terça-feira, 12 de novembro de 2013

Filhos... de quem? O futuro que nos espera.

Capa
 "...uma era está a chegar ao fim: a era fácil da felicidade a preço reduzido, negociável e desvinculada 
de princípios, ideais e valores. 
A felicidade entendida como 
a satisfação de todo o desejo; um direito e um prazer 
que nunca deveriam ser mortificados."

"Filhos... de quem? O futuro que nos espera", recentemente lançado pela Paulus Editora, «apresenta uma profunda reflexão sobre o futuro da família, proveniente da educação atual dos seus filhos a partir do Evangelho». 

Stefano Tardini, reflete sobre «muitos temas do debate cultural de hoje: ressurreição e reencarnação; democracia e ilusão; profecia e poder mediático; bondade de Deus e possibilidade do Inferno; ética e desenvolvimento económico».

Apresentamos o prefácio da obra que, segundo o autor, «ajudará também os não crentes e os afastados da fé».

Prefácio

D. Giovanni D'Ercole
Bispo auxiliar da arquidiocese de L'Áquila, Itália

A crise económica e financeira que alastra por todo o mundo, nomeadamente nos países altamente desenvolvidos, obriga todos a darem-se conta de que uma era está a chegar ao fim: a era fácil da felicidade a preço reduzido, negociável e desvinculada de princípios, ideais e valores. A felicidade entendida como a satisfação de todo o desejo; um direito e um prazer que nunca deveriam ser mortificados. Com a busca frenética desta felicidade, muitas vezes ilusória, a cultura do consumismo desenfreado trouxe consigo um sentido sub-reptício de frustração que impeliu muitas pessoas – frequentemente jovens desvinculados de qualquer referimento a valores – a fugirem para paraísos artificiais, que se revelaram um verdadeiro inferno de tristeza e de morte. As drogas e a violência, para citar apenas alguns exemplos, são sintomas e não causas do generalizado mal-estar juvenil. Se procuramos ir mais fundo, se nos embrenhamos na análise desta sociedade pós-moderna farta e insatisfeita, nota-se que a inquietação e o vazio alastram no íntimo de muitos. Têm tudo, e todavia não basta! Sentem-se tristes! Mas porquê? Que falta?

Se queremos ser auscultadores honestos e atentos do “grito de vida” que se levanta da geração atual, não nos devemos deter em análises superficiais da crise que marca hoje a família, já quase desmantelada por um assédio concêntrico; não nos podemos limitar a denunciar o declínio das instituições que parecem ter perdido todo o referimento à riqueza do nosso património de valores; não podemos assistir, inertes, ao suicídio virtual das nossas tradições, que fizeram do Ocidente cristão um farol de civilização e de clarividente espiritualidade. É crise geral, crise da civilização ocidental.

Mas, está tudo mal? Encontramo-nos porventura à beira de uma catástrofe global que a vasta rede telemática e informática, envolvendo a terra inteira, torna mais percetível? Interrogarmo-nos é justo, mas deixar-se cair num pessimismo resignado e indeciso é tão perigoso como inútil. Se tudo parece desmoronar-se, não devemos capitular; antes, este é o tempo da provocação à esperança, esperança que se faz compromisso de dar novo ardor a quantos correm o risco de se afogar num mar tempestuoso. Mas, para esperar, é indispensável voltar à fonte, recomeçar das “certezas” da vida, redescobrir a novidade antiga e sempre atual que habita no coração do homem, de cada pessoa humana. Este é o tempo no qual se deve desatar a esperança, se deve conscientemente ter a ousadia de quem está disposto a apostar tudo para não se perder a si mesmo. E cabe a toda e qualquer pessoa que sinta dentro de si este desejo lutar para construir uma nova humanidade «antes que o fio de prata se rompa e a taça de ouro se parta, antes que a bilha se quebre na fonte e a roldana rebente no poço» (Ecl 12,6).

Quem pega neste livro de Stefano Tardani, com o título cativante Filhos... de quem? O futuro que nos espera, mergulha nas interrogações e nas dificuldades do nosso tempo, e deve deixar-se interpelar sobre as razões mais profundas e radicais do revés humanitário que muitos se veem, amargamente, constrangidos a constatar. A humanidade anda à deriva, lembrando uma nave arrastada pelas ondas no oceano da história, sem leme firme nem um timoneiro experiente.

A nossa geração – mas também a que nos precedeu –, passo a passo, de forma consciente e frequentemente com inconsciência, foi recusando o abraço com Deus, com a pretensão de criar uma fraternidade humana sem Ele. Mas a recusa de Deus, a crise da autoridade, a rejeição ideológica das regras em todas as suas formas produziram uma geração de filhos errantes, assustados e desorientados como “ovelhas sem pastor”. No entanto, nem tudo está perdido; antes, a crise que estamos a atravessar constitui uma oportunidade útil e providencial para recomeçar do princípio, para renascer e construir novas perspetivas de vida e de progresso. Sem Deus, o homem perde-se; com Ele, nada é impossível. Justamente observa Stefano Tardani: «É precisamente na relação sincera com Deus que crescem o sentido do bem e o sentido verdadeiro da vida.»

Nas páginas deste livro, que o leitor atento examinará com a paixão e a curiosidade de quem se deixa cativar pelo enredo de um romance, o autor traça um percurso humano e espiritual que entra no “eu” para ser capaz de se abrir a todo o “tu” com quem é chamado a relacionar-se constantemente. À medida que for avançando no texto, o leitor sentirá um convite e um estímulo a assumir as próprias responsabilidades, juntamente com todas as pessoas de boa vontade, na construção de uma sociedade, onde se tenha como horizonte de ação o bem comum e a felicidade de todos. Na verdade, a construção do “nós” da família e da sociedade pressupõe consciência e desejo de bem que possamos descobrir.

Como? Qual é o segredo? Para viver plenamente a própria existência, não se pode excluir Deus; antes, é necessário manter um contacto constante com Ele. Precisamos de aprender a rezar. Como é atual a oração! «É precisamente na oração» – observa Stefano Tardani – «que cresce o nosso amor a Deus e à humanidade.» Jesus ensinou os Apóstolos a rezar; rezou com eles. Na oração por excelência – o Pai Nosso –, ensinou-lhes a chamar Deus com o nome de Pai. Nesta oração, encontramos o resumo e o modelo de qualquer outro modo de rezar. É oração que abraça a vida e modela o coração segundo a ternura filial. Por isso, o Pai Nosso torna-se escola de vida para toda a comunidade cristã. Especialmente nestes tempos, é uma oração a redescobrir e traduzir na vida.

Recolhendo o fruto de catequeses e experiências pastorais com noivos e famílias, Stefano Tardani traça, neste livro, um itinerário de formação modelado precisamente sobre o Pai Nosso. Parece-me uma opção singularmente eficaz. Repassando estas páginas, vemos entrelaçar-se doutrina e experiência, Palavra de Deus e pesquisa humana, doutrina perene da Igreja (nomeadamente o magistério dos últimos Papas depois do Concílio Vaticano II, e de forma muito especial João Paulo II e Bento XVI) e resultados da ciência que investiga os segredos do íntimo humano. Cada petição do Pai Nosso constitui um maior aprofundamento da descoberta de si mesmo – o conhecimento do “eu” –, à procura da verdade do bem. Aquilo que foi experimentado durante anos de sério trabalho pastoral no âmbito do Movimento do Amor Familiar, Stefano Tardani apresenta-o aqui de forma sistemática, colocando-o à disposição de todos.

Trata-se de um caminho útil para todos, mas especialmente recomendado às famílias, células vitais da sociedade e que formam o articulado corpo místico da Igreja. Um itinerário formativo, sim; mas também uma verdadeira proposta de santidade para todos. Aquele que porventura se declare não-crente ou se considere alheio à prática da fé, sentir-se-á contemplado também no projeto de vida que este livro apresenta. Na verdade, redescobrir as raízes cristãs da nossa sociedade é útil para quantos fazem parte de um mundo que foi moldado ao longo de dois milénios pelo rico património cultural e espiritual do Evangelho.

Nenhuma árvore pode sobreviver nem produzir frutos separada das suas raízes. Na ideia do autor, a oração do Pai Nosso ajuda a voltar às nossas raízes e, por isso mesmo, torna-nos capazes de construir o futuro com esperança.

Por isso, sinceramente recomendo este livro aos sacerdotes e educadores, aos pais e professores, bem como aos jovens à procura de um sentido verdadeiro para a sua existência. Nos seus dezassete capítulos, aparece-nos a verdade do Evangelho, iluminada pelo magistério da Igreja e o testemunho dos santos e proposta segundo um método de pesquisa antropológica que reúne o fruto de muito estudo e experiência. Pressente-se nestas páginas algo de muito interessante para a nova evangelização, à qual todos somos chamados. (...) 

Desde a introdução, Stefano Tardani deixa clara a perspetiva em que se move: «Quando cresce a confusão, é verdadeiramente necessário retomar a luz da sabedoria do Evangelho: a oração do Pai Nosso, conhecida também como “a oração do Senhor”, é de certo modo a sua síntese. Damo-nos conta então de que as suas palavras encerram, realmente, o programa da nossa existência e sobrevivência: a sabedoria e a beleza quer do ser humano, quer da família, quer do modo de viver na sociedade.» Em suma, é preciso voltar a Deus e falar com Ele, e não como a um artesão distante e omnipotente dos nossos destinos, mas como a um Pai carinhoso e cheio de amor. Deus é Pai, o Pai Nosso.
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11.11.13

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