitudes do homem contra o Planeta. Antes de se focar em 2012, a linguagem do cinema já demonstrava um interesse por temas relacionados à continuidade ou à descontinuidade dos seres vivos. Uma verdade inconveniente, de 2006, do diretor Davis Guggenheim, alertou as pessoas sobre as gigantescas proporções dos efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas da Terra.
Por outro lado, fica subentendido ao observador atento que A Grande Farsa do Aquecimento Global, documentário produzido em 2007 pelo britânico Martin Durkin, vai contra a maré de refrear a catástrofe dos seres vivos. E, por isso, aponta para um caminho de usar a Terra como se fosse uma escrava até os últimos dias dos seres vivos, como se nada de prejudicial ocorresse no atual momento aos habitantes desse espaço cósmico.
Quem aplaude uma produção como A Grande Farsa do Aquecimento Global não tem o mínimo de comoção ao ver a morte de homens, animais e plantas diante das altas temperaturas e das inundações. É como colocar um pano escuro em volta de toda a cabeça para que a pessoa não perceba a realidade ao redor e, por consequência, se conforme em pensar na construção de uma falsa normalidade.
O Fórum Internacional do Condomínio da Terra (Gaia Commitment), ocorrido em julho de 2009, está na lista das atividades em prol da mudança de comportamento a partir da relação do homem com a natureza.
O filme 2012, do diretor Roland Emmerich, cineasta também de O Dia Depois de Amanhã, está na ordem do dia das discussões sobre o Planeta. 2012 tem uma narratividade com tom de apocalipse. Fica uma pergunta a partir da estética dessa película: estimular o medo e a ansiedade diante da possibilidade de caos é a solução? Ou é preciso pensar na construção de uma educação em favor da vida, da natureza, para, assim, quebrar as ácidas e amargas táticas do consumismo e do desenvolvimento nada sustentável?
Além do cinema, estão as ações dos sitiantes, escritores, pesquisadores, índios, trabalhadores rurais, religiosos e outros agentes sociais. Quando pensam, juntos, em favor de um bem comum, despertam uma atitude de prestatividade nas pessoas. Fazem dos seres do Planeta partes plenas e singulares de um todo.
Com um olhar de atenção em comum (à vida e à natureza), Leonardo Boff, Martin Luther King, Liev Tolstói, Baruch de Espinosa, Albert Einstein, Bezerra de Menezes, Mahatma Gandhi, Dom Hélder Câmara e tantos outros demonstraram uma vontade de fazer da Terra um ambiente de não destruição coletiva e amor. Por trás das palavras desses seres, estão experiências e exemplos de profundidade de vida e comunhão com a existência. São, de fato, heróis para quem crê, com esperança, em um porvir melhor, quando a violência e o derramamento de sangue e seiva não reinem nem possuam armadilhas ostensivas e opressivas.
*Juliano Luis Pereira Sanches é jornalista, escritor e palestrante, pós-graduando pelo Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo), da Unicamp
FONTE: Correio Popular online, 13/12/2009
julianoluis@ig.com.br
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