Enviado por: Migliaccio
Vivemos um tempo em que o dinheiro manda. Isso não é novidade, porque esse tempo começou há muito tempo, mas o poder avassalador da grana foi estendendo seus tentáculos por todas as esquinas, manchou todos os papéis e tomou posse também da alma das pessoas.Aí é que a coisa pegou.
Tenho saudade do tempo (eu cheguei a pegar) em que dinheiro servia só para matar a fome, comprar um sanduíche, um picolé, uma roupa nova.
Ou para ter um teto e não ficar ao relento, ter um carro para passear.
Dinheiro deveria servir para atender as necessidades básicas do ser humano. Elvis Presley, Michael Jackson, Maradona e tantos outros já nos mostraram que o vil metal, da mesma forma que a fama, é pura ilusão.
Mas hoje o dinheiro é um entorpecente poderosíssimo, que tem bilhões de escravos mundo afora a cultuá-lo e a trabalhar incessantemente para que ele adquira ainda mais poder.
Dependetes de crack matam familiares para conseguir R$ 5. Mas coveiros do Cemitério do Catumbi me disseram que ficam revoltados quando vêem filhos discutindo pelos bens do pai quando o corpo deste nem baixou à sepultura.
Dinheiro chama dinheiro!
Hoje, quem manda no mundo não são pessoas, governantes, nem mesmo os donos das grandes corporações, estatais ou privadas, porque elas já andam sozinhas. Mesmo com um motorista barbeiro ao volante, se houver dinheiro no tanque de combustível, a máquina vai em frente, levando de roldão a natureza e o coração de quem ainda pensa.
Quem na verdade gera emprego e dinheiro com seu trabalho e sua criatividade é o homem, mas este hoje não vale quase nada.
Veja o exemplo do futebol, essa indústria milionária. Já foi um jogo, hoje é um pretexto para que as empresas privadas multipliquem dinheiro. O homem, antes o principal elemento do jogo, com sua habilidade, seus gols de placa ou sua paixão na arquibancada, hoje está em segundo plano. Quando muito, é um empregado, às vezes bem pago, mas na maioria dos casos não.
O estádio está vazio? Os atores, digo, jogadores que se danem. O patrão já pagou a renda e dispensou a torcida, que tem que acordar cedo e não pode ir assistir a um jogo que vai terminar meia-noite numa quarta-feira. E daí? O jogo passa na TV. Se não há mais público, que aprendam a jogar para as câmeras. Em vez da paixão que emanava da arquibancada, agora vem o silêncio. Daqui a pouco, após fazer um gol, o craque não vai beijar o escudo do time, mas o crachá da detentora dos direitos de transmissão ou a publicidade na camisa.
Por ser empregado, o jogador tem que entrar em campo na hora em que patrão manda. A esportividade, os critérios fisiológicos e médicos não valem mais nada. Então, o patrão manda realizar-se o jogo às 16h, que no horário de verão correspondem às 15h.
Os termômetros ontem em Porto Alere (Região Sul!!!!) marcavam 37 graus C, mas a sensação térmica era de 44. Veja o que aconteceu com outro empregado da indústria futebol, obrigado a comentar um jogo naquela canícula: Batista desmaia ao vivo na TVCom.
Se na cabine da TV é impossível trabalhar, imagine correr no campo de jogo... mas ninguém reclama, nem o sindicato dos jogadores, nem os jornalistas, nem o torcedor, nem o Ministério da Saúde.
Se o dinheiro mandou, então vamos todos para a fornalha, porque o jogo tem que acabar antes da novela das seis.
Citei o futebol pela força da imagem, mas o mundo está assim. Religião é negócio, droga é negócio, política é negócio, casamento é negócio, guerra é negócio, crime é negócio, arma é negócio, infäncia é negócio.
Um negócio de louco...
Tudo bem, essas são as regras.
Mas amanhã, quando o sol nascer, vamos brincar de outra coisa?
_______________________________________________
Fonte: http://www.jblog.com.br/rioacima.php 04/02/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário