terça-feira, 13 de julho de 2010

'Ex-presidente não tem que se meter no governo’

Direto da fonte


A primeira-dama Marisa Letícia cortou, ela mesma,
seus cabelos ao ver o Brasil
ser eliminado da Copa.


A derrota do Brasil na Copa do Mundo tirou a primeira-dama Marisa Letícia do sério. Durante momento de tristeza profunda, ela passou a mão na tesoura e cortou os próprios cabelos. Mesmo sendo reconhecida pela família por saber aparar, desta vez ela não acertou. E procurou na segunda-feira passada, Wanderley Nunes. Quis consertar o mal feito que resultou em pontas tortas. Às 16h, a coluna encontrou a mulher do presidente Lula com a manicure Eliane Silva caprichando nas suas unhas, em canto reservado do salão. Acomodada em uma cadeira alta, unhas ganhando a coloração “Salto Alto” (vermelho vibrante da Colorama), Marisa Letícia foi simpática na aproximação da repórter. Suas sobrancelhas já estavam cobertas por leve camada de tintura e seus cabelos molhados esperavam as novas mechas loiras e corte.
Em clima descontraído, Nunes, seu cabeleireiro há oito anos, chega depois da primeira-dama e logo observa: “Dona Mariiiiisa, eu estava te vendo de longe e achei a senhora parecida com o Rod Stewart“. Gargalhadas gerais. Ao lado da dupla, a fiel nora Marlene Araújo, casada com Sandro, acompanha os trabalhos de Wanderley com atenção. É para ela que a sogra reclama em tom de brincadeira: “Aí, Marlene, ele não para de cortar. Cuidado, Wanderley, menos, senão meu cabelo vai enrolar”. Com a segurança de quem sabe o que está fazendo, o hairstylist responde: “Pelo amor de Deus, dona Marisa, se comporte. Não posso deixar nenhuma ponta”. Novas risadas.
Sem se incomodar com as tiras de papel alumínio na cabeça, que aceleram o processo de coloração, a primeira-dama aproveitou para se atualizar sobre os preparativos do leilão que ambos organizam em prol da favela de Paraisópolis, dia 16 de agosto, no Buddha Bar. Essa seria a primeira grande recepção do novo restaurante do cabeleireiro, o Café Barbeiro, mas um imprevisto no contrato adiou a inauguração. “A Gisele Bündchen doou um vestido. O Carlos Slim prometeu mandar alguma coisa e comprar também. E o Jay Milder dará um quadro de US$ 250 mil”, explica Nunes, entusiasmado.
Cabelos já coloridos e arrumados, dona Marisa passa para outra sala, onde se maquia: preparação para sessão de fotos feitas pelo próprio dono do estúdio de beleza. As imagens vão ajudar a divulgar o leilão.
Ao entrar em um provador de roupas e experimentar blusa com laço, de Glória Coelho, e colar com graúdas bolas de cristal, dona Marisa não se sente confortável com as peças. Faz e desfaz o laço e pergunta: “Tá bom? O que vocês acham?”. Em coro, os pouquíssimos espectadores elogiam: “Está lindo, superchique”. Ela não se convence e sentencia: “Muito perua. Fica bom nos outros, mas não em mim”. Volta ao provador e experimenta outra camisa da mesma grife. “Agora melhorou, combina mais comigo.” É fato que nos oito anos vivendo ao lado do comandante político do País, Marisa Letícia mantém postura discreta, característica que se repete em sua fala: baixa, pausada e comedida. Foi em meio à tarde de beleza que ela concedeu rara entrevista à coluna.

Já estão em clima de despedida no Palácio?
Não, de jeito nenhum. Vamos reinaugurar o Palácio do Planalto agora. Está clima de entrada em palácio novo. Tem mais seis meses de trabalho, ainda muita coisa por fazer.

Depois do mandato de Lula, pretende descansar?
Por que descansar? A nossa luta continua. Tem que montar escritório, nós vamos ter que continuar trabalhando.

Vai fazer festa de despedida?
Vou fazer a festa que faço todo ano para funcionários. Sempre um sábado antes do Natal. Daí passo o Natal com meus filhos e eles vão para Brasília ou a gente vem para cá. Não estou pensando em despedida, não, depois já vem o fim do ano…

Já decidiu onde vai morar? São Bernardo, Brasília, NY…?
Em São Bernardo. Estou indo para a minha casa dia 1º de janeiro. Depois, não sei no que vai dar. Se eu morar longe, vou ter que levar o Wanderley (cabeleireiro) e a Rosa (assistente) (risos). Não gosto muito de Brasília para morar. E outra, acho que ex-presidente não tem que se meter no governo que está começando. Tem que fazer outra coisa. Montar instituto, arrumar o trabalho dele, viver aqui em São Paulo comigo.

Como a senhora vê a parcela da população que não quer que Lula deixe o governo?
Mas já venceu, não dá pra mudar a lei. A gente vive numa democracia, se não a gente vai ficar que nem esses outros países em que a mesma pessoa fica 20, 30 anos (no poder) e nunca quer mudar.

E o que acha de Brasília?
Eu gosto do clima de lá. A moradia fica perto do serviço. Não tem esse trânsito. O que acontece é que eu sou nascida aqui e é onde tenho toda a minha estrutura.

Sobre São Paulo, sente falta dos serviços daqui?
Sinto, mas não muito porque eu venho para cá ou para o Rio cortar com o Wanderley ou ele vai para Brasília. Mas sinto mesmo falta dos meus filhos, netos. Tenho uma nora que está grávida, a Renata, mulher do Fábio. Com sete meses ela nem pode mais viajar. E não gosto de shopping center, sou mais de ver um filme em casa. Com o tipo de vida que a gente leva, quase não dá para sair.

O presidente também gosta de ver filme em casa?
Gosta.

Qual foi o último que viram?
Ah, faz tanto tempo que eu nem lembro.

O que achou do filme Lula, o Filho do Brasil?
Gostei. Mas eu não tive muito tempo para ver, só vi aquele dia lá (na pré-estreia para convidados), mas sempre tinha alguém conversando, puxando papo. Ganhei a fita, mas ainda não consegui assistir direito.

A senhora acha que Lula deu certo no governo?
Ele dá sempre certo. O Lula foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos duas vezes. Presidente do PT duas vezes e agora presidente do Brasil duas vezes. A gente sabe que a nossa vida é isso, é passagem. Agora acabou o nosso tempo. É pegar uns dias para dar uma descansada e começar a trabalhar de novo. E deixar o governo andar. Tenho certeza que vamos ganhar, então vamos deixar a Dilma trabalhar sem se meter muito. Lula volta para o partido dele e é o que ele está fazendo, todo mundo sabe. Ele mesmo fala isso. O povo tá bem feliz, a maioria conseguiu comprar casa, carro.

A senhora é uma primeira-dama discreta, né?
Nada contra quem não é. Mas eu sempre falo que primeira-dama não é cargo. Não fui eleita para nada, eu não sou candidata a nada. Peguei esse cargo por causa do meu marido, mas não sou remunerada, não sou nada, sou apenas mulher ou companheira, igual ele fala. Eu faço a parte que gosto. Trabalho com crianças, sou madrinha ali, madrinha aqui. Por que primeira-dama tem que assumir o social? Tem primeira-dama que não tem vocação e acaba trabalhando numa área que nem é dela. Este não é o meu caso, porque faço trabalho social desde novinha.

Para isso serve o Ministério do Desenvolvimento Social?
Sim, por isso foi criado o ministério social, que agora está com a Márcia Lopes. Eu acho que eles têm que ter essa responsabilidade, ser pagos e trabalhar direitinho como ministro. O ministério comanda e não fica sobrando para primeira-dama. Ela pode ajudar no social, claro, e em qualquer área: saúde, educação, como voluntária.

Vai participar da campanha da Dilma também?
Vou, com certeza.

Pretende participar de caminhada política?
Vou. É o que eu mais gosto de fazer. Agora o Lula vai começar a fazer campanha, vai vir mais para São Paulo.

A senhora emagreceu. Está fazendo dieta?
Emagreci, sim. Eu pesava 62 quilos e agora estou com 57. Fechei a boca e parei de comer carboidrato. Agora o Lula fica viajando de um lado para o outro e acabou engordando um pouco.

Gostou do novo corte de cabelo da Dilma?
Está melhor do que estava. Eu gostei. Mas cabelo de mulher é tão difícil, né? Acho que ela está bonita agora, está se arrumando, se pintando.

Por que a senhora resolveu cortar seu cabelo?
Fiquei nervosa porque a seleção perdeu e cortei.

O que achou da eliminação da seleção brasileira?
Eu fiquei muito triste e o Lula também. A gente não esperava, mas na próxima a gente ganha, se Deus quiser. E com mais gostinho, em casa, na nossa língua. Só tem que torcer para viver até lá (risos). Tem mesmo.

Ficou com pena do Dunga?
Fiquei, sim. Ele tem história, foi um grande jogador.

O que o presidente disse quando a seleção perdeu?
Sabe que não deu tempo de falar com ele. Eu vim para SP, ele viajou. Mas fica todo mundo triste, não dá nem vontade de falar, né? Até no avião estava todo mundo triste. Também, a gente só quer ganhar, né? Nunca perder. Também tem que perder para o outro ganhar… Só quer ganhar, ganhar.

A senhora gosta de ser a primeira-dama do Brasil?
Não. Eu gosto de ser Marisa.
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Por Paula Bonelli
Fonte: Estadão online, 11/07/2010

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