RIO - Em 1983, Christiane Amanpour chegou à CNN de bicicleta,
carregando uma pequena mala. Na carteira, tinha apenas 100 dólares.
Nascida em Londres e criada em Teerã, capital do Irã, ela havia acabado
de se formar em Jornalismo na Universidade de Rhode Island, nos Estados
Unidos, e começava no canal como uma assistente na seção de notícias
internacionais. Em 1990, Christiane já era correspondente fora do país.
Viu os horrores da guerra na Bósnia e no Iraque, entrevistou líderes
políticos tão controversos quanto o líbio Muamar Kadafi e o egípcio
Hosni Mubarak e, hoje, 30 anos depois, é um dos grandes nomes da CNN e
referência no jornalismo televisivo.
Em entrevista exclusiva ao GLOBO, Christiane — que atualmente é a principal correspondente internacional do canal, além de apresentar o “Amanpour”, programa da CNN International, no ar no Brasil de segunda a sexta, às 16h e às 18h, e de ser âncora da ABC News — diz que gostaria de ver mais mulheres ocupando posições importantes no jornalismo, que as novas mídias não substituem o trabalho de um repórter e que dar a notícia significa ir aonde ela acontece, e não apenas “comentar de uma poltrona”. A jornalista também tem uma vontade:
— Um dos meus grandes desejos é entrevistar Dilma Rousseff, sua presidente — ela revela.
Que lembranças você tem do começo da carreira?
Vim de Providence (capital do estado americano de Rhode Island) e assumi um cargo bem de iniciante mesmo. Entrar na CNN foi uma aventura fantástica. Nós éramos jovens, tínhamos acabado de sair da universidade e achávamos que o canal seria nossa pós-graduação em Jornalismo. Foi assim que nos tornamos mestres na profissão. Achávamos que a CNN era um passo para o grande momento de nossas vidas, e a CNN foi o grande momento de nossas vidas. Foi uma grande experiência.
Você ainda vê algum tipo de preconceito em relação às mulheres na profissão?
“Não, não, não, diz Christiane Amanpour”, pode escrever aí. Não quero mais ouvir falar sobre diferenças entre homens e mulheres no jornalismo. Nós exigimos os mesmos direitos dos homens, seja na frente ou atrás das câmeras. Quero ver mais mulheres em posições executivas em organizações de notícias. Não há nada que as mulheres não possam fazer neste ramo. No Afeganistão, falando com mulheres e jovens, ser mulher me ajudou a descobrir histórias reais, mais vezes do que posso contar.
Jovens jornalistas ainda têm o mesmo idealismo e paixão de outros tempos?
Assim espero. E espero, também, que jovens jornalistas vejam que esta ainda é uma profissão importante e que, mais do nunca, é importante existirem jornalistas profissionais. Hoje temos as redes sociais e todas essas novas plataformas, mas nada substitui um jornalista profissional, que ganha credibilidade e experiência checando os fatos e tudo que escreve. O jornalismo tem que ser baseado em fatos, que devem ser checados.
Como tantas mudanças tecnológicas afetam a profissão?
A CNN foi a primeira rede de notícias via satélite dos Estados Unidos e do mundo. Mudamos a maneira com que as pessoas veem notícias. O que está acontecendo agora é a superação disso: com mais e mais tecnologia, você tem mais e fáceis plataformas para consumir notícia. Mas tudo gira em torno do conteúdo, e temos que estar atentos a isso. Você ainda tem que descobrir qual é o conteúdo, ser preciso e saber o que significa ser um jornalista. Isso não mudou e não deve mudar. A tecnologia só vai melhorar a forma com que as notícias chegam até as pessoas.
Você já disse que teme por sua segurança e de seus colegas. Estes são tempos perigosos para jornalistas?
São tempos cada vez mais perigosos. Há muita perseguição, muitos feridos e mortos. Veja o que acontece no México, nas Filipinas, na Síria. É um problema real.
Como você se sente sendo uma testemunha ocular de momentos históricos?
Como jornalista, você tem uma plataforma incrível e pode ser uma testemunha ocular dos momentos mais importantes do seu tempo. Eu estudo história e aprendo tudo sobre política com meu trabalho. Ser tudo isso é um privilégio, mas mais que isso, é importante lembrar que hoje em dia, para muitos, jornalismo é sentar em uma poltrona e comentar o que está acontecendo. Isso não é jornalismo: isso é fazer comentários. Nós, jornalistas, temos que ir onde quer que algo esteja acontecendo, ser os olhos e ouvidos e mostrar o que está se passando. Isso é ser uma testemunha ocular e um jornalista.
Você foi a guerras e viu cenas horríveis. Como lida com as lembranças ruins?
Obviamente, isso é muito triste, e venho fazendo isso há anos. Isso tem algum efeito, não vou mentir ou negar. Mas quando chego em casa (ela vive em Nova York) sou muito ligada aos meus amigos, à minha família. E tento me cercar de beleza: vou a museus e parques, vejo filmes. Mas também tive minha cota de grandes histórias, como a cobertura do papa. Aliás, vocês devem estar felizes com um Papa da América Latina (o Papa Francisco, nascido na Argentina), não? Tenho esperança de que ele faça uma limpeza na cúria.
Que história contaria de novo na TV?
Sempre a mesma: fui à Bósnia (em 1992), onde houve um genocídio inaceitável. Foi a guerra mais importante que cobri, e o trabalho mais importante que fiz.
Como vê o Brasil hoje?
O Brasil é um dos países mais fascinantes no campo econômico e social, com um desenvolvimento real no século XXI. Amo a sua cultura e tudo que vem dela, e sua dinâmica social. Estive aí uma vez (durante a ECO 92) e quero voltar. Um dos meus grandes desejos é entrevistar Dilma, sua presidente. Pode escrever aí.
Qual é o lugar para um jornalista em busca de uma boa história estar hoje?
A Síria é muito importante, e os países da Primavera Árabe.
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Fonte:http://oglobo.globo.com/revista-da-tv/quero-entrevistar-dilma-rousseff-diz-christiane-amanpour-um-dos-principais-nomes-da-cnn-8922410#ixzz2YfxF6egf
Em entrevista exclusiva ao GLOBO, Christiane — que atualmente é a principal correspondente internacional do canal, além de apresentar o “Amanpour”, programa da CNN International, no ar no Brasil de segunda a sexta, às 16h e às 18h, e de ser âncora da ABC News — diz que gostaria de ver mais mulheres ocupando posições importantes no jornalismo, que as novas mídias não substituem o trabalho de um repórter e que dar a notícia significa ir aonde ela acontece, e não apenas “comentar de uma poltrona”. A jornalista também tem uma vontade:
— Um dos meus grandes desejos é entrevistar Dilma Rousseff, sua presidente — ela revela.
Que lembranças você tem do começo da carreira?
Vim de Providence (capital do estado americano de Rhode Island) e assumi um cargo bem de iniciante mesmo. Entrar na CNN foi uma aventura fantástica. Nós éramos jovens, tínhamos acabado de sair da universidade e achávamos que o canal seria nossa pós-graduação em Jornalismo. Foi assim que nos tornamos mestres na profissão. Achávamos que a CNN era um passo para o grande momento de nossas vidas, e a CNN foi o grande momento de nossas vidas. Foi uma grande experiência.
Você ainda vê algum tipo de preconceito em relação às mulheres na profissão?
“Não, não, não, diz Christiane Amanpour”, pode escrever aí. Não quero mais ouvir falar sobre diferenças entre homens e mulheres no jornalismo. Nós exigimos os mesmos direitos dos homens, seja na frente ou atrás das câmeras. Quero ver mais mulheres em posições executivas em organizações de notícias. Não há nada que as mulheres não possam fazer neste ramo. No Afeganistão, falando com mulheres e jovens, ser mulher me ajudou a descobrir histórias reais, mais vezes do que posso contar.
Jovens jornalistas ainda têm o mesmo idealismo e paixão de outros tempos?
Assim espero. E espero, também, que jovens jornalistas vejam que esta ainda é uma profissão importante e que, mais do nunca, é importante existirem jornalistas profissionais. Hoje temos as redes sociais e todas essas novas plataformas, mas nada substitui um jornalista profissional, que ganha credibilidade e experiência checando os fatos e tudo que escreve. O jornalismo tem que ser baseado em fatos, que devem ser checados.
Como tantas mudanças tecnológicas afetam a profissão?
A CNN foi a primeira rede de notícias via satélite dos Estados Unidos e do mundo. Mudamos a maneira com que as pessoas veem notícias. O que está acontecendo agora é a superação disso: com mais e mais tecnologia, você tem mais e fáceis plataformas para consumir notícia. Mas tudo gira em torno do conteúdo, e temos que estar atentos a isso. Você ainda tem que descobrir qual é o conteúdo, ser preciso e saber o que significa ser um jornalista. Isso não mudou e não deve mudar. A tecnologia só vai melhorar a forma com que as notícias chegam até as pessoas.
Você já disse que teme por sua segurança e de seus colegas. Estes são tempos perigosos para jornalistas?
São tempos cada vez mais perigosos. Há muita perseguição, muitos feridos e mortos. Veja o que acontece no México, nas Filipinas, na Síria. É um problema real.
Como você se sente sendo uma testemunha ocular de momentos históricos?
Como jornalista, você tem uma plataforma incrível e pode ser uma testemunha ocular dos momentos mais importantes do seu tempo. Eu estudo história e aprendo tudo sobre política com meu trabalho. Ser tudo isso é um privilégio, mas mais que isso, é importante lembrar que hoje em dia, para muitos, jornalismo é sentar em uma poltrona e comentar o que está acontecendo. Isso não é jornalismo: isso é fazer comentários. Nós, jornalistas, temos que ir onde quer que algo esteja acontecendo, ser os olhos e ouvidos e mostrar o que está se passando. Isso é ser uma testemunha ocular e um jornalista.
Você foi a guerras e viu cenas horríveis. Como lida com as lembranças ruins?
Obviamente, isso é muito triste, e venho fazendo isso há anos. Isso tem algum efeito, não vou mentir ou negar. Mas quando chego em casa (ela vive em Nova York) sou muito ligada aos meus amigos, à minha família. E tento me cercar de beleza: vou a museus e parques, vejo filmes. Mas também tive minha cota de grandes histórias, como a cobertura do papa. Aliás, vocês devem estar felizes com um Papa da América Latina (o Papa Francisco, nascido na Argentina), não? Tenho esperança de que ele faça uma limpeza na cúria.
Que história contaria de novo na TV?
Sempre a mesma: fui à Bósnia (em 1992), onde houve um genocídio inaceitável. Foi a guerra mais importante que cobri, e o trabalho mais importante que fiz.
Como vê o Brasil hoje?
O Brasil é um dos países mais fascinantes no campo econômico e social, com um desenvolvimento real no século XXI. Amo a sua cultura e tudo que vem dela, e sua dinâmica social. Estive aí uma vez (durante a ECO 92) e quero voltar. Um dos meus grandes desejos é entrevistar Dilma, sua presidente. Pode escrever aí.
Qual é o lugar para um jornalista em busca de uma boa história estar hoje?
A Síria é muito importante, e os países da Primavera Árabe.
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Fonte:http://oglobo.globo.com/revista-da-tv/quero-entrevistar-dilma-rousseff-diz-christiane-amanpour-um-dos-principais-nomes-da-cnn-8922410#ixzz2YfxF6egf
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