"...uma era está a chegar ao fim: a era fácil da felicidade a preço
reduzido, negociável e desvinculada
de princípios, ideais e valores.
A
felicidade entendida como
a satisfação de todo o desejo; um direito e
um prazer
que nunca deveriam ser mortificados."
"Filhos... de quem? O futuro que nos espera",
recentemente lançado pela Paulus Editora, «apresenta uma profunda
reflexão sobre o futuro da família, proveniente da educação atual dos
seus filhos a partir do Evangelho».
Stefano Tardini, reflete sobre «muitos temas do
debate cultural de hoje: ressurreição e reencarnação; democracia e
ilusão; profecia e poder mediático; bondade de Deus e possibilidade do
Inferno; ética e desenvolvimento económico».
Apresentamos o prefácio da obra que, segundo o autor, «ajudará também os não crentes e os afastados da fé».
Prefácio
D. Giovanni D'Ercole
Bispo auxiliar da arquidiocese de L'Áquila, Itália
A crise económica e financeira que alastra por
todo o mundo, nomeadamente nos países altamente desenvolvidos, obriga
todos a darem-se conta de que uma era está a chegar ao fim: a era fácil
da felicidade a preço reduzido, negociável e desvinculada de
princípios, ideais e valores. A felicidade entendida como a satisfação
de todo o desejo; um direito e um prazer que nunca deveriam ser
mortificados. Com a busca frenética desta felicidade, muitas vezes
ilusória, a cultura do consumismo desenfreado trouxe consigo um sentido
sub-reptício de frustração que impeliu muitas pessoas – frequentemente
jovens desvinculados de qualquer referimento a valores – a fugirem
para paraísos artificiais, que se revelaram um verdadeiro inferno de
tristeza e de morte. As drogas e a violência, para citar apenas alguns
exemplos, são sintomas e não causas do generalizado mal-estar juvenil.
Se procuramos ir mais fundo, se nos embrenhamos na análise desta
sociedade pós-moderna farta e insatisfeita, nota-se que a inquietação e
o vazio alastram no íntimo de muitos. Têm tudo, e todavia não basta!
Sentem-se tristes! Mas porquê? Que falta?
Se queremos ser auscultadores honestos e atentos
do “grito de vida” que se levanta da geração atual, não nos devemos
deter em análises superficiais da crise que marca hoje a família, já
quase desmantelada por um assédio concêntrico; não nos podemos limitar a
denunciar o declínio das instituições que parecem ter perdido todo o
referimento à riqueza do nosso património de valores; não podemos
assistir, inertes, ao suicídio virtual das nossas tradições, que
fizeram do Ocidente cristão um farol de civilização e de clarividente
espiritualidade. É crise geral, crise da civilização ocidental.
Mas, está tudo mal? Encontramo-nos porventura à
beira de uma catástrofe global que a vasta rede telemática e
informática, envolvendo a terra inteira, torna mais percetível?
Interrogarmo-nos é justo, mas deixar-se cair num pessimismo resignado e
indeciso é tão perigoso como inútil. Se tudo parece desmoronar-se, não
devemos capitular; antes, este é o tempo da provocação à esperança,
esperança que se faz compromisso de dar novo ardor a quantos correm o
risco de se afogar num mar tempestuoso. Mas, para esperar, é
indispensável voltar à fonte, recomeçar das “certezas” da vida,
redescobrir a novidade antiga e sempre atual que habita no coração do
homem, de cada pessoa humana. Este é o tempo no qual se deve desatar a
esperança, se deve conscientemente ter a ousadia de quem está disposto a
apostar tudo para não se perder a si mesmo. E cabe a toda e qualquer
pessoa que sinta dentro de si este desejo lutar para construir uma nova
humanidade «antes que o fio de prata se rompa e a taça de ouro se
parta, antes que a bilha se quebre na fonte e a roldana rebente no
poço» (Ecl 12,6).
Quem pega neste livro de Stefano Tardani, com o título cativante Filhos... de quem? O futuro que nos espera,
mergulha nas interrogações e nas dificuldades do nosso tempo, e deve
deixar-se interpelar sobre as razões mais profundas e radicais do revés
humanitário que muitos se veem, amargamente, constrangidos a
constatar. A humanidade anda à deriva, lembrando uma nave arrastada
pelas ondas no oceano da história, sem leme firme nem um timoneiro
experiente.
A nossa geração – mas também a que nos precedeu
–, passo a passo, de forma consciente e frequentemente com
inconsciência, foi recusando o abraço com Deus, com a pretensão de
criar uma fraternidade humana sem Ele. Mas a recusa de Deus, a crise da
autoridade, a rejeição ideológica das regras em todas as suas formas
produziram uma geração de filhos errantes, assustados e desorientados
como “ovelhas sem pastor”. No entanto, nem tudo está perdido; antes, a
crise que estamos a atravessar constitui uma oportunidade útil e
providencial para recomeçar do princípio, para renascer e construir
novas perspetivas de vida e de progresso. Sem Deus, o homem perde-se;
com Ele, nada é impossível. Justamente observa Stefano Tardani: «É
precisamente na relação sincera com Deus que crescem o sentido do bem e
o sentido verdadeiro da vida.»
Nas páginas deste livro, que o leitor atento
examinará com a paixão e a curiosidade de quem se deixa cativar pelo
enredo de um romance, o autor traça um percurso humano e espiritual que
entra no “eu” para ser capaz de se abrir a todo o “tu” com quem é
chamado a relacionar-se constantemente. À medida que for avançando no
texto, o leitor sentirá um convite e um estímulo a assumir as próprias
responsabilidades, juntamente com todas as pessoas de boa vontade, na
construção de uma sociedade, onde se tenha como horizonte de ação o bem
comum e a felicidade de todos. Na verdade, a construção do “nós” da
família e da sociedade pressupõe consciência e desejo de bem que
possamos descobrir.
Como? Qual é o segredo? Para viver plenamente a
própria existência, não se pode excluir Deus; antes, é necessário
manter um contacto constante com Ele. Precisamos de aprender a rezar.
Como é atual a oração! «É precisamente na oração» – observa Stefano
Tardani – «que cresce o nosso amor a Deus e à humanidade.» Jesus ensinou
os Apóstolos a rezar; rezou com eles. Na oração por excelência – o Pai
Nosso –, ensinou-lhes a chamar Deus com o nome de Pai. Nesta oração,
encontramos o resumo e o modelo de qualquer outro modo de rezar. É
oração que abraça a vida e modela o coração segundo a ternura filial.
Por isso, o Pai Nosso torna-se escola de vida para toda a comunidade
cristã. Especialmente nestes tempos, é uma oração a redescobrir e
traduzir na vida.
Recolhendo o fruto de catequeses e experiências
pastorais com noivos e famílias, Stefano Tardani traça, neste livro, um
itinerário de formação modelado precisamente sobre o Pai Nosso.
Parece-me uma opção singularmente eficaz. Repassando estas páginas,
vemos entrelaçar-se doutrina e experiência, Palavra de Deus e pesquisa
humana, doutrina perene da Igreja (nomeadamente o magistério dos
últimos Papas depois do Concílio Vaticano II, e de forma muito especial
João Paulo II e Bento XVI) e resultados da ciência que investiga os
segredos do íntimo humano. Cada petição do Pai Nosso constitui um maior
aprofundamento da descoberta de si mesmo – o conhecimento do “eu” –, à
procura da verdade do bem. Aquilo que foi experimentado durante anos
de sério trabalho pastoral no âmbito do Movimento do Amor Familiar,
Stefano Tardani apresenta-o aqui de forma sistemática, colocando-o à
disposição de todos.
Trata-se de um caminho útil para todos, mas
especialmente recomendado às famílias, células vitais da sociedade e
que formam o articulado corpo místico da Igreja. Um itinerário
formativo, sim; mas também uma verdadeira proposta de santidade para
todos. Aquele que porventura se declare não-crente ou se considere
alheio à prática da fé, sentir-se-á contemplado também no projeto de
vida que este livro apresenta. Na verdade, redescobrir as raízes cristãs
da nossa sociedade é útil para quantos fazem parte de um mundo que foi
moldado ao longo de dois milénios pelo rico património cultural e
espiritual do Evangelho.
Nenhuma árvore pode sobreviver nem produzir
frutos separada das suas raízes. Na ideia do autor, a oração do Pai
Nosso ajuda a voltar às nossas raízes e, por isso mesmo, torna-nos
capazes de construir o futuro com esperança.
Por isso, sinceramente recomendo este livro aos
sacerdotes e educadores, aos pais e professores, bem como aos jovens à
procura de um sentido verdadeiro para a sua existência. Nos seus
dezassete capítulos, aparece-nos a verdade do Evangelho, iluminada pelo
magistério da Igreja e o testemunho dos santos e proposta segundo um
método de pesquisa antropológica que reúne o fruto de muito estudo e
experiência. Pressente-se nestas páginas algo de muito interessante para
a nova evangelização, à qual todos somos chamados. (...)
Desde a introdução, Stefano Tardani deixa clara a
perspetiva em que se move: «Quando cresce a confusão, é
verdadeiramente necessário retomar a luz da sabedoria do Evangelho: a
oração do Pai Nosso, conhecida também como “a oração do Senhor”, é de
certo modo a sua síntese. Damo-nos conta então de que as suas palavras
encerram, realmente, o programa da nossa existência e sobrevivência: a
sabedoria e a beleza quer do ser humano, quer da família, quer do modo
de viver na sociedade.» Em suma, é preciso voltar a Deus e falar com
Ele, e não como a um artesão distante e omnipotente dos nossos
destinos, mas como a um Pai carinhoso e cheio de amor. Deus é Pai, o
Pai Nosso.
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In Filhos... de quem? O futuro que nos espera, ed. Paulus Editora
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